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Guerra na Ucrânia: os russos apoiam a invasão?

Cerca de 52% das postagens sobre o assunto na internet russa são pró-guerra, enquanto 30% são antiguerra

BBC Rússia x Ucrânia
postado em 24/03/2022 12:51
 (crédito: Getty Images/BBC)
(crédito: Getty Images/BBC)

Pesquisas de opinião oficiais e sociólogos independentes mostram que a maioria dos russos apoia a guerra na Ucrânia. Até que ponto podemos confiar em suas pesquisas?

71% dos russos apoiam a "operação militar especial" na Ucrânia. 21% não apoiam e 8% não sabem. Isso é de acordo com uma pesquisa realizada em 5 de março pelo Centro Russo de Pesquisa de Opinião Pública VSIOM. 70% dos entrevistados disseram acreditar que a operação está transcorrendo bem para o exército russo.

O Fundo de Opinião Pública FOM (que realiza principalmente pesquisas encomendadas pela presidência russa) traça um quadro semelhante. Seus resultados mostram que 65% dos russos aprovam a operação militar na Ucrânia, 17% desaprovam e 18% não sabem.

Pesquisa independente do ativista da oposição russa Alexei Minyailo chamada "Os russos querem a guerra?" mostrou resultados inquietantes para aqueles que são contra a guerra: 51% dos entrevistados disseram "sim", enquanto apenas 27% disseram "não".

Uma conclusão da pesquisa é que a maioria daqueles dos que apoiam a guerra confia na mídia estatal (73%), enquanto 85% daqueles que são contra a guerra não confiam.

A maioria dos que protestam ativamente contra a invasão da Ucrânia são jovens, com menos de 30 anos. Eles ainda podem ser convocados ou terminaram recentemente o serviço militar.

Percentual de russos que se opõem à guerra na Ucrânia

Um gráfico mostrando o apoio à guerra por idade
www.dorussianswantwar.com
Reprodução: a pesquisa "Os russos querem guerra?" mostra que os mais jovens são muito mais propensos a se opor à guerra do que os mais velhos

Um estudo de redes sociais produziu uma imagem diferente das pesquisas feitas por telefone.

Cerca de 52% das postagens sobre o assunto na internet russa são pró-guerra, enquanto 30% são antiguerra.

Independentemente de serem pró ou anti, 30% dos russos expressam simpatia pelos ucranianos. A pesquisa diz que é a emoção mais comum detectada em todas as pesquisas.

Censura em ação

A TV ucraniana e os sites de notícias estão cheios de imagens horríveis de guerra: blocos habitacionais bombardeados em ruínas, civis mortos e feridos, muitos equipamentos militares russos queimados e destruídos. Dezenas de vídeos de soldados e oficiais russos capturados, sangue e cadáveres inundam as páginas oficiais da mídia social ucraniana.

Mas se você assistir à TV russa, não verá reportagens sobre as falhas e perdas do exército russo.

Uma semana depois que as tropas russas entraram na Ucrânia, o governo aprovou uma lei para punir a distribuição de relatórios não confiáveis sobre o exército russo. A divulgação de qualquer relatório que o governo considere não confiável agora é punível com 15 anos de prisão.

Os meios de comunicação russos estão proibidos de chamar a invasão da Ucrânia de guerra e foram instruídos a manter o termo "operação especial".

Aqueles que não atenderam às exigências da censura foram fechados. Quase todos os meios de comunicação independentes foram bloqueados na primeira semana da guerra.

Antes do início do conflito, quase todos os meios de comunicação russos que se opunham ao Kremlin e expressavam opiniões independentes eram classificados como "agentes estrangeiros".

Alexei Bessudnov, professor de Sociologia da Universidade de Exeter, diz que é preciso observar atentamente o uso das palavras.

"O percentual que apoia e o percentual que se opõe depende muito de como você faz a pergunta", afirma Bessudnov.

O que cada um apoia exatamente? Cada um fez a pergunta de forma diferente.

