
Uma foto de autoria de Ahmed Al Arini tornou-se um dos símbolos do massacre de civis e do bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza. A mãe, de semblante marcado pela desolação, abraça e acalenta o filho, de 1 ano e meio. Mohammed Zakariya Ayyoub Al-Matouq tornou-se apenas pele e ossos, consumido pela fome.
Em entrevista ao Correio, Al Arini contou que fez a imagem em 21 de julho passado, enquanto caminhava e documentava a guerra, em uma praia da Cidade de Gaza. “Fiz a foto na tenda dela, em condições terríveis. Eu também estava faminto e exausto por causa do calor, da fome, da caminhada, das tragédias da guerra e da dor da população”, relatou.
De acordo com Al Arini, o que o levou a documentar a brutal imagem de Mohammed Al-Matouq foi a catástrofe da fome, que se espalha pela Faixa de Gaza. “A fome corrói nossos corpos e os corpos de nossos familiares. O mundo não se importa com o que acontece conosco. Tenho documentado, dia após dia, na esperança de que isso ponha fim ao genocídio pelo qual atravessamos“, desabafou.
Al Arini revelou que, ao chegar à tenda onde vive o menino Mohammed, deparou-se com uma mãe desesperada. “O rosto da mulher demonstrava desamparo, devido à falta até mesmo das necessidades mais básicas da vida. Ela não consegue mais lidar com a vida difícil, os altos preços e a falta de ajuda”, disse o repórter fotográfico.
Ele contou que a mãe de Mohammed pediu-lhe que fizesse um apelo ao mundo sobre a situação enfrentada pelo povo palestino de Gaza. “Sofremos com a escassez de comida, remédios, leite para bebês e fraldas. Ela me disse que tem saído e caminhado pelas ruas, mas não encontra arroz para alimentar os filhos”, lembrou.
Ao ser questionado sobre os sentimentos que a foto de sua autoria lhe desperta, Al Arini respondeu: “Um misto de opressão, dor e desespero”. “Apenas quero dar voz às pessoas e à extensão de sua dor”, disse. Al Arini iniciou a carreira como fotógrafo assim que entrou na universidade. “Registrei eventos de escalada em Gaza, em 2018, 2019 e 2021 e fotografei guerras, mas esse genocídio tem sido massivo”, assegura.
O repórter fotográfico afirmou que Mohammed Al-Matouq está vivo, mas não apresentou qualquer melhora ou ganho de peso. “Os suprimentos nutricionais para bebês não chegaram a Gaza”, explicou.
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