O gabinete de guerra israelense analisa o relatório de uma delegação negociadora que voltou de Paris, na noite de sábado, com propostas que dão "margem para avançar" para uma trégua em Gaza e a libertação dos reféns nas mãos do Hamas. A delegação foi encabeçada pelo chefe do serviço israelense de Inteligência Exterior, David Barnea. Egito, Catar e Estados Unidos atuam como mediadores.
Ontem, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, disse que foi alcançado um entendimento dos "contornos básicos" de um acordo de cessar-fogo temporário. Mais tarde, Israel anunciou que enviará uma delegação a Doha, no Catar, para novas tratativas esta semana.
O avanço nas negociações ocorre em meio a protestos em Tel Aviv que pedem a renúncia do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. A agitação de sábado foi a primeira vez, desde outubro, em que a polícia recorreu a medidas mais duras para dispersar a multidão.
Os manifestantes afirmavam que o governo está mais interessado em derrotar o Hamas do que em libertar seus reféns. O Ministério da Justiça abriu uma investigação sobre um incidente em que um oficial é visto, em um vídeo amplamente divulgado, usando as rédeas do seu cavalo para atacar um manifestante que caiu no chão. Pelo menos 21 prisões e dezenas de feridos foram relatados.
Fome extrema
Do outro lado do muro, os sobreviventes de Gaza enfrentam uma crise humanitária sem precedentes, especialmente em Rafah, região ao sul do enclave que faz fronteira com o Egito e concentra a maior parte dos refugiados palestinos — 1,4 milhão de pessoas.
Israel prometeu, ontem, lançar nova ofensiva terrestre na cidade superlotada, apesar das negociações em andamento. Caso haja acordo, o ataque será adiado. "Se não tivermos um acordo, faremos de qualquer maneira", disse Netanyahu.
"Ainda é possível evitar a fome extrema em Gaza se Israel deixar que as agências humanitárias enviem mais ajuda para o território", defendeu, ontem, o chefe da agência da ONU para os refugiados palestinos, Philippe Lazzarini.
Segundo a organização, 2,2 milhões de pessoas, a imensa maioria da população de Gaza, são ameaçadas pela fome. Essa grave escassez poderia provocar uma explosão de mortalidade infantil no norte do território, onde uma em cada seis crianças menores de 2 anos sofre de desnutrição aguda.
"O mundo se comprometeu a não permitir a fome nunca mais", escreveu Lazzarini na plataforma X. Antes da guerra, entravam em Gaza cerca de 500 caminhões diários com alimentos. Mas, desde 7 de outubro, esse número raramente passa dos 200, apesar da necessidade angustiante dos habitantes da Faixa.
Nos últimos dias, palestinos residentes em Gaza se viram obrigados a comer folhas e, até mesmo, a matar seus cavalos para se alimentar. A situação também é alarmante no norte. O Programa Mundial de Alimentos (PMA) suspendeu, na última terça-feira, a distribuição da ajuda na região, por causa dos combates e porque o povo, faminto, se lançava sobre os caminhões para saqueá-los.
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