NICARÁGUA

Sob pressão, Daniel Ortega é empossado na Nicarágua

Em meio a novas retaliações dos EUA e da União Europeia, que contestam reeleição, o ex-guerrilheiro inicia o quarto mandato consecutivo, tendo a primeira-dama como vice

Correio Braziliense
postado em 11/01/2022 06:00
 (crédito: Maynor Valenzuela/AFP)
(crédito: Maynor Valenzuela/AFP)

Com a reeleição contestada por grande parte da comunidade internacional, o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, assumiu, ontem, o quarto mandato consecutivo ao lado da primeira-dama Rosario Murillo, sua vice. Horas antes de o casal prestar juramento numa cerimônia na Plaza de la Revolución, no antigo centro de Manágua, novas sanções foram aplicadas por Estados Unidos e União Europeia, que consideram a recondução de Ortega ao cargo ilegítima. Aos 76 anos, o ex-guerrilheiro sandinista conta com o apoio da China e da Rússia.

As novas ofensivas americanas e europeias atingem, além de familiares de Ortega, amigos próximos, funcionários e algumas entidades como a Polícia e o Ministério Público, por corrupção e violação de direitos humanos. Integram a lista Camila Ortega Murillo e Laureano Ortega Murillo, filhos do casal presidencial e que atuam como assessores. Camila também é diretora do canal de televisão Canal 13.

Whashington e Bruxelas consideram que as eleições de 7 de novembro, com os principais adversários políticos do presidente presos ou no exílio, não foram democráticas. Em comunicado, o Conselho Europeu informou que os sancionados “são responsáveis por graves violações dos direitos humanos, incluindo a repressão da sociedade civil, o apoio a eleições presidenciais e parlamentares fraudulentas, e o enfraquecimento da democracia e do Estado de Direito”.

“O presidente Ortega vai assumir hoje (ontem) para um novo mandato presidencial, mas as eleições pré-determinadas que ele forjou não lhe conferem um novo mandato democrático. Apenas eleições livres e justas podem fazê-lo”, ressaltou o secretário de Estado da EUA, Antony Blinken.

Vários países latino-americanos, por meio da Organização dos Estados Americanos (OEA), também ignoraram a legitimidade das eleições e exigiram a libertação dos opositores presos. Na votação de 7 de novembro passado, Ortega obteve quase 75% dos votos, segundo os dados oficiais.

As ações da comunidade internacional foram descritas pelo governante sandinista como agressões contra seu país. Ele também acusou os Estados Unidos e a UE de “ingerência e desrespeito à soberania” e pediu, ainda em novembro, o início do processo de retirada do país da OEA.

Desafios

Para o analista Manuel Orozco, membro do Diálogo Interamericano, Ortega e Murillo inauguram o mandato “não sem desafios” devido à pressão internacional, descontentamento dos cidadãos, uma situação socioeconômica gravemente deteriorada e forte dissensão entre sua base governamental e a elite sandinista. Ortega, segundo Orozco, tenta equilibrar esses desafios aproximando-se da Rússia e da China, mas sem fazer mudanças políticas internas, preservando o aparato repressivo e mantendo os presos políticos como um cartão de transação.

Nesse contexto, o ex-guerrilheiro retomou as relações diplomáticas com a China em 9 de dezembro, após desfazer os laços que o país mantinha por mais de 30 anos com Taiwan e reconhecer o princípio de “uma China”. O restabelecimento das relações com Pequim foi acompanhado de uma doação de milhares de vacinas e três semanas depois o país asiático abriu a sua embaixada em Manágua.

Também estreitou seus laços com Moscou, que lhe proporcionou ampla cooperação, desde trigo, vacinas anticovid, ônibus para renovar o transporte coletivo até uma estação de satélite.

Para a cerimônia de posse foi confirmada a presença de delegados da Rússia, Irã, Coreia do Norte, Síria, Cuba, Venezuela, Honduras, Belize, Vietnã, Laos, Camboja, Angola, Turquia, Belarus, Turquia, Egito, Malásia e Iêmen. Na lista de convidados, vários chanceleres, incluindo os da Bolívia, México, Palestina e República Árabe Sarauí Democrática.

O presidente chinês, Xi Jinping, nomeou Cao Jianming, vice-presidente do Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo, como enviado especial. O primeiro chefe de Estado a desembarcar em Manágua foi o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel. Além dele, compareceu apenas Nicolás Maduro, da Venezuela.

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