América Latina

Pesquisa indica o maior apego pela democracia por latino-americanos

Estudo publicado pela organização Latinobarómetro mostra que a população do subcontinente rejeita os modelos e os valores da Rússia e da China. Violência urbana e crime organizado são as maiores preocupações

Deborah Hana Cardoso
postado em 29/03/2022 06:00
 (crédito: Luis Acosta/AFP)
(crédito: Luis Acosta/AFP)

A pesquisa O que se pensa na América Latina sobre a União Europeia?, publicada pelo Latinobarómetro, a  pedido da Fundação Friedrich Ebert Stiftung e da revista Nueva Sociedad/Grupo Dialogo y Paz mostrou  que os valores ocidentais são mais apreciados pela sociedade latino-americana. A conclusão é de que Rússia e China têm seus modelos e valores rejeitados pela maioria. As duas potências têm, respectivamente, 17% e 19% de imagem positiva, contra 47% dos Estados Unidos e 43% da Alemanha. A pesquisa consultou cidadãos de 10 países e constatou que os latino-americanos observam aspectos como democracia, modelo de desenvolvimento e influência econômica.

A agenda global sofreu uma guinada provocada pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Apesar de a ameaça nuclear ser uma preocupação europeia, a violência urbana e o crime organizado são as principais causas de inquietação entre os latino-americanos. "Não existe uma preocupação com a guerra ou ameaça nuclear, mas com a violência e segurança. Temos problemas de violência, não problemas de conflito entre países", disse ao Correio Monica Hirst, professora de relações internacionais das universidades de Quilmes e Di Tella (Argentina) e professora visitante da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Com um passado marcado por ditaduras no século 20, a América Latina considera que o sistema político russo não é uma democracia — no México e na América Central, 22% não veem a Rússia como uma democracia; 26% na América do Sul; 27% na região Andina; e 24% no Cone Sul. Por faixa etária, 15% dos entrevistados entre 18 e 19 anos disseram que a Rússia não é uma democracia, enquanto 20% a consideram como tal. Dos 30 aos 44 anos, 22% afirmam que o país não é uma democracia, enquanto 34% dos 45 aos 59 anos afirmam o mesmo. A maior parcela dos que não consideram a Rússia uma nação democrática está acima dos 60 anos (46%) — apenas 8% a veem como democrática.

"A democracia na América Latina é importante. O Cone Sul aponta para uma preocupação com a questão dos militares do poder", explicou Hirst. "Existe uma tendência, na América Latina, pelos valores ocidentais, pelos direitos humanos, pela defesa do meio ambiente", disse. "Guatemala e Bolívia são marcadas por suas próprias culturas, sociedades menos moldadas por visões de mundo ocidentais."

A América Latina considera que a China possui grande influência sobre a região (25%) — impressão abastecida pela presença no mercado de exportação de commodities. Entretanto, ao olhar para os Estados Unidos, o percentual aumenta para 56%, devido à presença comercial, tecnológica e cultural. Alemanha e Rússia ficam, respectivamente, com 1% e 4%.

No Brasil, 44% avaliam os EUA como o país que exerce influência, contra 37% da China. O único país que considera a Rússia com alto grau de importância é a Venezuela (22% dos entrevistados). Os venezuelanos destacaram o vínculo com o mercado de energia — ambos os países são exportadores de petróleo e membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (OPEP ).

Quando avaliado o modelo de desenvolvimento, os EUA ainda são vistos como um país a ser seguido por 44% dos países entrevistados na amostragem. Argentina e Uruguai, diferente da maioria, têm a Alemanha como um modelo desenvolvimentista a ser seguido. Guatemala talvez seja o país da América Latina mais adepto aos moldes chineses e russos, conforme a opinião pública. 

A pesquisa apontou que, entre os problemas globais para a América Latina, o que mais preocupa é a pobreza (73%), seguido das mudanças climáticas (71%), violação dos direitos humanos (65%), pandemia (60%), refugiados (45%), crises democráticas (44%) e dívidas dos países (33%). A igualdade de gênero é um consenso para mais de 60% dos entrevistados.

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