O VCIOM perguntou: você apoia a decisão da Rússia de realizar uma operação militar especial na Ucrânia?

Parece ser uma pergunta neutra, mas não é exatamente. Se a pergunta for: "Você apoia a decisão", obterá uma resposta diferente da pergunta: "O que você acha da operação militar especial?"

"Então, se você perguntar sobre a operação militar especial, essa é uma pergunta. Mas se você perguntar sobre a invasão da Ucrânia ou a guerra na Ucrânia, essa é uma pergunta completamente diferente. Muito depende de como você formula a pergunta", afirma o professor de Exeter.

Também é preciso levar em conta que muitos não se sentem à vontade para falar abertamente. Imagine que um estranho liga para você e pede sua opinião sobre a ação militar na Ucrânia. A maioria das pessoas seria cautelosa ao dar uma resposta franca.

E muitos ainda não decidiram o que realmente pensam. Eles formulam sua opinião durante a entrevista, influenciados pelo entrevistador, dependendo de como ele fala e para onde conduzem a conversa. A opinião de uma pessoa pode ser contraditória sobre o que ela apoia, o que ela não apoia.

"O que podemos dizer definitivamente sobre essas pesquisas é que 50% a 70% dos russos provavelmente estão inclinados a apoiar as decisões do governo. Isso é muito? Sim, definitivamente muito. Mas se 50-70% os apoiam, então 30-50% são contra ou pelo menos não sabem."

"Há também grandes diferenças entre os grupos socioeconômicos e as maiores diferenças são entre as faixas etárias. A maioria das pessoas com menos de 30 anos na Rússia não apoia a operação militar especial. E isso é particularmente perceptível nas grandes cidades, particularmente em São Petersburgo. Enquanto nove em cada 10 pessoas em idade de aposentadoria irão apoiá-lo."

Equipes de resgate trabalham em edifícios danificados por bombardeios, enquanto a invasão russa da Ucrânia continua, em Mykolaiv, Ucrânia, nesta foto divulgada em 23 de março de 2022
Reuters
Os meios de comunicação russos estão proibidos de chamar a invasão da Ucrânia de guerra

"Depende muito de onde você obtém suas informações. A maioria dos russos idosos recebe as notícias pela TV. Eles assistem todos os dias e ouvem a narrativa constantemente sobre a luta contra os nazistas e todas as outras propagandas que o estado está produzindo 24 horas por dia, 7 dias por semana."

"Os jovens assistem TV com muito menos frequência e usam a internet, então seu ambiente de informação é totalmente diferente."

"Há também uma diferença entre homens e mulheres. As mulheres de meia idade, em particular, são menos inclinadas a apoiar a guerra. Há uma diferença, embora não tão grande, entre as pessoas que foram para a universidade e as que não foram. Particularmente nas cidades, os que cursaram faculdade são menos propensos a apoiar a invasão."

"Portanto, não há uma vontade unificada ou um acordo geral, mas há uma minoria crítica muito significativa. O quão significativo é depende muito do que você pergunta e espero que esse número mude."

"É bom que eles estejam realizando pesquisas e publicando os resultados, mas precisamos abordá-los com um olhar crítico e observar atentamente a forma como as perguntas são feitas. Vemos duas pesquisas financiadas pelo estado e duas independentes. As independentes apresentam um nível de apoio mais baixo, mas a diferença não é tão significativa."

"Medir opiniões é um ofício, e FOM e VCIOM são veteranos e fazem isso profissionalmente. Mas eles receberam uma tarefa. Eles não falsificam nada, mas acho que são limitados por estarem tão próximos do governo. Acho que eles não publicam todas as informações que coletam."

"É importante conhecer esses números, mas não devemos acreditar neles cegamente, precisamos entender o que está por trás deles. As opiniões divergem e tentamos capturá-las. Muitas vezes, as opiniões são formulados no processo da pesquisa. As pesquisas têm o direito de existir. Seria muito pior sem elas."


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