DIREITOS HUMANOS

ONU diz que serão necessários 300 anos para alcançar igualdade de gênero no mundo

Segundo o secretário-geral da ONU, considerando cenário atual, esse é o tempo que levará até uma paridade efetiva entre homens e mulheres na sociedade. António Guterres assinala que conflitos e mesmo a pandemia da covid-19 minam conquistas

Correio Braziliense
postado em 07/03/2023 06:00
 (crédito: AFP)
(crédito: AFP)

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, fez ontem, antevéspera do Dia Internacional da Mulher, um alerta preocupante. Segundo ele, numa análise do cenário mundial, serão necessários três séculos para alcançar a igualdade de gênero no mundo. "Avanços obtidos em décadas estão evaporando diante de nossos olhos", advertiu o diplomata português na abertura de uma reunião da Comissão sobre a Situação da Mulher da ONU focada na brecha tecnológica entre os gêneros.

"No ritmo atual, a ONU Mulher prevê que serão necessários 300 anos (para a paridade)", destacou Guterres, após lembrar da situação no Afeganistão, onde mulheres e meninas têm sido "apagadas da vida pública". O chefe das Nações Unidas assinalou também que os direitos reprodutivos e sexuais da mulher em muitas partes estão "em retrocesso".

Guterres indicou ainda que a pandemia de covid-19 e conflitos armados — como a invasão da Ucrânia pela Rússia e os combates na região africana do Sahel — atingiram e seguem afetando "em primeiro lugar" as pessoas do sexo feminino. Mesmo em países que não estão em guerra, observou, os riscos de sequestros e ataques, inclusive pela polícia, são especialmente mais frequentes para mulheres.

Misoginia

"O patriarcado contra-ataca, mas responderemos", afirmou Guterres, assegurando que a ONU "permanece ao lado das mulheres e meninas de todo o mundo". Ele também denunciou movimentações no mundo virtual para desqualificar mulheres. "A desinformação misógina e as mentiras nas redes sociais têm o objetivo de silenciar as mulheres e obrigá-las a sair da vida pública", opinou.

"As histórias podem ser falsas, mas o dano é muito real", apontou, ao fazer um apelo pela mudança dos "marcos internacionais, que não estão adaptados às necessidades e aspirações das mulheres e meninas". E acrescentou que há países que são "contra a inclusão da perspectiva de gênero em negociações multilaterais".

Especificamente sobre o tema da reunião, Guterres frisou que promover as contribuições da mulher na ciência, tecnologia e inovação "não é um ato de caridade ou um favor". Com seu acesso a serviços médicos on-line, bancos e recursos financeiros, plataformas digitais seguras e à tecnologia em geral, os benefícios, de acordo com ele, "são para todos".

"Sem a perspicácia e a criatividade de metade do mundo, a ciência e a tecnologia realizarão apenas metade de seu potencial", enfatizou Guterres. Ele estimou que das 3 bilhões de pessoas ainda não conectadas à internet, a maioria é de mulheres e meninas em países em desenvolvimento.

Mercado de trabalho

Além das advertências de Guterres, outro importante alerta foi dado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), segundo a qual as mulheres enfrentam muito mais dificuldades no acesso ao mercado laboral do que o imaginado. Conforme o acompanhamento realizado pela agência das Nações Unidas, a diferença de salários e condições profissionais entre homens e mulheres permaneceu quase inalterada nas últimas duas décadas.

A OIT relatou ter desenvolvido um novo indicador que mede melhor a taxa de desemprego e detecta todas as pessoas sem emprego à procura de alguma atividade trabalhista. O resultado dessa análise projeta "um panorama muito mais sombrio da situação das mulheres no mundo do trabalho do que a taxa de desemprego mais comumente usada", considera a organização.

"Os novos dados mostram que as mulheres continuam tendo muito mais dificuldades para encontrar trabalho do que os homens", aponta a agência. Segundo dados da OIT, 15% das mulheres em idade ativa no mundo gostariam de ter um emprego, mas não têm, contra 10,5% dos homens.

Em contraste, as taxas oficiais de desemprego para homens e mulheres são muito parecidas. Isso se deve, segundo a agência, ao fato de que os critérios usados para determinar se alguém deve ser considerado oficialmente desempregado tendem a excluir de forma desproporcional as mulheres.

O acesso ao mercado não é o único problema. A OIT observou que as mulheres tendem a estar super-representadas em alguns empregos vulneráveis, inclusive em negócios familiares. "Essa vulnerabilidade, junto a índices de emprego mais baixos, tem impacto sobre as rendas das mulheres." Segundo as estimativas, "a nível mundial, para cada dólar de renda do trabalho ganho pelos homens, as mulheres ganham apenas 51 centavos".

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