
Uma diretiva da Casa Branca que mira 19 dos principais museus de Washington D.C. causou preocupação e assombro em historiadores americanos. Sob a justificativa de "eliminar as narrativas divisórias ou partidárias", o governo Donald Trump determinou uma revisão das exibições dos estabelecimentos do complexo Smithsonian para assegurar o "alinhamento" com a visão de país defendida pelo presidente Donald Trump. Publicada na quarta-feira no site da Casa Branca, uma carta assinada por Lindsey Halligan, Vince Haley e Russell Vought — assistentes de Trump — explicou que, com a aproximação do 250º aniversário de fundação dos Estados Unidos, "é mais importante do que nunca que nossos museus reflitam a unidade, o progresso e os valores duradouros que definem a história americana".
- Por que Melania Trump ameaça processar filho de Joe Biden em US$ 1 bilhão?
- EUA alertam brasileiras sobre "turismo de nascimento": "Negaremos seu visto"
"Nesse espírito, e em conformidade com a Ordem Executiva 14253, 'Restaurando a verdade e a sanidade da história americana', nós conduziremos uma revisão interna abrangente de museus e exposições selecionados do Smithsonian", afirma a mensagem, dirigida a Lonnie G. Bunch III, secretário da Institução Smithsonian. "Esta iniciativa visa garantir o alinhamento com a diretriz do Presidente de celebrar o excepcionalismo americano, eliminar narrativas divisionistas ou partidárias e restaurar a confiança em nossas instituições culturais compartilhadas." A revisão pretende manter foco em cinco áreas-chave: conteúdo público, processo curatorial, planejamento de exposição, uso do acervo e padrões narrativos. A etapa inicial da revisão contemplará oito museus do complexo Smithsonian: Museu Nacional de História Americana; Museu Nacional de História Natural; Museu Nacional de História e Cultura Africana; Museu Nacional do Índio Americano; Museu Nacional do Ar e do Espaço; Museu Smithsonian de Arte Americana; Galeria de Retratos Nacionais; e Museu Hirshhorn e Jardim de Esculturas. Mais museus serão adicionados em uma segunda etapa.
"Emergência cultural"
Professor de história e diretor do Programa de História Pública da Universidade de Massachusetts Amherst, Samuel J. Redman advertiu ao Correio que os Estados Unidos enfrentam uma "emergência cultural". "Considero a diretiva de Trump uma perigosa intervenção política em um processo, antes independente, por trás da pesquisa e do ensino sobre história e ciência no maior complexo de museus da nossa nação. Embora certas características-chave do Smithsonian tenham a intenção razoável de inspirar os visitantes, muitas outras exposições lançam um olhar crítico sobre os capítulos mais sombrios da história do nosso país", explicou. Segundo ele, o Museu Nacional do Índio Americano não se esquiva dos muitos tratados assinados violados pelo governo federal; nem o Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana ignora a reação ao moderno Movimento pelos Direitos Civis.
"Para entender completamente a história do nosso país, os visitantes do Smithsonian e de outros museus devem conhecer toda a história americana", destacou Redman. O especialista teme que a pressão sobre os museus para darem ênfase a certos conteúdos, combinado com a forte tendência de celebrações patrióticas em torno de grandes aniversários, significa que os americanos e os visitantes estrangeiros provavelmente encontrarão um panorama limitado e enganoso de como os EUA surgiram, nos próximos anos.
EU ACHO...
"As consequências da diretiva de Trump serão de longo alcance. Não só o Smithsonian está sob pressão direta para enfatizar certos tipos de histórias e minimizar outras, como muitas outras organizações culturais estão tomando nota. A Casa Branca — por meio de sua influência sobre agências, como o National Endowment for the Humanities e o National Park Service — deixou clara sua intenção de eliminar histórias mais críticas de exposições públicas, projetos de financiamento e outras programações."
Samuel J. Redman, professor de história e diretor do Programa de História Pública da Universidade de Massachusetts Amherst
Política