
No centro do palco instalado na sede da Prefeitura de Oslo, à direita do púlpito, uma imensa foto de María Corina Machado, a principal homenageada — e a maior ausência — da noite. Horas depois de ter sido representada pela filha, Ana Corina Sosa Machado, que recebeu o diploma e a medalha do Prêmio Nobel da Paz, a líder opositora venezuelana escreveu em seu perfil no Instagram: "Esta é a história de um povo e de sua longa marcha rumo à liberdade". "Que honra escutar meu discurso de aceitação do Nobel da Paz na voz de minha filha — e saber que, muito em breve, serei capaz de abraçá-la e à minha família novamente", acrescentou.
Há um ano na clandestinidade, María Corina deixou a Venezuela, na última terça-feira, e viajou em segredo, a bordo de um bote, até Curaçao, revelou o jornal The Wall Street Journal. A jornada pelo mar foi tensa, em meio a águas revoltas. De lá, ela embarcaria em um avião para a Noruega, onde chegaria à capital na noite de ontem.
Diretor do Comitê Nobel Norueguês, Jorgen Watne Frydnes fez uma advertênciaa o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro. "Você deveria aceitar o resultado das eleições e renunciar. Estabeleça as bases para uma transição pacífica rumo à democracia, pois essa é a vontade do povo venezuelano", declarou, em seu pronunciamento durante a entrega do Nobel da Paz. Na plateia, estavam Corina Parisca de Machado, mãe de María Corina; os presidentes Javier Milei (Argentina), Jose Raul Mulino (Panamá) e Santiago Pena (Paraguai); além do rei norueguês, Carl Gustaf.
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"Voltará a respirar"
No discurso lido pela filha, María Corina Machado avisou que a Venezuela voltará a respirar. "Ao longo dessa marcha à liberdade, conquistamos profundas certezas da alma — verdades que deram um significado mais profundo às nossas vidas e nos prepararam para construir um futuro grandioso em paz. Portanto, a paz é, em última análise, um ato de amor. Esse amor colocou nosso futuro em movimento. A Venezuela voltará a respirar", prometeu. A vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, ironizou a solenidade de entrega do Nobel. "Aquilo parecia um velório, era um velório, um fracasso, fracasso total. O show fracassou, e a senhora não apareceu."
Integrante da equipe de María Corina, a consultora política e advogada Xiomara Sierra — hoje exilada na Espanha — considera "indescritível" a sensação de testemunhar a entrega do Nobel da Paz para a líder opositora. "Durante mais de duas décadas, temos lutado contra os regimes de Hugo Chávez e de Maduro. Tenho a acompanhado por mais de dez anos. Estamos muito orgulhosos. Aqui, em Oslo, venezuelanos exilados em várias partes do mundo vieram nos abraçar", contou ao Correio, por telefone. "Em poucas horas, veremos María Corina aqui, em Oslo. Ela receberá o carinho das pessoas, para retornar à Venezuela recarregada de esperança e de força para a libertação."
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Sob condição de anonimato, uma venezuelana que trabalhou por três anos com María Corina, depois da graduação em sociologia pela Universidad Católica Andrés Bello, comparou o Nobel da Paz a "uma jornada muito emocionante". "É o sentimento generalizado dos venezuelanos que estão dentro do país e os do exílio. Muitas pessoas ficaram comovidas e choraram, ante as palavras do diretor do Comitê Nobel Norueguês e de Ana Corina", disse ao Correio. De acordo com a ex-funcionária, seria ingenuidade pensar que o Nobel da Paz representará uma mudança imediata. "No entanto, vejo uma reorganização do tabuleiro político na Venezuela. O Nobel move três peças que podem produzir transformações reais: o apoio moral, o apoio narrativo e o apoio diplomático."
Ela explicou que os venezuelanos foram despojados de direitos. "Não se trata de um conflito interno, mas da violação dos direitos humanos, que afeta a América Latina. Isso deveria obrigar os atores internacionais a se posicionarem", advertiu a ex-funcionária. (RC)

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