O governo do Canadá desistiu de exibir nomes no controverso Memorial às Vítimas do Comunismo após descobrir a ligação de mais da metade dos homenageados com o regime nazista. A inauguração oficial ocorreu em dezembro de 2024 em Ottawa, capital do país, mas apenas com a instalação Arco da Memória e sem os nomes das 553 supostas vítimas.
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Na ocasião, Ludwik Klimkowski, líder da Tribute To Liberty, organização responsável pelo memorial, declarou que os nomes seriam inseridos em até um ano. No entanto, um ano depois, placas pretas escondem quem são esses indivíduos.
Levantamento feito por historiadores e organizações judaicas mostram que cerca de 330 dos 553 homenageados estão ligados ao nazismo e ao holocausto. A informação ganhou destaque ainda em 2024, quando o Ottawa News divulgou que o Departamento do Patrimônio Canadense teria sido informado sobre a polêmica.
Com isso, o Canadá resolveu mudar de estratégia. Comunicados do governo afirmam que a intenção do monumento seria mostrar o país como um refúgio para aqueles que fugiram da injustiça e perseguição. “O Governo do Canadá continuará a assegurar que todos os aspectos do Memorial permaneçam compatíveis com os valores canadianos em matéria de democracia e direitos humanos”, diz texto disponível no site do Departamento.
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Ao Ottawa News, a porta-voz do setor, Caroline Czajkowski, afirmou que o Muro da Lembrança, local onde ficariam os nomes dos homenageados, iria mostrar "exclusivamente conteúdo temático que transmita a intenção comemorativa e educacional mais ampla do Memorial". Ela também informou que não há cronograma para a conclusão do projeto com os 553 nomes.
Nomes homenageados
As denúncias de associados nazistas entre os homenageados começaram em 2021. Na época, um relatório da organização Amigos do Centro Simon Wiesenthal mostrou que mais da metade dos nomes tinha relação com o regime extremista de Adolf Hitler.
Entre eles, está o nome do croata Ante Paveli. O líder fascista comandou um regime pró-nazismo na Croácia e um dos principais responsáveis pelo terror do holocausto nos balcãs.
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O ultranacionalista ucraniano Roman Shukhevych, que também aparece entre os homenageados, teria ordenado a morte de mais de 100 mil pessoas no genocídio aos poloneses. O nome dele foi removido após inúmeras manifestações de grupos de pesquisa sobre o holocausto.
O Canadá também incluiu, em 2023, o nome do soldado nazista Janis Niedra, mas retirou posteriormente. Ele é acusado de liderar o massacre nazista na Letônia.
Iniciativa controversa
A construção do Memorial foi aprovada em 2009, idealizada pelo governo do então primeiro-ministro conservador Stephen Harper em parceria com o Tribute to Liberty, organização que reúne imigrantes do Leste Europeu. A iniciativa deveria ser financiada pelo setor privado, no entanto, como afirma o Ottawa News, a arrecadação foi abaixo do esperado e a gestão pública precisou arcar com parte dos custos. Os valores também saltaram do US$ 1,5 milhão planejados para cerca de US$ 7,5 milhões.
Mais de uma década depois, em 2023, a inauguração do monumento teve que ser adiada mais uma vez após polêmica. Na ocasião, o Parlamento do país fez uma homenagem ao ucraniano Yaroslav Hunka, na época com 98 anos. O veterano da Segunda Guerra foi chamado de herói que lutou contra o comunismo pelo líder da Casa, Anthony Rota, e aplaudido de pé em solenidade contou com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Hunka, no entanto, foi um soldado voluntário da Divisão da Galícia, acusada de matar judeus na região entre Ucrânia e Polônia. Após a polêmica, Zelensky e o então primeiro-ministro canadense Justin Trudeau tiveram que prestar pedidos de desculpa formais. O líder do Parlamento, Anthony Rota, renunciou ao cargo.
