Sob pressão dos Estados Unidos para a formação de um governo inclusivo, os rebeldes da organização jihadista Hayat Tahrir al Sham (HTS) — responsável pela destituição do ditador Bashar Al-Assad — garantiram que o novo regime estabelecerá um "Estado de direito" na Síria. As novas autoridades sírias também anunciaram o fechamento das masmorras onde dezenas de milhares de prisioneiros, principalmente opositores a Al-Assad e ativistas, eram mantidos. "Todos aqueles que cometeram crimes contra o povo sírio serão julgados de acordo com as leis", declarou à agência France-Presse (AFP) Obaida Arnaut, porta-voz do governo sírio.
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De acordo com ele, o novo poder irá "congelar a Constituição e o Parlamento" durante um período de transição, em um prazo inicial de três meses. "Será formado um comitê jurídico e de direitos humanos para examinar a Constituição e introduzir alterações."
Abu Mohammed Al-Jawlani, líder do HTS, disse que planeja desativar os centros de detenção administrados por Al-Assad, inclusive a famigerada prisão militar de Saydnaya, apelidada de "matadouro de seres humanos". Ele sublinhou que a caçada aos envolvidos na tortura ou no assassinato de prisioneiros é uma questão inegociável. "Nós os perseguiremos na Síria e pediremos aos países que entreguem aqueles que fugiram, para que possamos fazer justiça", declarou, sem fazer menção direta a Bashar Al-Assad, que estaria asilado na Rússia. Al-Jawlani também pretende dissolver as forças de segurança do regime destituído.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, externou "profunda preocupação com as recentes e extensas violações da soberania e integridade territorial da Síria". "O secretário-geral está particularmente preocupado com as centenas de ataques aéreos israelenses em várias localidades da Síria", admitiu o porta-voz Stephane Dujarric. Ele também cobrou a "urgente necessidade de uma desescalada em todos os fronts da Síria".
Bassam Alahmad, cofundador e diretor executivo da ONG Syrians for Truth and Justice (Sírios pela Verdade pela Justiça), exilado em Paris, disse ao Correio que é preciso diferenciar as prisões dos centros de detenção do regime de Bashar Al-Assad. "Há prisões em todos os locais do mundo, onde criminosos são colocados. É óbvio que apoiamos o fechamento dos centros de detenção, que foram mantidos pela inteligência do antigo regime. Todas as pessoas devem ser libertadas, em todas as partes da Síria. Todos os centros de detenção secretos precisam ser fechados. As prisões têm que ser mantidas, porque é nelas que criminosos serão punidos", afirmou.
Alahmad espera que as autoridades sírias transformem os centros de detenção em museus, a fim de preservar a memória. "Também gostaria que os responsáveis por violações dos direitos humanos não sejam executados, mas levados à Justiça. Devemos criar uma Corte justa, um sistema judicial que garanta todos os direitos de defesa ao réu. Não queremos repetir o que o regime de Al-Assad fez. Queremos construir uma nova nação e um novo sistema."
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Ataques de Israel matam 58 em Gaza
A Defesa Civil de Gaza informou que pelo menos 25 pessoas morreram, na noite de ontem, em um bombardeio israelense contra uma casa cheia de deslocados no centro da Faixa de Gaza, elevando o balanço total de mortos no dia para pelo menos 58. O porta-voz da Defesa Civil, Mahmud Bassal, declarou à agência France-Presse (AFP) que o bombardeio atingiu uma casa no campo de refugiados de Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza. Anteriormente, havia sido reportada a morte de 33 pessoas, incluindo 12 guardas que protegiam caminhões de ajuda humanitária.