América do Sul

Venezuela: Regime de Maduro aperta cerco a opositora e prende assessores

Procurador-geral Tarek William Saab acusa María Corina Machado de "ações desestabilizadoras" e anuncia a captura de Dignora Hernández e Henry Alviarez. Ex-deputada denuncia "brutal repressão" do regime

María Corina Machado (C) entre simpatizantes, durante comício em Valencia, no departamento de Carabobo -  (crédito: Gabriela Oraa/AFP)
María Corina Machado (C) entre simpatizantes, durante comício em Valencia, no departamento de Carabobo - (crédito: Gabriela Oraa/AFP)
postado em 21/03/2024 06:00

Em 2017, Dignora Hernández falou ao Correio e classificou Maduro como "mitômano ineficiente", "indolente" e "irresponsável". "Ele faz parte de um governo que trouxe fome, miséria e repressão", comentou. À época, a ex-deputada disse duvidar que Maduro estaria à frente do governo pelas próximas décadas, em resposta a uma declaração do chavista de que pretenderia governar por mais 20 anos. "Nos próximos anos, ele jamais ganhará democraticamente uma eleição. Ao se impor pela via ditatorial, ele destruiu o país." Por volta do meio-dia desta quarta-feira (20/3) (13h em Brasília), Dignora — secretária de Política Nacional do partido Vente Venezuela — e Henry Alviarez, coordenador nacional, ambos assessores da candidata opositora María Corina Machado, foram detidos por funcionários do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin). Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra os agentes jogando Dignora dentro de uma SUV de cor prata. "Auxílio, por favor! Por favor", grita a política. 

Tarek William Saab, procurador-geral da Venezuela, confirmou as detenções e acusou María Corina de planejar "ações desestabilizadoras" antes das eleições presidenciais de 28 de julho. De acordo com ele, os atos de violência seriam uma tentativa de forçar a habilitação política da opositora. "O regime de Maduro desata uma brutal repressão contra minha equipe de campanha. Deteve Henry Alviarez, coordenador nacional da organização de minha campanha, e Dignora Hernández, coordenadora política. Além disso, emitiu ordens de captura contra vários membros do Comando Nacional, incluindo meu chefe de campanha, Magalli Meda", afirmou María Corina, em mensagem publicada no X, o antigo Twitter. 

A ex-deputada Dignora Hernández é jogada dentro de uma SUV pelos agentes do serviço de inteligência
Dignora é jogada dentro de uma SUV pelos agentes do serviço de inteligência (foto: X/Reprodução)

"Essas ações covardes pretendem fechar o caminho da Venezuela até a mudança, a liberdade em paz e a democracia", acrescentou, antes de fazer um apelo à população. "Venezuelanos, eu lhes peço fortaleza e coragem nesses momentos difíceis. Hoje, mais do que nunca, necessitamos estarunidso e firmes para seguir avançando rumo a nossos objetivos."

Saab explicou que as prisões de Hernández e de Alviarez ocorreram após a confissão de Emil Brandt Ulloa, gravada em vídeo. Coordenador estadual do Vente Venezuela em Barinas, Ulloa foi capturado em 9 de março. "A conduta (de Ulloa) e dos colaboradores responde a um plano estruturado e organizado com antecedência para submeter o país a novas jornadas de violência", disse o procurador-geral. Nas imagens, Ulloa teria contado que planejou e financiou as ações violentas. 

Coordenador do Conselho Político Internacional da campanha de María Corina, Antonio Ledezma afirmou ao Correio que Saab tornou-se um "célebre poeta da tortura". "Ele não atua como procurador de boa-fé, a serviço dos venezuelanos. Para isso, existe a Procuradoria Geral da República, um ente constitucionalmente criado para defender os direitos dos venezuelanos. Ele converteu a instituição em uma delegacia política do regime", declarou, por telefone, de Madri, onde o ex-prefeito de Caracas e ex-preso político se encontra exilado. 

Para Ledezma, as detenções de Hernández e de Alviarez não têm nenhum tipo de fundamentação. "Maduro e seu bando creem que convocar eleições livres é um crime e um ato de conspiração. Foi a mesma acusação que fizeram a mim e me condenaram a 26 anos de prisão. Eles me acusaram de conspirar para delinquir e derrubar o regime", lembrou. 

A ex-deputada discursa ao lado de Corina, em Timotes, no estado de Mérida, duas semanas atrás
Dignora Hernández discursa ao lado de Corina, em Timotes, no estado de Mérida, duas semanas atrás (foto: X/Reprodução)

O aliado de Corina assegurou que os venezuelanos lutarão até o fim pela habilitação. "O 'até o fim' está longe de ser uma cançãozinha ou um slogan eleitoreira. É uma declaração de princípio, uma oração que revela o estado de consciência de Machado, que avança, mesmo diante de grandes riscos. María Corina não pode ser parada, pois tem o impulso do povo, e está disposta a dar a própria vida, se necessário, para defender esta causa pela liberdade da Venezuela", disse Ledezma. Ele vê um Maduro desesperado e assegura que a opositora sente-se apoiada pela população. Em 7 de fevereiro, durante ato político em Charallave, no departamento (estado) de Miranda, a comitiva de María Corina foi alvo de um grupo armado com paus e pedras.

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"A Venezuela assiste a uma caça às bruxas ordenada por Nicolás Maduro que põe em evidência sua debilidade. Não pode estar forte alguém que precisa apelar à força bruta e ativar grupos de choque, apoiados nas armas e em dinheiro sujo, para se manter no poder. Maduro é antítese de María Corina Machado, que pede eleições livres, transita pela rota eleitoral e oferece transição democrática, além de propor um diálogo para consertar garantias mútuas."

Antonio Ledezma,coordenador do Conselho Político Internacional da campanha de María Corina Machado

  • A ex-deputada é jogada dentro de SUV pelos agentes do serviço de inteligência, que estavam em motocicletas
    Dignora é jogada dentro de uma SUV pelos agentes do serviço de inteligência Foto: X/Reprodução
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