A Junta Militar que governa Mianmar (antiga Birmânia) condenou Aung San Suu Kyi a dois anos de prisão por incitar a desordem pública e violar as restrições anticovid. É a primeira sentença de vários processos que ameaçam a líder deposta e Nobel da Paz a passar décadas na prisão. A comunidade internacional reagiu com preocupação. Suu Kyi foi inicialmente condenada a dois anos por incitar a desordem pública contra o Exército e outros dois por violar uma lei sobre desastres naturais relacionados à pandemia, disse o porta-voz da junta, Zaw Min Tun, à agência France-Presse (AFP) por telefone.
O ex-presidente Win Myint também foi inicialmente sentenciado a quatro anos de cadeia pelas mesmas acusações. No entanto, logo depois, o chefe da Junta, Min Aung Hlaing, reduziu as penas a "dois anos de prisão", segundo um comunicado lido na televisão estatal. A vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 1991, de 76 anos, está detida desde que os militares derrubaram o seu governo em 1º de fevereiro passado, o que acabou com um breve período de democracia em Mianmar. Desde então, a junta apresentou uma série de acusações contra Suu Kyi, incluindo violação da lei de segredos oficiais, corrupção e fraude eleitoral.
"Exigimos que o regime liberte Aung San Suu Kyi e todos os outros detidos injustamente, incluindo autoridades eleitas democraticamente", afirmou o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, em um comunicado. O chefe da diplomacia de Washington classificou a sentença como "uma afronta à democracia e à justiça".
A ex-presidente chilena Michelle Bachelet, alta comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, denunciou "um julgamento manipulado". Por sua vez, Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia (UE), advertiu contra "um novo passo para o desmantelamento do Estado de Direito". O comitê que concede o Prêmio Nobel da Paz declarou-se "preocupado" com Suu Kyi após um julgamento "inverossímil".
Se condenada por todas as acusçaões, Suu Kyi poderá passar décadas na prisão. A próxima sentença está prevista para 14 de dezembro, pela suposta violação de uma lei sobre catástrofes naturais. Desde o golpe de fevereiro, mais de 1.300 pessoas morreram, e pelo menos 10 mil foram detidas na repressão contra os opositores, revelou uma organização não governamental birmanesa.
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