América do Norte

México: Violência assombra reta final da campanha eleitoral

Candidato a prefeito de Coyuca de Benítez, no estado de Guerrero, é executado à luz do dia, durante comício. Vídeo registrou momento do assassinato. Especialistas avaliam aumento da criminalidade

Membro da Guarda Nacional vigia local do assassinato de Cabrera, em Coyuca de Benítez
 -  (crédito: Francisco Robles/AFP)
Membro da Guarda Nacional vigia local do assassinato de Cabrera, em Coyuca de Benítez - (crédito: Francisco Robles/AFP)

Poucas horas antes de ser assassinado, Jose Alfredo Cabrera Barrientos, 38 anos, candidato à Prefeitura da cidade de Coyuca de Benítez, no departamento (estado) de Guerrero, publicou no Facebook uma mensagem na qual convidava os 73 mil habitantes a participarem das eleições de domingo. "Sou grato a Deus e que sua vontade seja aquela que perdurar nesta eleição. Ele conhece o coração de todos nós e sabe a intenção que temos de servir ao nosso povo", escreveu o candidato da coalizão "Força e Coração pelo México", formada pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI), pelo Partido de Ação Nacional (PAN) e pelo Partido da Revolução Democrática (PRD).

Por volta das 18h de quarta-feira (21h em Brasília), Barrientos cumprimentava eleitores e caminhava em direção ao palco, quando um homem se aproximou, apontou a pistola Glock para a cabeça do político e disparou 15 vezes. A cena foi registrada em vídeo por um de seus apoiadores. Agentes da Guarda Nacional que faziam a segurança da vítima mataram o assassino. Barrientos é o 24º candidato executado desde o início da campanha, em setembro passado.

Sorridente, Jose Alfredo Cabrera Barrientos cumprimenta eleitores, em Coyuca de Benítez
Sorridente, Jose Alfredo Cabrera Barrientos cumprimenta eleitores, em Coyuca de Benítez (foto: X/Reprodução)

O assassino se aproxima, por trás, aponta a pistola para a cabeça do candidato e dispara 15 vezes
O assassino se aproxima, por trás, aponta a pistola para a cabeça do candidato e dispara 15 vezes (foto: X/Reprodução)

"É uma pena que (...) esta campanha termine de forma violenta", afirmou, em um comunicado, o PRI, partido de Cabrera. A organização culpou o governo de Guerrero — nas mãos do partido de esquerda no poder — de não ter feito "o mínimo esforço" para proteger os candidatos. No domingo, o México realiza eleições gerais. Duas mulheres disputam a sucessão do presidente Andrés Manuel López Obrador: a senadora de centro-direita Xóchitl Gálvez, 61, e a candidata governista e de esquerda Claudia Sheinbaum, favorita ao Palácio Nacional, no Zócalo.  

Coordenador do Seminário de Segurança Nacional da Universidade Nacional do México (Unam), Javier Posada admitiu ao Correio que a violência na campanha eleitoral deste ano não tem precedentes. "Isso ocorreu por duas razões. Em primeiro lugar, nunca houve tantos cargos em disputa: são cerca de 19.800. Existe uma enorme quantidade de candidatos. Registros da Secretaria de Defesa Nacional e da Secretaria da Marinha mostram que pelo menos 1.200 postulantes pediram proteção pessoal, inclusive Jose Alfredo Cabrera, que foi assassinado na quarta-feira", explicou. O especialista acrescentou que as organizações criminosas têm procurado bloquear a possibilidade de vitória dos candidatos que não correspondam aos seus interesses ou semear o medo na população. No departamento de Zacatecas, quase 200 mulheres renunciaram à corrida eleitoral por receio das ameaças e da violência criminal. "Isso é muito mais sério e grave do que em outros processos eleitorais", disse Posada. 

Vicente Sánchez Munguía — professor investigador do Colégio da Fronteira Norte (instituição que estuda temas de violência e insegurança pública, em Tijuana) — disse ao Correio que a campanha para as eleições gerais se encerrou, na quarta-feira, com um assassinato dirigido e a queima-roupa. "Na campanha de 2018, houve 401 agressões contra candidatos; na atual, foram 749. Há uma violência, que faz vítimas, não apenas candidatos, mas também pré-candidatos e gente muito próxima dos partidos políticos. Várias regiões do México se tornaram ambientes de violência. O crime organizado está cada vez mais vinculado aos políticos locais e regionais do país", explicou. 

De acordo com Munguía, a onda de violência tem afetado todos os partidos políticos mexicanos. "Também vemos uma sensação de impunidade. As altas autoridades do governo têm minimizado a violência. O presidente Andrés Manuel López Obrador afirma que isso é uma campanha da imprensa. A sociedade não pensa dessa forma. Em alguns estados, candidatos sofreram intimidações muito fortes e renunciaram às suas candidaturas", comentou o professor de Tijuana. 

Sobre a execução de Jose Alfredo Cabrera Barrientos, Munguía sublinhou que o candidato tinha dois círculos de segurança e, mesmo assim, foi alvejado à queima-roupa, pelas costas. "É uma tema delicado. Não sabemos a capacidade de penetração do crime organizado no México", disse.  

EU ACHO...

Javier Posada, coordenador do Seminário de Segurança Nacional da Universidade Nacional do México (Unam)
Javier Posada, coordenador do Seminário de Segurança Nacional da Universidade Nacional do México (Unam) (foto: Arquivo pessoal )

"A violência criminal, durante a campanha, esteve orientada aos municípios. Em termos estruturais, são eles a parte mais frágil do Estado mexicano, no sentido administrativo. O município está desfavorecido, ante a ausência de recursos para a segurança pública. As atividades criminais pressionam esse âmbito geográfico."

Javier Posada, coordenador do Seminário de Segurança Nacional da Universidade Nacional do México (Unam) 

 

  • Sorridente, Jose Alfredo Cabrera Barrientos cumprimenta eleitores, em Coyuca de Benítez
    Sorridente, Jose Alfredo Cabrera Barrientos cumprimenta eleitores, em Coyuca de Benítez Foto: X/Reprodução
  • O assassino se aproxima, por trás, aponta a pistola para a cabeça do candidato e dispara 15 vezes
    O assassino se aproxima, por trás, aponta a pistola para a cabeça do candidato e dispara 15 vezes Foto: X/Reprodução
  • Javier Posada, coordenador do Seminário de Segurança Nacional da Universidade Nacional do México (Unam)
    Javier Posada, coordenador do Seminário de Segurança Nacional da Universidade Nacional do México (Unam) Foto: Arquivo pessoal
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postado em 30/05/2024 23:52 / atualizado em 31/05/2024 00:07
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