tensão internacional

Trump: Zelensky é um "ditador sem eleições"

Presidente dos EUA eleva o tom das críticas ao ucraniano, questiona sua legitimidade no cargo e interesse em buscar uma solução para o fim da guerra com a Rússia. Em resposta, norte-americano é acusado de reproduzir a "desinformação" do Kremlin

 US President Donald Trump speaks during signing of executive orders at his Mar-a-Lago resort in Palm Beach, Florida, on February 18, 2025. (Photo by ROBERTO SCHMIDT / AFP)
       -  (crédito: Fotos: AFP)
US President Donald Trump speaks during signing of executive orders at his Mar-a-Lago resort in Palm Beach, Florida, on February 18, 2025. (Photo by ROBERTO SCHMIDT / AFP) - (crédito: Fotos: AFP)

Àmedida em que cresce a aproximação entre a Casa Branca e o Kremlin, eleva-se também o tom adotado pelos presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Ucrânia, no confronto verbal. O norte-americano chamou, ontem, o ucraniano de "ditador", depois que Zelensky o acusou de sucumbir à "desinformação russa" a respeito da invasão ao território da ex-república soviética, em 24 de fevereiro de 2022. A contenda aumenta os temores de um rompimento entre Kiev e Washington.

"Zelensky, um ditador sem eleições, deve agir rápido ou não lhe restará um país", escreveu Trump em sua rede, Truth Social, sobre o líder ucraniano, cujo mandato de cinco anos terminou em 2024. "Amo a Ucrânia, mas Zelensky está fazendo um trabalho terrível, seu país está destroçado e MILHÕES morreram desnecessariamente", acrescentou o presidente norte-americano, usando maiúsculas, como de hábito. 

Na véspera, o chefe da Casa Branca lançou um ataque verbal sem precedentes contra o presidente ucraniano, questionando sua legitimidade e seu desejo de encontrar uma solução para o conflito. Também pareceu considerá-lo responsável pela invasão de seu país pela Rússia.  A lei ucraniana permite que eleições não sejam realizadas em tempos de guerra. 

Gastos

"Pensem, um modesto comediante de sucesso, Volodymyr Zelensky, convenceu os Estados Unidos a gastar US$ 350 bilhões (cerca de R$ 2 trilhões, na cotação atual) em uma guerra que não podia ser vencida, que nunca devia ter começado, mas uma guerra que ele nunca poderá resolver sem os EUA e 'TRUMP'", reforçou o magnata republicano na postagem. 

O instituto econômico IfW Kiel estima a ajuda norte- americana à Ucrânia em US$ 114,2 bilhões (R$ 651,8 bilhões) desde 2022. Donald Trump também repetiu que o presidente ucraniano havia "reconhecido" que metade da ajuda fornecida por Washington a Kiev havia desaparecido. 

"Nega-se a ter eleições, está muito abaixo nas pesquisas ucranianas, e só foi bom em manipular (o ex-presidente dos EUA Joe Biden)", assinalou, destacando que o índice de confiança de Zelensky caiu 4%. Pesquisa realizada pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev mostra que o ucraniano conta com 57% de aprovação em seu país. 

Mais cedo, em uma coletiva de imprensa, o chefe de Estado da Ucrânia afirmou que o  norte-americano vive em um "espaço de desinformação" russa, visto que ecoa a retórica do Kremlin. Ele citou, especificamente, o fato de o norte-americano responsabilizar Kiev por ter "iniciado" o conflito. Também acusou a Casa Branca de ajudar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, a "sair de anos de isolamento".

 A tarefa de esclarecer a posição de Washington, agora, cabe ao enviado do presidente norte-americano para a Ucrânia, Keith Kellogg, que desembarcou, ontem, na ex-república soviética. Kellogg adotou um tom conciliador. "Entendemos a necessidade de garantias de segurança da Ucrânia", afirmou.

Antes do encontro previsto entre os dois, Zelensky afirmou que o mundo enfrenta um dilema. "O futuro não está com Putin, mas com a paz. E essa é uma escolha para todos, e para os poderosos: estar com Putin ou estar pela paz. Devemos escolher a paz", disse Zelensky em seu discurso diário. Ele afirmou que deseja o fim da guerra ainda este ano. Advertiu, porém, que seu país "não está à venda". No sábado, Zelensky se recusou a assinar um acordo proposto pelos EUA sobre os recursos minerais ucranianos.

Confiança

 Em Moscou, Putin celebrou os resultados "positivos" das discussões russo-americanas celebradas na véspera, na Arábia Saudita, pela primeira vez desde o início da guerra, há quase três anos. O líder russo declarou que, desde o retorno à Casa Branca, Trump recebe "informações objetivas" sobre o conflito.

"Sem reforçar o nível de confiança entre Rússia e Estados Unidos, é impossível resolver muitos problemas, inclusive a crise ucraniana", declarou Putin, segundo declarações transmitidas pela TV pública russa. 

O presidente russo ressaltou que o grupo enviado por Trump a Riade estava "aberto ao processo de negociação" e acusou Kiev e os europeus de representarem a oposição às negociações. Falou ainda sobre a expectativa em relação a um encontro com o republicano. "Adoraria me reunir com Donald (Trump). E acredito que ele também gostaria", disse.

 


Correio Braziliense
postado em 20/02/2025 06:01
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