Em duas semanas, o governo dos Estados Unidos decidirá sobre atacar diretamente o Irã. O prazo foi dado ontem pelo presidente Donald Trump que, por intermédio da secretária de imprensa, Karoline Leavitt, que transmitiu a mensagem. O anúncio ocorreu no mesmo dia em que os iranianos bombardearam o Hospital de Soroka, um dos mais importantes de Israel, e que o exército israelense informou ter atingido uma instalação nuclear iraniana em Natanz e Visfahan, além de um "reator nuclear inativo" em Arak, em território iraniano.
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Reproduzindo o recado de Trump, a secretária Leavitt afirmou que: "Com base no fato de que há uma chance substancial de negociações que podem ou não ocorrer com o Irã em um futuro próximo, tomarei minha decisão se irei ou não nas próximas duas semanas". Segundo ela, Irã e Estados Unidos seguem em negociações. Apenas os Estados Unidos dispõem da bomba GBU-57, capaz de alta capacidade de destruição.
Para a Casa Branca, os iranianos têm capacidade de fabricar armamento nuclear em "15 dias", caso o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei autorize. No sétimo dia do conflito, a reação de Trump ocorre no momento de elevação de temperatura entre iranianos e israelenses. Após os ataques de Tel Aviv a três bases nucleares do Irã, que reagiu ao bombardear o hospital, deixando 40 feridos, segundo o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Hospital
Em Beerseba, o bombardeio ao Hospital Soroka, um dos mais importantes de Israel para o tratamento oncológico, surpreendeu os israelenses. O ataque ocorreu por volta das 7h da manhã. O impacto do míssil estourou as janelas, derrubou os tetos e deixou cerca de 40 feridos, segundo os dados oficiais. "É muito triste, nunca pensei que algo assim pudesse acontecer. Nunca (...) Aqui só há profissionais da saúde e pacientes", afirmou à AFP Wasim Hin, oftalmologista do hospital.
O diretor do hospital e outros funcionários relataram que se salvaram porque o edifício atingido havia sido evacuado nos últimos dias. "É um milagre, o prédio havia acabado de ser evacuado", disse Kevin Azoulay, que trabalha nos serviços de manutenção. O diretor do hospital, Shlomi Codish, confirmou que o prédio "estava vazio". Segundo ele, desde o início da guerra, em 13 de junho, entre Irã e Israel, todos os serviços que estavam em um dos edifícios expostos foram deslocados.
O hospital Soroka tem mais de 1.000 leitos e atende a uma grande parte da população do sul de Israel, cerca de 1 milhão de pessoas. "É um caos organizado", afirmou Dan Schwarzfuchs, chefe da emergência e subdiretor do hospital, no meio da evacuação dos pacientes. "Cada paciente tem uma pessoa designada que o informa sobre o que vai acontecer", explicou. Segundo o diretor, os pacientes mais vulneráveis não puderam ser evacuados, como idosos, pessoas com câncer e aqueles que precisam de atendimento urgente. "É muito chocante que um centro médico tenha sido alvo de um ataque", acrescentou.
Instalações nucleares
O Exército israelense anunciou nesta quinta-feira que atingiu uma instalação nuclear iraniana em Natanz, além de um "reator nuclear inativo" em Arak, durante operações na madrugada. A Força Aérea "bombardeou uma instalação de desenvolvimento de armas nucleares na área de Natanz", informou o Exército. De acordo com a AFP, um reator nuclear inativo na área de Arak também foi atacado, "incluindo a estrutura central do reator, uma parte essencial para a produção de plutônio".
Para os iranianos, houve uma "traição" por parte da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) porque o chefe da instituição, o argentino Rafael Grossi, acusou o Irã de enriquecimento de urânio. "O Irã talvez seja atualmente o único país que enriquece urânio em níveis próximos aos militares(...) não é possível afirmar que esteja tentando fabricar uma bomba atômica", afirmou ele ao canal France 24. "Vocês traíram o regime de não proliferação, fizeram da AIEA uma aliada nesta guerra injusta de agressão", escreveu o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmaeil Baqaei, na rede X.
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, reiterou anteontem que "nunca vai se render" a Israel. "A nação iraniana se opõe firmemente a uma guerra imposta, assim como se oporá firmemente a uma paz imposta. Esta nação nunca vai se render às imposições de ninguém", afirmou Khamenei, em discurso transmitido pelas emissoras de TV. "Os norte-americanos devem saber que qualquer intervenção militar de sua parte resultará em danos irreparáveis." Na quarta-feira, Trump sugeriu a rendição dos iranianos ao deixar aberta a possibilidade de Washington participar do conflito. "Talvez eu faça, talvez não", disse Trump em tom enigmático. Ontem, ele pediu a "rendição incondicional" do Irã.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, alertou sobre as "enormes consequências" para o Oriente Médio de "qualquer intervenção militar adicional" no conflito. Já o presidente russo, Vladimir Putin, que está em guerra com a Ucrânia, colocou-se à disposição para mediar o conflito. Ele negou que o Irã tenha pedido ajuda militar à Rússia. Porém, Trump descartou a possibilidade de mediação de Putin e recomendou ao líder russo priorizar o fim do conflito na Ucrânia. "Vladimir, vamos mediar com a Rússia primeiro, você pode se preocupar com isso [a guerra no Oriente Médio] depois", disse.
Estratégia
Tanto Israel quanto Irã utilizam fontes oficiais para confirmar ataques e bombardeios. A Aiea, por exemplo, informou que os israelenses destruíram dois prédios onde eram fabricadas peças para as centrífugas do programa nuclear iraniano em Karaj, perto de Teerã. Também foi atingido um prédio do Centro de Pesquisas de Teerã, onde "eram fabricados e testados rotores para as centrífugas avançadas", informou a instituição no X.
A emissora Irna, estatal iraniana, por sua vez, informou que Teerã lançou mísseis hipersônicos contra Israel, os quais "penetraram com sucesso as defesas do regime".
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