
O Congresso do Peru destituiu nessa sexta-feira (10/10) a presidente Dina Boluarte em um julgamento político relâmpago motivado pela crise na segurança pública do país. Ela foi substituída pelo presidente do Legislativo, José Jerí. O Ministério Público do país solicitou que a Justiça proíba Boluarte de sair do país enquanto é investigada por crimes de negociação incompatíveis com seu cargo e lavagem de dinheiro.
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O Peru realizará eleições gerais em abril de 2026, e José Jerí, um advogado de 38 anos, deve ficar no cargo até julho, quando o eleito tomará posse. Desde 2016, o país andino teve sete presidentes: três foram destituídos pelo Congresso, incluindo Boluarte; dois renunciaram antes de enfrentar a mesma situação; somente um completou o mandato — Francisco Sagasti, que governou entre 2020 e 2021; o sétimo da lista é Jerí.
"O principal inimigo está fora, nas ruas. Os grupos criminosos, as organizações criminosas são hoje nossos inimigos, e aos inimigos devemos declarar guerra", afirmou o novo presidente. Jerí completará o mandato que Boluarte exercia desde dezembro de 2022, quando assumiu o cargo após o impeachment e prisão de Pedro Castillo.
Após a destituição, aprovada com o voto de 122 parlamentares segundo a apuração final, cerca de 100 pessoas comemoram o fim do governo de Boluarte em frente à sede do Congresso com uma bandeira do Peru, segundo um jornalista da AFP. "Cai Dina. Fora pacto mafioso", dizia um dos cartazes segurados por um dos manifestantes.
A maioria parlamentar aprovou na última quinta-feira quatro movimentos de vacância contra Boluarte, invocando o que foi chamado de "incapacidade moral permanente" para liderar o Executivo.
Na quinta-feira, Boluarte compareceu ao Congresso para se defender no julgamento político. Seu advogado, Juan Carlos Portugal, alegou falta de garantias ao "devido processo" pelo pouco tempo para preparar os argumentos. Durante sua gestão, a ex-presidente chegou a fazer pactos com as forças conservadoras para que não votassem pedidos de destituição. Os acordos, porém, não resistiram ao aumento de casos de violência no país.
"Em todo momento invoquei a unidade, a trabalhar juntos (...) Não pensei em mim, e sim nos mais de 34 milhões de peruanos", declarou ontem Boluarte após sua destituição, em uma mensagem interrompida pelo canal estatal. Sua governabilidade deteriorou-se nos últimos meses devido à crise de segurança e aos protestos de diversos setores.
O processo que levou à ascensão da presidente agora destituída foi marcado por protestos reprimidos pelas forças de segurança, que deixaram cerca de 50 mortos, segundo organizações de direitos humanos.
A Procuradoria a investigou nesse caso, além de em outros dois processos; um por suposto abandono do cargo, ao operar o nariz sem avisar, como determina a lei; e outro, pelo chamado Rolexgate, escândalo que estourou em 2024 quando apareceu com joias de luxo não declaradas na lista de bens.
Instabilidade constante
De acordo com Ricardo Caichiolo, professor de relações internacionais e diretor do Ibmec Brasília, a destituição da presidente Dina Boluarte pelo Congresso peruano marcou mais um capítulo da longa e conturbada história política do país. "O Peru volta a enfrentar uma crise institucional, que expõe a fragilidade de seu sistema político e a dificuldade em manter a estabilidade governamental. O afastamento de Boluarte amplia a sensação de incerteza que há tempos afeta o cenário nacional. Essa instabilidade compromete a confiança da população nas instituições."
Desde a queda do ex-presidente Alberto Fujimori, que governou entre 1990 e 2000, o país enfrenta uma instabilidade política significativa, marcada por sucessivas crises e mudanças no comando do Executivo. Nos últimos 25 anos, o Peru teve 11 presidentes, dos quais somente três conseguiram cumprir o mandato completo de 5 anos.
Conforme Regiane Bressan, professora de relações internacionais na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Peru vem se alinhando muito em relação aos Estados Unidos. "O que espero nesse momento é que essa aproximação continue. É um país que não está sob governos progressistas, e com tanta instabilidade fica mais vulnerável, por exemplo, à interferência dos Estados Unidos", analisa.
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