Guerra na Ucrânia

Ucrânia: Putin quer o Donbass, nem que seja "pela força"

Em visita à Índia, presidente da Rússia reafirma que conquistará os territórios invadidos em 2022, ainda que seja necessário continuar com o avanço de suas tropas pela Ucrânia. Nos EUA, negociador ucraniano reúne-se com os emissários de Donald Trump que mantiveram negociações com Vladimir Putin no Kremlin

 In this pool photograph distributed by the Russian state agency Sputnik, Russia's President Vladimir Putin and Indian Prime Minister Narendra Modi sit in a car as they depart Palam Air Force Base following the Russian leader's arrival in New Delhi on December 4, 2025, the first day of his two-day state visit to India. (Photo by Grigory SYSOYEV / POOL / AFP)
       -  (crédito: Grigory Sysoyev/AFP)
In this pool photograph distributed by the Russian state agency Sputnik, Russia's President Vladimir Putin and Indian Prime Minister Narendra Modi sit in a car as they depart Palam Air Force Base following the Russian leader's arrival in New Delhi on December 4, 2025, the first day of his two-day state visit to India. (Photo by Grigory SYSOYEV / POOL / AFP) - (crédito: Grigory Sysoyev/AFP)

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, reiterou nesta quarta-feira (4/12) a determinação de conquistar completamente a região ucraniana do Donbass, seja "pela força militar" ou pela retirada voluntária das forças ucranianas. A declaração, feita durante visita à Índia, precedeu o encontro, nos EUA, entre uma delegação da Ucrânia e os emissários norte-americanos que se reuniram na véspera com Putin, no Kremlin.

Fique por dentro das notícias que importam para você!

SIGA O CORREIO BRAZILIENSE NOGoogle Discover IconGoogle Discover SIGA O CB NOGoogle Discover IconGoogle Discover

Durante entrevista ao jornal India Today, antes de ser recebido pelo primeiro-ministro Narendra Modi, o líder russo afiançou a decisão de "liberar o Donbass e a Nova Rússia". O território mencionado abrange as províncias de Donetsk e Lugansk, controladas em grande parte por Moscou — mas não completamente —, e as de Kherson e Zaporizhia, sob ofensiva. Em seguida à invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, Putin formalizou a anexação das áreas, sem reconhecimento internacional.

Na chegada a Nova Délhi, o presidente russo reconheceu que as negociações em torno do conflito, mediadas por Washington com interferência direta de Donald Trump, são "complexas" e representam para a Casa Branca "uma missão difícil". "Alcançar o consenso entre as partes em conflito não é uma tarefa fácil, mas acredito que o presidente Trump está tentando sinceramente", acrescentou. "Acho que devemos participar desse esforço, em vez de obstruir."

O enviado especial dos EUA para a Ucrânia, Steve Witkoff, e o genro do presidente, Jared Kushner, reuniram-se ontem na Flórida com o principal negociador ucraniano, Rustem Umerov, para relatar os resultados do encontro da última terça-feira, em Moscou. Como gesto de boa vontade, o Departamento do Tesouro suspendeu até o fim de abril um pacote de sanções imposto à petroleira russa Lukoil.

Em uma apreciação inicial, Trump considerou os resultados da visita "muito bons", embora ambas as partes tenham admitido que não concluíram "nenhum compromisso" para a paz. "A impressão deles foi de que (Putin) gostaria de que a guerra terminasse", disse à imprensa. O lado russo deixou clara a rejeição a "alguns pontos inaceitáveis" do plano, costurado inicialmente entre Washington e Moscou, e depois emendado para contemplar queixas da Ucrânia e dos aliados europeus — mas ressalvou que a proposta não foi recusada totalmente.

O texto original prevê que a Ucrânia ceda as porções de território reivindicadas pela Rússia, mas não conquistadas militarmente após quase quatro anos de guerra. Em troca, define garantias de segurança para o governo de Kiev, mas não atende à reivindicação de ingresso pleno na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), objetivo declarado do presidente Volodymyr Zelensky e um dos motivos alegados pelo Kremlin para a invasão.

Fissuras

A iniciativa diplomática de Donald Trump vem abrindo fissuras com os aliados europeus da Otan, como evidenciou ontem a revista alemã Der Spiegel. Com base na transcrição confidencial de uma teleconferência entre governantes europeus, à qual seu site teve acesso, a publicação revela que o chanceler (chefe de governo) Friedrich Merz teria aconselhado Zelensky a "tomar muito cuidado" com as articulações entre a Casa Branca e o Kremlin: "Eles estão fazendo joguinhos com vocês (ucranianos) e conosco (europeus)".

De acordo com a Spiegel, o presidente da França, Emmanuel Macron, teria sido até mais direto e sugerido que os EUA poderiam "trair a Ucrânia na questão territorial sem garantias claras de segurança". Questionado pela revista, o Palácio do Eliseu se recusou a informar sobre o conteúdo das conversações, em nome da confidencialidade, mas assegurou que "o presidente não se expressou nesses termos". 

Encontro entre amigos na Índia

Um abraço caloroso do anfitrião, o premiê Narendra Modi, marcou nesta quinta-fera (4/12) o desembarque do presidente Vladimir Putin em Nova Délhi, marco destacado por ambos os lados na retomada da relação bilateral histórica entre Rússia e Índia. Os dois se deslocaram de carro desde a base aérea de Palam e iniciaram com um jantar de gala a programação oficial da visita de dois dias. Na sexta-feira (5/12) teriam reunião na qual o tema central seria a cooperação na área de defesa. A Índia é um dos principais importadores de armas, e a Rússia, uma fornecedora tradicional. A aproximação coincide com a imposição, por Donald Trump, de uma sobretaxa de 50% sobre a importação de produtos indianos, como represália pela compra de petróleo russo. Embora aliado dos EUA, Modi até aqui se recusa a suspender as transações com Moscou.

 

  • Google Discover Icon
postado em 05/12/2025 05:58
x