ESPÉCIES AMEAÇADAS

Cúpula no Panamá debate medidas para salvar tartarugas e sapos transparentes

19ª Conferência das Partes (COP19) da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES) é composta por delegados de mais de 180 países e especialistas em conservação

Agence France-Presse
postado em 21/11/2022 18:56 / atualizado em 21/11/2022 18:56
 (crédito: ERNESTO BENAVIDES / AFP)
(crédito: ERNESTO BENAVIDES / AFP)

A cúpula no Panamá sobre comércio internacional de espécies ameaçadas abriu nesta segunda-feira (21) sua última semana de debates, na qual deve decidir se protege tartarugas de água doce e sapos transparentes.

Esta 19ª Conferência das Partes (COP19) da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES), com delegados de mais de 180 países e especialistas em conservação, decidiu nesta jornada manter a proibição do comércio de chifres de rinocerontes brancos do sul.

Além disso, o Comitê I da COP19 aprovou por consenso passar da proibição total de comércio (Anexo I) ao comércio regulado (Anexo II) para o ganso-canadense (Branta canadensis leucopareia), uma ave silvestre própria das regiões árticas, como solicitavam os Estados Unidos.

"Esta é uma história positiva de recuperação de uma espécie", destacou o presidente do Comitê I, o britânico Vincent Fleming.

Nas jornadas seguintes, a conferência que começou no dia 14 e terminará na próxima sexta-feira, debaterá medidas para salvar 12 tipos de tartarugas e os sapos transparentes.

"As tartarugas de água doce estão entre os principais grupos traficados nos países e têm também alta pressão pelo comércio internacional", explicou à AFP Yovana Murillo, da ONG Wildlife Conservation Society (WCS).

Quatro países latino-americanos - Brasil, Colômbia, Costa Rica e Peru - propuseram a inclusão no Anexo II das duas variedades de matamatás, tartarugas das bacias do Amazonas (Chelus fimbriaba) e do Orinoco (Chelus orinocensis).

"As matamatás enfrentam muitas ameaças: destruição de seu hábitat, poluição, mas também a depredação, o comércio ilegal, o consumo [dos ovos e da carne] e agora está crescendo o tema [do tráfico] de animais de estimação", disse à AFP Doris Rodríguez, do Serviço Florestal e de Fauna Silvestre do Peru (Serfor).

"É um exemplar muito diferente de qualquer tartaruga, muito chamativo, então está crescendo mais a procura como animal de estimação", acrescentou.

Murillo coincidiu em afirmar que as matamatás "são tartarugas exóticas, como se fossem pré-históricas", o que as torna muito atrativas e fomenta o tráfico. As adultas medem cerca de 50 centímetros e pesam cerca de 15 quilos.

Corpo transparente 

A COP19 da CITES também deve decidir esta semana se coloca no Anexo II doze variedades de sapos transparentes que não são protegidas atualmente.

Esta proposta é copatrocinada por Argentina, Brasil, Costa Rica, El Salvador, Panamá, Peru, República Dominicana e Estados Unidos, além de outras cinco nações africanas.

Os sapos transparentes, que pertencem à família dos Centrolenídeos, são espécies noturnas que vivem em florestas das Américas Central e do Sul, que são muito chamativas por seus corpos translúcidos, que revelam seus órgãos internos.

"[Esta espécie] está sendo bastante colecionada por ser bonita, há tráfico desses sapos e alguns deles estão em perigo crítico", explicou Rodríguez.

Rinoceronte branco 

No debate do Comitê I, Essuatíni (anteriormente conhecido como Suazilândia) fundamentou nesta segunda-feira a proposta de autorizar temporariamente a venda regulamentada de chifres de rinoceronte branco (Ceratotherium simum simum), que está proibida há anos. Este pedido era copatrocinado por Botsuana e Namíbia.

O Japão e diversos países africanos apoiaram essa proposta, atendendo às dificuldades econômicas de Essuatíni, que argumentou que o seu propósito era obter recursos para a própria conservação do rinoceronte branco do sul (Ceratotherium simum simum).

Porém, União Europeia (UE), Israel, outros países africanos e Panamá se opuseram no debate. "Convidamos as partes a rechaçarem esta proposta", disse a delegada panamenha Shirley Binder.

A proposta foi rejeitada finalmente em uma votação por 85 países e apenas apoiada por 15 (e 26 abstenções), por isso o tráfico dos chifres de rinoceronte branco seguirá proibido.

Elefantes e tubarões 

Além disso, os delegados rechaçaram na sexta-feira a solicitação de permitir a retomada do comércio de marfim, uma decisão que foi recebida com louvor pelo Fundo Internacional para o Bem-estar Animal (IFAW, na sigla em inglês).

"Todo o comércio legal de marfim oferece oportunidades aos criminosos para 'esquentar' no mercado o marfim dos elefantes caçados furtivamente", indicou o vice-presidente adjunto de Conservação do IFAW, Matthew Collis.

O plenário da COP19 deve carimbar esta semana a proteção para duas famílias de tubarões, aprovada na quinta-feira pelo Comitê I.

Devido ao apoio maciço no Comitê I, é dado como certo que o plenário colocará os tubarões Carcharhinidae (família que reúne espécies como tubarão-tigre e tubarão-touro) e os tubarões-martelo, o que dará um duro golpe ao tráfico de barbatanas, um negócio lucrativo com epicentro em Hong Kong.

A CITES, que entrou em vigor em 1975, fixou regras de comércio internacional a mais de 36.000 espécies silvestres, desde a concessão de permissões até a proibição total. Seus signatários são 183 países e a União Europeia.

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