A Rússia invadiu a Ucrânia na madrugada de ontem, em uma ofensiva com bombardeios aéreos e incursões terrestres que, em poucas horas, se aproximaram da capital, Kiev, e tomaram a usina nuclear de Chernobyl, deixando pelo menos 137 cidadãos ucranianos mortos e mais de 400 alvos atingidos, segundo informou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, à noite.
Com "superioridade aérea absoluta", segundo fontes militares ocidentais, o exército russo disparou mais de 160 mísseis. A intenção é "decapitar o governo" e substituí-lo por um pró-Rússia, segundo as mesmas fontes, que estimam a chegada das tropas a Kiev a partir de hoje. No início da manhã, houve ataques à capital.
A ofensiva gerou uma enxurrada de condenações: a União Europeia (UE) se prepara para anunciar novas sanções contra a Rússia, e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) planeja uma reunião por videoconferência ainda nesta sexta-feira (25/2).
O presidente Vladimir Putin, que enviou nas últimas semanas mais de 150 mil soldados à fronteira com a Ucrânia, cruzou um ponto sem retorno. "Tomei a decisão de uma operação militar", declarou o líder russo em discurso televisionado para todo o país. Depois ameaçou: "Quem tentar interferir ou criar ameaças para nosso país e nosso povo deve saber que a resposta da Rússia será imediata e levará a consequências como nunca antes experimentadas na história".
O anúncio da invasão provocou condenação imediata do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e de líderes europeus, e afetou os mercados financeiros internacionais.
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Explosões
Putin, que exige que a Otan impeça o acesso da Ucrânia ao bloco de defesa ocidental, garantiu que não busca a "ocupação" da ex-república soviética, mas "uma desmilitarização e desnazificação" do país e a defesa dos rebeldes pró-russos nas áreas conflagradas. Pouco depois, começaram a ser ouvidas explosões em várias cidades ucranianas, da capital, Kiev, a Kharkiv, a segunda maior cidade do país, na fronteira com a Rússia, mas, também, em Odessa e Mariupol, às margens do Mar Negro.
O exército russo afirmou que destruiu 74 instalações militares, incluindo 11 aeródromos, e que os separatistas no Leste da Ucrânia estão avançando e assumindo o controle dos territórios. À tarde, Putin sustentou que o ataque foi "uma medida forçada, já que não nos deixaram outra forma de proceder".
O exército ucraniano alegou ter matado 50 russos e derrubado cinco aviões e um helicóptero no Leste do país. "Nos deixaram sozinhos para defender nosso Estado", declarou o presidente Zelensky, em um vídeo publicado em uma rede social. "Quem está disposto a lutar conosco? Não vejo ninguém. Quem está disposto a dar à Ucrânia uma garantia de adesão à Otan? Todos estão com medo", lamentou.
Batalha em Chernobyl
Também houve incursões terrestres do Sul na península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014. Com o passar das horas, as forças russas se aproximaram de Kiev, que está sob toque de recolher imposto pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Ele disse que suas forças estavam tentando retomar um aeroporto militar perto de Kiev, onde "paraquedistas inimigos foram detidos".
O governo ucraniano também anunciou que as tropas russas invadiram a usina nuclear de Chernobyl, a 100 km de Kiev, em uma batlha "feroz" perto do depósito de resíduos da planta que explodiu em 1986, quando a Ucrânia ainda fazia parte da União Soviética. O conselheiro-chefe do gabinete de Zelensky, Mikhailo Podoliak, disse que "depois desse ataque absolutamente sem sentido dos russos, não é possível dizer que a usina nuclear está a salvo".
Chernobyl sofreu o pior acidente nuclear da história, em 26 de abril de 1986, quando a Ucrânia integrava a União Soviética. Um dos reatores explodiu e contaminou três quartos da Europa, especialmente Ucrânia, Rússia e Belarus. 350 mil pessoas tiveram que ser evacuadas.
A Rússia garantiu que os civis da Ucrânia "não têm nada a temer", mas, em Kiev, centenas de pessoas correram para estações de metrô em busca de refúgio ou tentaram deixar a cidade. No meio da noite, o trânsito da capital parecia o da hora do rush. Veículos cheios de famílias deixavam a cidade, rumo ao Oeste, o mais longe possível da fronteira russa, localizada a 400 km de distância. Nas ruas de Moscou, habitantes manifestavam sua preocupação, e outros, apoio a Putin. "Não vou criticar uma ordem do comandante supremo. Se ele acha que isso é necessário, deve ser feito", disse Ivan, um engenheiro de 32 anos. Mas houve também protestos em solo russo contra a guerra, contra Putin e a favor da Ucrânia em Moscou e São Petesburgo, reprimidos pela polícia russa. Agências de notícias e ONGs apontam que cerca de 1,4 mil pessoas foram presas nesses protestos.
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