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Pesquisa mostra quais são as primeiras palavras que bebês aprendem a falar

Uma pesquisa na comunidade Ticuna no Peru mostrou que o primeiro vocabulário das crianças mostra que elas estão ansiosas para compartilhar a atenção

Helena Dornelas*
postado em 07/04/2022 19:14
Depois de
Depois de "mãe" ou "pai" as próximas palavras do bebê é "isto" e "aquilo" - (crédito: Reprodução)

Em praticamente todas as culturas, as primeira palavras que os bebês costumam aprender são as que ajudam a direcionar a atenção dos seus pais e cuidadores, de acordo com um estudo mostra que isso também acontece no desenvolvimento precoce do vocabulário em uma língua indígena.

Amália Skilton, estudiosa de linguística e Klarman Fellow no College of Artes e Ciências, explica que o uso das palavras “isso” ou “aquilo” está entre as primeiras que os bebês de diferentes línguas costumam aprender, como inglês, espanhol e mandarim. A pesquisadora observou o padrão semelhante em uma comunidade Ticuna no Peru, que sugere que o forte impulso das crianças para compartilhar a atenção tem efeitos semelhantes na aprendizagem de línguas, mesmo em línguas diferentes.

"As crianças aprendem demonstrativos que chamam a atenção dos outros para objetos, como 'isto/aquilo' e 'aqui/aí, em idades extremamente jovens, quando sabem muito poucas outras palavras", disse Amalia. "'Isto' e 'aqui' aparecem tão cedo quanto as primeiras palavras estereotipadas como 'mamãe'".

Skilton escreveu uma pesquisa publicada no Journal of Child Language que funciona como uma ferramenta para os linguistas e explica o que chama a atenção de forma conjunta, nos permitindo rotular objetos com nomes, coordenar nossas ações e cooperações. "Compartilhar a atenção é a estrutura para o resto da linguagem e interação social"

O inglês tem apenas dois termos demonstrativos, “this” e “that”, mas alguns idiomas têm até uma dúzia, o Ticuna, falado por cerca de 69 mil indígenas que vivem ao longo do rio Amazonas e Solimões no Peru, Colômbia e Brasil, apresenta seis demonstrativos, sendo quatro estudados por causa de seu uso mais comum.

Durante mais de um ano em Cushillococha, Peru, uma comunidade de cerca de 5.000 pessoas que dependem da agricultura de subsistência, Skilton registrou crianças de 1 a 4 anos brincando e interagindo com os parentes em suas casas. Ela analisou o desenvolvimento da linguagem Ticuna capturada em quase 15 horas de amostras de vídeo.

A pesquisadora constatou que 12 das 14 crianças de 1 ano de idade observadas no estudo disseram "isto/ aquilo" ou "aqui/ ali", demonstrando o impulso universal para compartilhar a atenção. A pesquisa constatou que os pais podem esperar que as crianças com cerca de 12 a 18 meses de idade comecem a usar essas palavras "não importa o idioma que falem".

Mas o tipo de termos utilizados mostra que, embora as crianças estejam ansiosas para compartilhar a atenção, elas têm dificuldade de entender as perspectivas dos outros. As crianças Ticuna aprenderam demonstrativos "egocêntricos". De acordo com a pesquisadora, as crianças usaram essas palavras egocêntricas com mais frequência do que os adultos, representando até 15% de todas as palavras faladas.

Skilton disse que sua pesquisa acrescenta a descoberta de que as crianças pequenas também têm dificuldade em entender como as outras pessoas vêem os objetos no espaço. Ela acredita que isso é uma função do desenvolvimento cognitivo, não do aprendizado de qualquer língua em particular.

Assim, Amália explica que pais e outros cuidadores não devem necessariamente se preocupar se crianças menores de 3 anos usam palavras interativas de forma incorreta. "Enquanto os adultos pensam nessas palavras como simples, seus significados são bastante desafiadores para que as crianças entendam em idades jovens, e ter problemas com elas é uma parte típica do desenvolvimento infantil".

Skilton planeja voltar ao Peru para continuar sua pesquisa que compreende o primeiro estudo abrangente do desenvolvimento da atenção conjunta em um ambiente não-ocidental, mudando seu foco para o uso de gestos apontadores.

*Estagiária sob supervisão de Pedro Grigori

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