Guerra Israel-Hamas

Oriente Médio: EUA autorizam ataque a milícia xiita no Iraque e na Síria

Secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, anuncia que Washington aprovou planos de "resposta em vários níveis" a milícia xiita apoiada pelo Irã que matou três soldados americanos, na Jordânia. Ofensivas devem ocorrer na Síria e no Iraque

Soldados norte-americanos patrulham área na cidade de Tal Hamis, na província de Hasakeh, no nordeste da Síria        -  (crédito: Delil Souleiman/AFP)
Soldados norte-americanos patrulham área na cidade de Tal Hamis, na província de Hasakeh, no nordeste da Síria - (crédito: Delil Souleiman/AFP)

O comando militar dos Estados Unidos aprovou os planos de uma série de ataques contra alvos iranianos no Iraque e na Síria, em retaliação à morte de três soldados norte-americanos em um bombardeio à Torre 22, uma base localizada no nordeste da Jordânia. A informação foi primeiro divulgada pela emissora CBS News, que citou fontes do governo, e confirmada, durante entrevista coletiva, pelo secretário da Defesa, Lloyd Austin. "Teremos uma resposta em vários níveis e teremos a capacidade de responder várias vezes, dependendo da situação. Nós puniremos as pessoas responsáveis e buscaremos retirar a capacidade delas", declarou o chefe do Pentágono Segundo a CBS News, os ataques ocorrerão durante vários dias e terão início tão logo as condições climáticas permitam.

Austin sublinhou que os EUA não buscam uma escalada de tensão no Oriente Médio, um indicativo de que uma ação direta contra Teerã estaria fora de cogitação. "Existem maneiras de gerenciar isso para que não saia do controle, e esse tem sido nosso foco o tempo todo", assegurou o ministro. Não está claro se os planos de retaliação foram aprovados diretamente por Joe Biden, apesar de a autorização de ações militares no exterior serem um prerrogativa do presidente.

A Casa Branca confirmou, na quarta-feira (31/1), que a Resistência Islâmica no Iraque foi a responsável por lançar três drones contra bases na Síria, inclusive perto da fronteira com a Jordânia. Um dos drones teria explodido sobre o alojamento de soldados na Torre 22. Formado por uma aliança de grupos armados associados ao Irã, o movimento extremista exige a retirada das tropas norte-americanas do Iraque e rejeita o apoio a Israel em sua guerra contra o Hamas, na Faixa de Gaza. 

Fundador do Conselho Nacional Iraniano-Americano, Trita Parsi admitiu ao Correio que há muita pressão sobre Biden para que realize algum tipo de resposta militar às baixas na Torre 22. "Mas, se o presidente procura evitar a intensificiação de violência, sua resposta deve ser proporcional e contrária às milícias, combinada com um cessar-fogo em Gaza. Esta última é considerada crítica. Enquanto não houver  uma trégua em Gaza, os ataques às forças dos EUA prosseguirão", advertiu. Ele acredita que Teerã não escalará a situação, caso os EUA atinjam milícias pró-Irã no Iraque ou na Síria. No entanto, ressaltou que a redução das tensões depende da suspensão dos combates no enclave palestino. 

Por sua vez, Michael Butler — professor de ciência política da Clark University (em Worcester, Massachusetts) — afirmou à reportagem que é "indiscutível" que as milícias do chamado "eixo de resistência", envolvidas no atentado à Torre 22, são "representantes do Irã". "Nesse sentido, tecnicamente, o Irã está 'por trás' do ataque. No entanto, é importante lembrar que os atores representantes quase sempre agem de forma independente; ocasionalmente, até em desacordo com seus patrocinadores", observou. "As milícias xiitas buscam punir os EUA por seu apoio a Israel em Gaza."

Butler espera uma "escalada calibrada", a fim de infligir "custos significativos" ao Irã, sem atacar diretamente alvos militares de alto valor dentro do território iraniano. "Suspeito que os produtores de drones e as linhas de abastecimento possam estar na mira", disse. "Nesse momento, descarto um ataque direto dos EUA contra a Guarda Revolucionária Islâmica. Fazer isso significaria saltar níveis, em termos de escalada, o que pareceria fora do normal, em comparação ao modo como o governo Biden tem atuado."

Iêmen

As forças dos Estados Unidos anunciaram que derrubaram 10 drones e um míssil lançados pelos rebeldes separatistas huthis no Iêmen, atacaram uma estação de controle neste país e destruíram três drones iranianos. De tendência xiita, os huthis também receberiam apoio do Irã. Em novembro, eles iniciaram uma série de ataques contra navios comerciais no Mar Vermelho, em resposta à campanha militar na Faixa de Gaza. Os alvos seriam embarcações relacionadas de alguma forma a Israel. O Mar Vermelho é um dos mais importantes corredores comerciais do mundo. 

