GUERRA EM GAZA

Netanyahu promete "terminar o trabalho" em Gaza

Boicotado por dezenas de delegações, inclusive, a do Brasil, premiê de Israel afirma no plenário da ONU que não retrocederá no conflito. Entre aplausos e vaias, ele diz que aceitar a criação do Estado palestino seria "suicídio nacional"

Diante da plateia esvaziada, o líder israelense deu um ultimato ao Hamas, garantindo que vai
Diante da plateia esvaziada, o líder israelense deu um ultimato ao Hamas, garantindo que vai "caçar" os extremistas e resgatar os reféns - (crédito: AFP)

Em protesto contra a guerra na Faixa de Gaza, dezenas de delegações diplomáticas — inclusive, a do Brasil — retiraram-se, ontem, do plenário da Assembleia Geral da ONU pouco antes do discurso do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Diante da plateia esvaziada, entre aplausos e vaias, o premiê defendeu as ações de seu governo contra o Hamas e disse que vai "terminar o trabalho" no enclave "o mais rápido possível", resgatando os reféns feitos pelo grupo extremista.

No pronunciamento, proferido em inglês e em hebraico, Netanyahu prometeu "caçar" os terroristas, rebateu as acusações de genocídio e criticou os países que apoiam a criação do Estado palestino. Aceitar essa medida seria um "suicídio nacional", frisou.

Em determinado momento, ele se dirigiu diretamente aos reféns mantidos pelo grupo armado islamista, após anunciar que as forças israelenses haviam instalado alto-falantes em Gaza para transmitir seu discurso em tempo real.

"Graças a esforços especiais da inteligência israelense, minhas palavras agora também estão sendo transmitidas ao vivo para os celulares dos habitantes de Gaza. Portanto, aos líderes remanescentes do Hamas e aos carcereiros dos nossos reféns, digo agora: deponham as armas. Deixem o meu povo ir. Libertem os reféns, todos eles, os 48", ressaltou, dando o ultimado aos extremistas: "Libertem os reféns agora. Se o fizerem, viverão. Se não, Israel os perseguirá até o fim".

Do lado de fora do prédio das Nações Unidas também houve protesto. Um grupo de manifestantes recebeu Netanyahu com faixas e gritos. O primeiro-ministro israelense é alvo de uma ordem de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) desde o fim de 2024 por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Cessar-fogo

Em Washington, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, externava confiança no fim do conflito. "Acho que temos um acordo", disse Trump a repórteres na Casa Branca nesta sexta-feira. "Acho que é um acordo que nos permitirá recuperar os reféns, que encerrará a guerra", afirmou.

Trump voltou a liderar as negociações esta semana, aproveitando a conferência anual da ONU. Em Nova York, o chefe da Casa Branca se reuniu com líderes de países da região para acalmar as tensões após o ataque aéreo sem precedentes de Israel no Catar com o objetivo de eliminar a cúpula do Hamas.

De acordo com uma fonte diplomática, o magnata republicano apresentou um plano de 21 pontos aos países árabes. Entre eles, estão um cessar-fogo permanente em Gaza, a libertação dos reféns israelenses, a retirada israelense do enclave e um futuro governo em Gaza sem o Hamas, cujo ataque em 7 de outubro de 2023 desencadeou a guerra.

"Mentiras antissemitas"

No discurso, Netanyahu negou as acusações de "genocídio" em Gaza e o uso da "fome" como tática, insistindo que Israel está, na verdade, alimentando a população do devastado território palestino. "Aqueles que propagam os libelos de sangue do genocídio contra Israel não são melhores do que aqueles que propagaram os libelos de sangue contra os judeus na Idade Média", disse.

O líder israelense considerou a saída das delegações do plenário uma encenação. Netanyahu denunciou a comunidade internacional de permitir "mentiras antissemitas". Ele acusou especificamente os países europeus de aceitarem a "propaganda do Hamas" ao pressionar Israel a estabelecer um cessar-fogo e negociar o resgate de reféns, vivos ou mortos, em Gaza. "Veja, por exemplo, as falsas acusações de genocídio: Israel é acusado de atacar civis, mas nada é menos verdadeiro", afirmou.

Israel ficou mais isolado ao longo da semana com o reconhecimento de um Estado palestino por países, como França, Canadá, Reino Unido, Austrália e Portugal. Pelo menos 151 dos 193 membros da ONU já tomaram essa medida, mais simbólica do que efetiva.

Ataques terroristas

O premiê afirmou que aceitar um Estado palestino seria um "suicídio nacional", principalmente porque, enfatizou, a Autoridade Palestina é "corrupta até a medula" e mente quando afirma querer coexistir pacificamente com Israel. "Dar um Estado aos palestinos a uma milha de Jerusalém depois do 7 de outubro é como dar um Estado para a al-Qaeda a uma milha de Nova York depois do 11 de setembro", disse, comparando os ataques a Israel de três anos atrás à ofensiva terrorista contra os Estados Unidos, em 2001.

No dia anterior, o veterano líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, havia dito à mesma assembleia que "o Hamas não terá nenhum papel a desempenhar na governança" de um futuro Estado.

"O Hamas e outras facções terão que entregar suas armas à Autoridade Nacional Palestina", asseverou Abbas, que falou por mensagem de vídeo porque os Estados Unidos lhe negaram um visto para viajar para Nova York.

Após o discurso de Netanyahu, o movimento islamita afirmou que a retirada das delegações evidencia o "isolamento" de Israel como resultado da guerra em Gaza.

 


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postado em 27/09/2025 04:17
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