Estados Unidos

Polícia admite erro na resposta ao massacre em escola do Texas

Diretor do Departamento de Segurança Pública do Texas reconhece que agentes demoraram a invadir escola primária em Uvalde, enquanto atirador matava 19 crianças e duas professoras

Rodrigo Craveiro
postado em 28/05/2022 06:00
 (crédito: Chandan Khanna/AFP)
(crédito: Chandan Khanna/AFP)

Salvador Ramos, 18 anos, descarregava o fuzil AR-15 e a pistola em estudantes entre 10 e 11 anos, enquanto algumas crianças ligavam de forma frenética para o 911, o número de telefone de emergência da polícia dos Estados Unidos. O inferno dentro da Escola Primária Robb, em Uvalde, cidade de 16 mil habitantes situada no oeste do Texas, durou eternos 78 minutos, sem que houvesse a intervenção das forças de segurança.

Ramos teve tempo de sobra para disparar mais de 100 vezes e executar 19 crianças e duas professoras. Em meio a fortes críticas da ação policial, Steve McCraw — diretor do Departamento de Segurança Pública do Texas — fez um meal-culpa em relação à demora dos agentes em invadirem a escola. "Do benefício da retrospectiva... foi a decisão errada, ponto final", afirmou.

"Pelo que sabemos, achamos que deveriam ter entrado o mais rápido possível." McCraw declarou, ontem, que se enganou ao elogiar a polícia e se disse "furioso" com a resposta dos agentes.

Hugo Cervantes, 35 anos, vizinho da escola primária Robb e um dos moradores que gravaram a reação de pais durante o massacre, admitiu ao Correio que os policiais demoraram muito para entrar no prédio. "Nós falávamos a eles para que invadissem o local, mas não o fizeram. A polícia de Uvalde tem muita culpa em tudo isso. Ela não atuou como deveria", lamentou.

Para Hugo, as forças de segurança que se deslocaram até a escola pecaram pela omissão. "Foram covardes. Não entraram porque tinham apenas uma pistola, enquanto o assassino portava  uma arma de grosso calibre. Os policiais aguardaram as tropas especiais. Mas, antes que elas chegassem, um oficial da Patrulha Fronteiriça ingressou lá e matou o atirador."

Nos vídeos gravados por Hugo, pais e mães dos estudantes da Escola Primária Robb se desesperavam ante a inação dos policiais, enquanto escutavam os tiros, do lado de fora do prédio.

Em Houston, a 446km de Uvalde, o ex-presidente norte-americano Donald Trump discursou na convenção anual da Associação Nacional de Rifles (NRA), o poderoso lobby pró-armas. O magnata republicano afirmou que "a existência do mal é uma das melhores razões para armar os cidadãos cumpridores da lei". Ele aproveitou para atacar o democrata Joe Biden, atual inquilino da Casa Branca.

"Se os Estados Unidos têm US$ 40 bilhões para enviar à Ucrânia, devemos ser capazes de fazer o que for preciso para manter nossos filhos seguros em casa", disse. A NRA também anunciou que vai "refletir" sobre a tragédia em Uvalde.

Em entrevista ao Correio, Tom Mauser — pai de Daniel Mauser, 15 anos, morto no massacre da Escola Secundária de Columbine, 23 anos atrás — criticou a entidade.

"A NRA só diz isso porque está sendo forçada a fazê-lo. Vários artistas e funcionários públicos estão boicotando a convenção, em Houston", explicou. Mauser (leia Depoimento) concorda que a polícia de Uvalde foi morosa na contenção ao atirador. "Um autoridade de segurança pública do Texas (Steve McCraw) confirmou isso. Foi muito parecido com o que aconteceu em Columbine. O que os policiais estavam esperando para agir?", questionou.

Em 20 de abril de 1999, os estudantes Eric Harris e Dylan Klebold invadiram a escola de Columbine, detonaram explosivos e disparam contra os colegas, matando 12 alunos e um professor e ferindo 21 pessoas.

"O que esperam para agir?" — Tom Mauser

"Não existem respostas fáceis para os tiroteios em massa que assolam os Estados Unidos. Mas, para começar, creio na necessidade de aumentar a idade de 18 para 21 anos para a compra de armas de assalto de estilo militar. Depois, banir os carregadores de alta capacidade. É preciso regular esses tipos de armas como temos feito com os armamentos totalmente automáticos, e impedir qualquer comércio. Também considero importante fornecer financiamento para colocar policiais como guardas em escolas. Os estados norte-americanos devem se encorajar a criar números telefônicos de denúncia — a iniciativa foi tomada pelo Colorado, onde jovens podem denunciar pessoas que parecer ser uma ameaça, com base em seu comportamento. Muito pouco tem sido feito, em âmbito federal, desde o massacre em Columbine, para prevenir essas tragédias. O que vocês, autoridades, estão esperando? Quantas mais tragédias ainda teremos? Qual é o número que vocês esperam para agirem?"

Morador de Littleton (Colorado), pai de Daniel Mauser, 15 anos, um dos 13 mortos no massacre na Escola Secundária de Columbine, em 20 de abril de 1999

 

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