Em meio ao agravamento da crise humanitária em Gaza, soldados israelenses interceptaram o barco Handala, fretado pelo movimento Flotilha pela Liberdade, que levava alimentos para distribuir no território sitiado. É o mesmo grupo que, no mês passado, com o ativista brasileiro Thiago Ávila e a sueca Greta Thunberg a bordo, foi impedido de atracar. Horas antes, o Exército informou sobre a volta dos lançamentos aéreos de ajuda, além de estabelecer corredores humanitários para transporte de mantimentos da Organização das Nações Unidas (ONU). Os primeiros pacotes teriam sido enviados por paraquedas.
O Handala partiu de Siracusa, na Sicília, em 13 de julho. Em uma filmagem transmitida ao vivo, os ativistas aparecem sentados no convés, com as mãos levantadas, assobiando a canção antifascista italiana Bella Ciao, enquanto os soldados tomam o controle do barco. Minutos depois, as imagens sumiram do ar.
Em uma semana na qual ao menos 21 crianças morreram de desnutrição, Israel confirmou ontem que lançará sacas de farinha e açúcar à população de Gaza. No território, devastado por mais de 21 meses pela guerra, um quarto dos meninos e meninas com menos de 5 anos e das mulheres gestantes e lactantes sofrem de desnutrição aguda, segundo a organização Médicos Sem Fronteira (MSF).
Emirados
Ontem, antes do anúncio israelense, a Jordânia e os Emirados Árabes Unidos afirmaram que também retomariam "imediatamente" a ajuda humanitária aérea. "A situação humanitária em Gaza atingiu um nível crítico e sem precedentes", disse o ministro de Relações Exteriores dos Emirados, Abdullah bin Zayed Al Nahyan, em uma publicação no X. "Garantiremos que a ajuda essencial chegue aos mais necessitados, seja por terra, ar ou mar. Os lançamentos aéreos serão retomados mais uma vez, imediatamente."
Mais cedo, o chefe da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) afirmou que a retomada do lançamento aéreo de ajuda humanitária em Gaza é algo "ineficaz" diante da catástrofe humanitária que afeta o território palestino. "O lançamento aéreo não acabará com a fome crescente. É caro, ineficaz e pode até mesmo matar civis famintos", escreveu no X o diretor da agência, Philippe Lazzarini. "Uma fome causada pelo homem só pode ser resolvida pela vontade política", afirmou. Sem questionar Israel, ele pediu que as Nações Unidas intervenham "em grande escala e sem obstáculos" em Gaza.
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Israel enfrenta uma pressão internacional crescente devido à dramática situação humanitária no território palestino. No final de maio, aliviou parcialmente um bloqueio total imposto no início de março, que causou uma grave escassez de alimentos, medicamentos e produtos de primeira necessidade.
Os escassos mantimentos disponíveis nos mercados são inacessíveis. Um quilo de farinha atinge o preço exorbitante de US$ 100 (R$ 554, na cotação atual), enquanto as terras cultiváveis foram devastadas pela guerra. Na terça-feira, a ONU acusou o Exército israelense de ter matado mais de 1 mil pessoas que buscavam ajuda humanitária em Gaza desde o fim de maio, a maioria delas perto dos quatro centros da organização privada Fundação Humanitária de Gaza (GHF).
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Ataques
A retomada de envio de alimentos a Gaza pelo governo israelense não impediu ataques e disparos no território sitiado. A Defesa Civil da região relatou 40 mortos ontem, incluindo em um campo de deslocados em Al Mawasi. O porta-voz, Mahmoud Bassal, relatou ainda que 14 pessoas morreram enquanto esperavam ajuda humanitária, em seis incidentes no norte, centro e sul.
Questionados, os militares israelenses declararam que suas tropas dispararam "tiros de advertência para afastar a multidão" após identificar uma "ameaça imediata". Acrescentaram que não tinham conhecimento de vítimas como resultado da operação. Entretanto, em um comunicado, afirmaram que haviam abatido membros de uma "célula terrorista que colocou um artefato explosivo contra soldados". Nas últimas 24 horas, "a Força Aérea atacou mais de 100 alvos terroristas na Faixa de Gaza", segundo o comunicado.
