ORIENTE MÉDIO

"Receita para gerar o caos" diz Hamas sobre ideia de Trump em deslocar palestinos de Gaza

Fala do presidente norte-americano Donald Trump sobre palestinos deixarem a Faixa de Gaza gerou repercussão internacional

Presidente dos EUA, Donald Trump, convocou repórteres durante uma entrevista coletiva conjunta com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu -  (crédito: CHIP SOMODEVILLA / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)
Presidente dos EUA, Donald Trump, convocou repórteres durante uma entrevista coletiva conjunta com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu - (crédito: CHIP SOMODEVILLA / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)

A fala do presidente Donald Trump de que os Estados Unidos assumirão o controle da Faixa de Gaza e que os palestinos devem deixar o território gerou repercussão internacional. Ao lado do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, o republicano afirmou que os dois milhões de habitantes de Gaza deveriam "ir para outros países". Moradores rejeitam a ideia de abandonar a terra natal.

“Espero que possamos fazer algo para que eles não queiram voltar. Quem iria querer voltar? Eles não experimentaram nada além de morte e destruição", disse Trump. Ele também falou que a região “trouxe muito azar” para pessoas que a habitam.

O presidente dos EUA, Donald Trump, encontrou com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, no Salão Oval da Casa Branca em Washington
O presidente dos EUA, Donald Trump, encontrou com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, no Salão Oval da Casa Branca em Washington (foto: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP)

O embaixador palestino na Organização das Nações Unidas (ONU), Riyad Mansour, disse que os líderes mundiais e os povos "deveriam respeitar" o desejo dos palestinos de permanecer na Faixa de Gaza.

O chefe da agência da ONU para refugiados, Filippo Grandi, afirmou que a ideia de Trump "é algo muito surpreendente e ainda precisa ver concretamente o que isso significa".

O presidente palestino, Mahmud Abbas, rejeitou a ideia apresentada por Donald Trump de que os Estados Unidos controlem a Faixa de Gaza. "O presidente Mahmud Abbas e os líderes palestinos expressaram sua forte rejeição aos apelos para tomar a Faixa de Gaza e deslocar os palestinos para fora de sua terra natal", afirma um comunicado oficial.

"Em resposta aos apelos americanos para o deslocamento de palestinos de Gaza, não permitiremos que os direitos do nosso povo sejam violados", disse Abbas.

A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) também se manifestou e repudiou a ideia. "A liderança palestina manifesta sua rejeição a todas os pedidos para deslocar o povo palestino para fora de sua pátria. Nascemos aqui, vivemos aqui e ficaremos aqui", declarou Husein Sheikh, secretário-geral da OLP.

Os habitantes de Gaza também rejeitaram a ideia de Trump. "Trump pensa que Gaza é um monte de lixo, certamente que não", declarou Hatem Azam, morador da cidade de Rafah, à AFP.

"Trump e Netanyahu têm que compreender a realidade do povo palestino. É um povo profundamente arraigado à sua terra e não vamos abandoná-la", acrescentou Hatem Azam.

Ihab Ahmed, outro residente de Rafah, lamentou que tanto Trump quanto Netanyahu “ainda não entendem o povo palestino” e a conexão com o território.

“Permaneceremos nesta terra aconteça o que acontecer. Mesmo que tenhamos que viver em tendas e nas ruas, continuaremos enraizados nesta terra. O mundo precisa entender esta mensagem: não sairemos como aconteceu em 1948”, frisou Ihab, referindo-se a Nakba, que significa “catástrofe” em árabe e ocasionou o deslocamento em massa de palestinos durante a guerra árabe-israelense de 1948.

Já o movimento extremista Hamas classificou a fala de Trump de "racista". "A posição racista americana está alinhada com a da extrema-direita israelense, que consiste em deslocar o nosso povo e erradicar nossa causa", afirmou o porta-voz do Hamas, Abdel Latif al Qanu.

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Além disso, o comandante do Hamas, Sami Abu Zuhri, chamou as declarações de Trump de "receita para gerar o caos" no Oriente Médio. 

Netanyahu, que classificou Trump como o "melhor amigo que Israel já teve", acredita que o plano dos Estados Unidos para Gaza pode "mudar a história" e que vale a pena "prestar atenção".

Outras repercussões

O Egito rejeitou a proposta e ministro das Relações Exteriores do país, Badr Abdelatty, pediu uma reconstrução rápida de Gaza, "sem que os palestinos abandonem a Faixa".

Jordânia e Catar também se mostraram contrários. O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, disse que deslocar os palestinos é algo que "nem nós, nem a região podemos aceitar".

A China também criticou a proposta. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian, disse que "o governo palestino para os palestinos é o princípio básico do governo de Gaza no pós-guerra" e se opôs à "transferência forçada" dos habitantes.

A França afirmou que o futuro de Gaza passa por "um futuro Estado palestino" e não pelo controle de "um terceiro país".

Com informações da AFP*

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Aline Gouveia
postado em 05/02/2025 08:15 / atualizado em 05/02/2025 09:14
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