GUERRA EM GAZA

Netanyahu pretende expandir ainda mais a ofensiva em Gaza

Segundo a mídia israelense, apesar resistência das forças de defesa, premiê deve anunciar a tomada do enclave palestino. Em carta, 550 ex-membros de segurança do país pedem o fim do conflito e o resgate de reféns mantidos pelo Hamas

Em Nusseirat, no centro do território palestino, homens carregam os corpos de pessoas mortas enquanto buscavam alimentos -  (crédito: AFP)
Em Nusseirat, no centro do território palestino, homens carregam os corpos de pessoas mortas enquanto buscavam alimentos - (crédito: AFP)

Entre crescentes manifestações pelo fim da guerra em Gaza e ponderações das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pretende expandir a ofensiva e ordenar a tomada total do enclave palestino, informaram meios de comunicação do país. O premiê anunciou, ontem, que esta semana dará "instruções" sobre a continuação do conflito, num momento em que aumenta a pressão para a libertação dos reféns israelenses sob o domínio do Hamas.

A cobrança pelo resgate dos cativos, há 22 meses em território palestino, aumentou depois que o Hamas e a Jihad Islâmica, aliada do movimento radical palestino, divulgou três vídeos mostrando dois reféns israelenses, identificados como Rom Braslavski e Evyatar David. As imagens comoveram Israel e reacenderam o debate sobre a necessidade de alcançar rapidamente um acordo para libertar os sequestrados.

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

O ministro israelense das Relações Exteriores, Gideon Saar, afirmou que o país quer colocar a questão "no centro da agenda internacional". Hoje, haverá uma sessão do Conselho de Segurança da ONU, convocada por Israel e dedicada ao tema.

"Estamos no meio de uma guerra intensa na qual obtivemos sucessos muito importantes, históricos, porque não estávamos divididos", declarou, ontem, Netanyahu. "Devemos continuar unidos", acrescentou, durante a reunião do Conselho de Ministros.

O premiê anunciou que vai convocar seu gabinete "esta semana" para "dar instruções" ao Exército sobre a maneira de alcançar os três objetivos de guerra. "Derrotar o inimigo, libertar nossos reféns e garantir que Gaza deixe de ser uma ameaça para Israel", enumerou. De acordo com a mídia israelense, as novas orientações podem ser transmitidas ainda hoje.

Manifestos

Nas últimas semanas, ganharam força manifestações pelo fim da ofensiva. Ontem, em carta pública, 550 ex-chefes de espionagem, militares, policiais e diplomatas — entre eles vários ex-chefes do Mossad e da agência de segurança interna, o Shin Bet  — pediram ao presidente dos EUA, Donald Trump, que pressione Netanyahu a encerrar o conflito e levar os reféns de volta. "Parem a guerra em Gaza!", exorta o documento.

"O Tsahal (Exército israelense) cumpriu há muito tempo os dois objetivos que poderiam ser alcançados pela força: desmantelar as formações militares e o governo do Hamas", consideraram os membros do CIS, o o maior grupo israelense de ex-comandantes do Exército, Mossad, Shin Bet, polícia e corpos diplomáticos equivalentes. "O terceiro, e o mais importante, só pode ser alcançado com um acordo: trazer todos os reféns para casa", destacaram.

Na véspera, foi divulgada outra petição, assinada por aproximadamente mil artistas e escritores de Israel, em defesa de um cessar-fogo em Gaza. "Como homens e mulheres da cultura e da arte em Israel, nos vemos, contra nossa vontade e nossos valores, cúmplices — enquanto cidadãos israelenses — da responsabilidade pelos horríveis acontecimentos que estão ocorrendo na Faixa de Gaza", assinala um trecho da declaração.

"Fazemos um chamado a todos os envolvidos na elaboração e execução desta política para que parem! Não deem ordens ilegais e não as obedeçam! Não cometam crimes de guerra! Não abandonem os princípios da moral humana e os valores do judaísmo! Parem a guerra. Libertem os reféns", clamam os signatários.

"Ruína e morte"

"Netanyahu está levando Israel para a ruína e os reféns, à morte", denunciou, por sua vez, o Fórum de Famílias de Reféns, a principal organização de familiares dos sequestrados. "Há 22 meses, vende-se ao público a ilusão de que a pressão militar e os intensos combates trarão os reféns de volta", avaliaram parentes dos sequestrados. "Não são mais que mentiras e enganos", frisaram.

Das 251 pessoas capturadas pelo Hamas durante o ataque a Israel, em outubro de 2023, 49 não foram libertadas. Dessas, 27 teriam morrido, segundo o Exército israelense.

Após a divulgação das imagens de Rom Braslavski e Evyatar David, Netanyahu pediu ajuda ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) "para fornecer alimentos" e "assistência médica" aos reféns. O Hamas exigiu como condição "a abertura de corredores humanitários" para o envio de alimentos e medicamentos ao território palestino.

A comunidade internacional também tem pressionado Israel, que libera a entrada de quantidades de ajuda consideradas insuficientes pela ONU, para que abra os canais humanitários em Gaza. "Negar o acesso aos alimentos à população civil pode constituir um crime de guerra, até mesmo um crime contra a humanidade", declarou, ontem, o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk.

No enclave, o Exército israelense continua com seus bombardeios e operações terrestres. Segundo a Defesa Civil local, 19 palestinos morreram, ontem, nove dos quais tinham ido buscar ajuda alimentar no centro de Gaza.

Demissão barrada

O governo israelense aprovou, ontem, por unanimidade, a destituição da procuradorageral Gali Baharav-Miara, uma crítica ferrenha ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. A decisão, no entanto, não vigorou por muito tempo e foi suspensa pela Suprema Corte após a apresentação de um recurso.

O ministro da Justiça, Yariv Levin, anunciou a deliberação do gabinete, votada durante reunião do Conselho de Ministros, e enviou uma carta a Baharav-Miara, advertindo-a de que "não deveria tentar se impor a um governo que não confia nela e não pode trabalhar de maneira eficaz com ela".

Baharav-Miara está em rota de colisão com o governo por questionar a legalidade de algumas decisões tomadas por Netanyahu, especialmente a tentativa, em maio passado, de destituir Ronen Bar, chefe do Shin Bet, o serviço de segurança interna de Israel.

Também ocupando o cargo de conselheira jurídica do governo, a procuradora-geral do Estado, proibiu Netanyahu de demitir Bar, sob o argumento de que ele estava em situação de "conflito de interesses". Isso por conta de uma investigação do Shin Bet sobre aliados do premiê, suspeitos de receber subornos do Catar.

Após a decisão do gabinete de destituir a procuradorageral, o partido opositor Yesh Atid e várias ONGs apresentaram recursos à Suprema Corte com urgência para anular a decisão. A Suprema Corte barrou a demissão e impediu o governo de nomear um substituto. O julgamento final dos recursos deve ocorrer dentro de um prazo de 30 dias.

  • Google Discover Icon
CB
postado em 05/08/2025 06:00
x