Por meio de nota, o Comando Central (Centcom) dos Estados Unidos informou que suas tropas atacaram, pela manhã, no Iêmen, uma "estação huthi de controle terrestre de drones e 10 drones unidirecionais, que representavam uma ameaça iminente para navios comerciais e navios da Marinha dos Estados Unidos na região".

EU ACHO...

Trita Parsi, fundador do Conselho Iraniano-Americano
Trita Parsi, fundador do Conselho Iraniano-Americano (foto: Arquivo pessoal)

"Vejo duas narrativas exageradas. A narrativa iraniana, segundo a qual Teerã não tem controle sobre as milícias e, por isso, agem de forma completamente independente. E a narrativa dos EUA, que vê as milícias nada mais como aliadas do Irã. A verdade está em algum lugar no meio delas. O Irã tem influência sobre as milícias, mas não um controle absoluto. E não está claro se o Irã tem ciência de todos os ataques promovidos pelas milícias, muito menos se dá luz verde a essas operações."

Trita Parsi, fundador do Conselho Nacional Iraniano-Americano

 

EUA sancionam colonos na Cisjordânia

Em uma ação inédita, o governo dos Estados Unidos sancionou quatro colonos judeus israelenses acusados de atos de violência contra civis palestinos na Cisjordânia ocupada. Na ordem executiva, o presidente Joe Biden escreveu que "a situação no território — em particular com altos níveis de violência extremista dos colonos, deslocamento forçado de pessoas e destruição de vilarejos e propriedades — atingiu índices intoleráveis e constitui grave ameaça à paz, à segurança e à estabilidade da Cisjordânia, de Gaza, de Israel e do Oriente Médio".

A ordem executiva estabelece o bloqueio de todas as propriedades e ativos nos Estados Unidos do grupo-alvo. Os americanos também ficam proibidos de fazer transações financeiras com essas pessoas. Entre os israelenses sancionados, estão David Chai Chasdai, da localidade de Huwara, acusado de distúrbios que provocaram a morte de um palestino; e Yinon Levi, que teria liderado um grupo de colonos que atacaram civis palestinos e beduínos, queimando suas lavouras e destruindo suas propriedades.

Palestino ostenta bandeira perto de pneus em chamas, em protesto a leste de Gaza
Palestino ostenta bandeira perto de pneus em chamas, em protesto no leste de Gaza (foto: AFP)

O governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, classificou a decisão dos EUA como "descabida". "A absoluta maioria de colonos da Judeia e Samaria (Cisjordânia) são cidadãos que respeitam a lei, e muitos combatem atualmente na defesa de Israel. Israel atua contra todos os que violam a lei em todas as partes", afirmou o gabinete. "Israel age contra todos os violadores da lei em todos os lugares. Portanto, não existe lugar para medidas drásticas sobre esse assunto." A imposição de sanções contra colonos judeus é um elemento a mais no tensionamento das relações entre Israel e EUA, aliados históricos. O presidente Biden chegou a criticar abertamente a morte de civis em bombardeios na Faixa de Gaza.

Especialista em relações EUA-Israel da Universidade Bar-Ilan (em Ramat Gan, subúrbio de Tel Aviv), Eytan Gilboa disse ao Correio que a manobra de Washington está ligada a "problemas eleitorais de Biden", não com a situação na Cisjordânia. "Israel é uma democracia, tem uma autoridade independente de aplicação da lei e um sistema judiciário que processa e pune qualquer pessoa que infrinja a lei, incluindo os colonos na Cisjordânia", afirmou. "O ex-presidente Donald Trump está derrotando Biden em todas as pesquisas, e a opinião pública está dando ao democrata uma baixa avaliação por sua performance. Biden está sob pressão dos chamados 'progressistas' e de muçulmanos do Partido Democrara para apoiar a guerra de Israel contra os terroristas do Hamas em Gaza. Nesta quinta-feira, Biden visita o estado de Michigan, onde muitos muçulmanos ameaçaram não votar nele, a menos que ele pare de apoiar Israel. As sanções desnecessárias destinam-se a reconquistá-los."

