
O Reino Unido seguiu a decisão da França e anunciou que reconhecerá o Estado da Palestina a partir de setembro, durante a Assembleia Geral da ONU. No entanto, ao contrário de Paris, Londres deixou aberta a possibilidade de suspender a decisão, caso Israel tome algumas medidas. "Nós reconheceremos um Estado Palestino como uma contribuição para um processo de paz, a menos que o governo israelense adote passos substanciais para pôr fim à espantosa situação em Gaza, concorde com o cessar-fogo e se comprometa com uma paz sustentável de longa duração", declarou o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer.
- Gaza enfrenta 'pior cenário possível de fome', diz órgão de segurança alimentar ligado à ONU
- Israel comete genocídio em Gaza, denunciam ONGs israelenses
- "O mundo não se importa conosco ", desabafa autor de foto símbolo da fome em Gaza
Também nesta terça-feira (29/7), o relatório Quadro Integrado de Classificação da Segurança Alimentar (IPC, pela sigla em inglês), elaborado por organizações não governamentais, instituições e agências especializadas da ONU, advertiu que "o pior cenário de fome está em andamento na Faixa de Gaza" e confirmou que uma em cada três pessoas passa vários dias sem comer nada". A partir desta quinta-feira (31/7), a França prometeu lançar 40t de ajuda humanitária em Gaza — serão quatro voos, em colaboração com a Jordânia, transportando 10t cada.
Em discurso à imprensa, Keir Starmer reconheceu que o povo palestino tem suportado um "sofrimento terrível". "Agora, em Gaza, devido a uma falha catastrófica de ajuda, estamos vendo bebês famintos, crianças fracas demais para se manterem de pé, imagens que permanecerão conosco por toda a vida. O sofrimento deve terminar."
<p><strong><a href="https://whatsapp.com/channel/0029VaB1U9a002T64ex1Sy2w">Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular</a></strong></p>
O premiê do Reino Unido relatou que, na segunda-feira (28/7), falou com o presidente (Donald) Trump e ambos organizaram "um grande esforço" para que suprimentos fossem entregues aos palestinos por via aérea. "Precisamos ver pelo menos 500 caminhões entrando em Gaza diariamente, mas o único meio de colocar fim a essa crise humanitária é um acordo de longo prazo. Nós apoiamos os esforços dos EUA, do Egito e do Catar para garantir um cessar-fogo vital. Essa trégua deve ser sustentável e levar a um plano de paz que pavimente o caminho para uma solução baseada em dois Estados", disse.
"Vergonha"
Horas depois de duas organizações israelenses — a B'Tselem e a Physicians for Human Rights ("Médicos pelos Direitos Humanos") — reconhecerem a existência de genocídio em Gaza, um grupo de 31 intelectuais, personalidades e artistas de Israel firmou uma carta em que pede "sanções devastadoras" contra o governo do premiê Benjamin Netanyahu. "Nós, israelenses dedicados a um futuro pacífico para o nosso país e os vizinhos palestinos, escrevemos isso com grave vergonha, em fúria e em agonia. Nosso país está matando o povo de Gaza de fome e contemplando a remoção forçada de milhões de palestinos", afirmam. "A comunidade internacional deve impor sanções devastadoras sobre Israel até que encerre essa campanha brutal e implemente um cessar-fogo permanente." Entre os nomes na carta, estão os de Yuval Abraham, ex-procurador-geral de Israel, e de Avraham Burg, ex-presidente da Knesset (Parlamento).
Por telefone, o cinegrafista Liran Atzmor, um dos 31 signatários da carta, falou ao Correio. "Na condição de israelense, eu me sinto envergonhado, culpado e responsável pelo genocídio que ocorre, em nosso nome, em Gaza. Desse sentimento de responsabilidade, assinei a petição, por sentir que nada, dentro do governo, pode mudar essa política." Amiram Goldblum, professor emérito de química computacional da Universidade Hebraica de Jerusalém, foi sucinto. "Acho que a carta diz tudo", respondeu, por e-mail.
Agências da ONU pediram que Gaza seja "inundada" com ajuda alimentar, na tentativa de evitar a "fome em massa". O Ministério da Saúde do território palestino, controlado pelo grupo terrorista Hamas, anunciou que mais de 60 mil pessoas morreram em 662 dias de guerra — média de 90 por dia. Israel concordou com tréguas parciais durante o dia e autorizou a entrada de caminhões com ajuda, mas as entidades internacionais classificam a medida como insuficiente.
Embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben considera o anúncio do Reino Unido como um passo político e jurídico significativo, mas tardio. "O Reino Unido, com a França, foi protagonista na origem da questão palestina, e este gesto, se concretizado, pode representar mais do que uma resposta ao clamor popular diante do genocídio e da fome deliberada em Gaza e na Cisjordânia", disse ao Correio.
Segundo ele, a decisão de Londres "reforça o direito palestino à autodeterminação; enfraquece as narrativas de ocupação e anexação promovidas por Netanyahu; fortalece a posição da França; e pode pressionar os Estados Unidos". "Seu impacto, no entanto, dependerá da seriedade na execução e da articulação com medidas práticas, e não apenas como um gesto simbólico, diante de crimes em curso."
EU ACHO...
"Estamos demonstrando, protestando e assinando petições ao longo dos últimos dois anos, depois do horrível ataque de 7 de outubro de 2023 cometido pelo Hamas — claramente um crime contra a humanidade. Agora, Israel responde de forma desproporcional e sem propósito real de encontrar uma solução para a região."
Liran Atzmor, cinegrafista israelense ganhador do Prêmio Peabody Award em 2014 e um dos 31 signatários da carta
Saiba Mais
Webstories
Política
Diversão e Arte