Trégua em Gaza

O Hamas deu uma "confirmação preliminar positiva" a uma proposta de trégua e de libertação de reféns em Gaza. Segundo o governo do Catar, Israel teria aprovado o plano. Apesar do aval inicial do movimento extremista palestino, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed al Ansari, alertou que "o caminho que ainda temos a percorrer é muito difícil". "Mas estamos otimistas, porque as duas partes aceitaram as premissas que levarão a uma pausa (nos combates). Esperamos estar em condições de anunciar boas notícias nas próximas duas semanas", declarou. (RC)

 

EUA sancionam colonos da Cisjordânia

Em uma ação inédita, o governo dos Estados Unidos sancionou quatro colonos judeus israelenses acusados de atos de violência contra civis palestinos na Cisjordânia ocupada. Na ordem executiva, o presidente Joe Biden escreveu que "a situação no território — em particular com altos níveis de violência extremista dos colonos, deslocamento forçado de pessoas e destruição de vilarejos e propriedades — atingiu índices intoleráveis e constitui grave ameaça à paz, à segurança e à estabilidade da Cisjordânia, de Gaza, de Israel e do Oriente Médio". 

A ordem executiva estabelece o bloqueio de todas as propriedades e ativos nos Estados Unidos do grupo-alvo. Os americanos também ficam proibidos de fazer transações financeiras com essas pessoas. Entre os israelenses sancionados, estão David Chai Chasdai, da localidade de Huwara, acusado de distúrbios que provocaram a morte de um palestino; e Yinon Levi, que teria liderado um grupo de colonos que atacaram civis palestinos e beduínos, queimando suas lavouras e destruindo suas propriedades.

O governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, classificou a decisão dos EUA como "descabida". "A absoluta maioria de colonos da Judeia e Samaria (Cisjordânia) são cidadãos que respeitam a lei, e muitos combatem atualmente na defesa de Israel. Israel atua contra todos os que violam a lei em todas as partes", afirmou o gabinete. "Israel age contra todos os violadores da lei em todos os lugares. Portanto, não existe lugar para medidas drásticas sobre esse assunto." A imposição de sanções contra colonos judeus é um elemento a mais no tensionamento das relações entre Israel e EUA, aliados históricos. O presidente Biden chegou a criticar abertamente a morte de civis em bombardeios na Faixa de Gaza. 

Especialista em relações EUA-Israel da Universidade Bar-Ilan (em Ramat Gan, subúrbio de Tel Aviv), Eytan Gilboa disse ao Correio que a manobra de Washington está ligada a "problemas eleitorais de Biden", não com a situação na Cisjordânia. "Israel é uma democracia, tem uma autoridade independente de aplicação da lei e um sistema judiciário que processa e pune qualquer pessoa que infrinja a lei, incluindo os colonos na Cisjordânia", afirmou. "O ex-presidente Donald Trump está derrotando Biden em todas as pesquisas, e a opinião pública está dando ao democrata uma baixa avaliação por sua performance. Biden está sob pressão dos chamados 'progressistas' e de muçulmanos do Partido Democrara para apoiar a guerra de Israel contra os terroristas do Hamas em Gaza. Nesta quinta-feira, Biden visita o estado de Michigan, onde muitos muçulmanos ameaçaram não votar nele, a menos que ele pare de apoiar Israel. As sanções desnecessárias destinam-se a reconquistá-los."

Trégua em Gaza

O Hamas deu uma "confirmação preliminar positiva" a uma proposta de trégua e de libertação de reféns em Gaza. Segundo o governo do Catar, Israel teria aprovado o plano. Apesar do aval inicial do movimento extremista palestino, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed al Ansari, alertou que "o caminho que ainda temos a percorrer é muito difícil". "Mas estamos otimistas, porque as duas partes aceitaram as premissas que levarão a uma pausa (nos combates). Esperamos estar em condições de anunciar boas notícias nas próximas duas semanas", declarou. (RC)  

EU ACHO

"Vejo duas narrativas exageradas. A narrativa iraniana, segundo a qual Teerã não tem controle sobre as milícias e, por isso, agem de forma completamente independente. E a narrativa dos EUA, que vê as milícias nada mais como aliadas do Irã. A verdade está em algum lugar no meio delas. O Irã tem influência sobre as milícias, mas não um controle absoluto. E não está claro se o Irã tem ciência de todos os ataques promovidos pelas milícias, muito menos se dá luz verde a essas operações."

Trita Parsi, fundador do Conselho Nacional Iraniano-Americano

  • Trita Parsi, fundador do Conselho Iraniano-Americano
    Trita Parsi, fundador do Conselho Iraniano-Americano Foto: Arquivo pessoal
  • Palestino ostenta bandeira perto de pneus em chamas, em protesto a leste de Gaza
    Palestino ostenta bandeira perto de pneus em chamas, em protesto no leste de Gaza Foto: Mahmud Hams/AFP
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postado em 02/02/2024 06:00
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