A Guarda Costeira dos Estados Unidos perseguiu, neste domingo (21/12), um petroleiro próximo à costa da Venezuela, no Mar do Sul do Caribe. Na véspera, os militares abordaram a embarcação e constataram que ela navegava rumo ao país de Nicolás Maduro com uma bandeira inválida, supostamente para receberum carregamento de petróleo. Com um mandado de apreensão emitido por um juiz federal americano, tentavam nova interceptação, depois que o navio recusou-se a permitir o embarque dos militares. O site Marine Traffic mostrou que o petroleiro, identificado pelo nome Bella 1, estava nas imediações de Antígua e Barbuda e se deslocava a uma velocidade de 2,9 nós — o equivalente a 5,3km/h — em circunstâncias normais, um petroleiro navega a 17 nós. Com 333m de comprimento, o Bella 1 ancorou pela última vez no Porto de Suez, no Egito, em 26 de novembro. A medida sinaliza uma intensificação do cerco naval ao regime venezuelano.
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Sem citar diretamente os EUA, Maduro afirmou que seu país é vítima de "corsários que assaltaram petroleiros". "É muito importante saber a diferença entre piratas e corsários. Os piratas existiram e eram grupos privados que se dedicavam, nos mares do mundo, a roubar. Os corsários são piratas contratados por um Estado imperial", declarou, em pronunciamento por vídeo publicado em seu perfil no Instagram.
De acordo com ele, a Venezuela tem enfrentado 25 semanas de uma "campanha de agressão, que inclui desde o terrorismo psicológico até a pirataria dos corsários, que roubaram o petróleo". Maduro também assegurou que seu país está preparado "para acelerar a marcha de uma revolução profunda, que dará o poder ao povo". No vídeo, Maduro usou um boné vermelho e branco, similar ao usado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, mas com a frase "Não à guerra, sim à paz", em inglês.
O Bella 1 foi o terceiro navio abordado pelos militares norte-americanos desde 16 de dezembro, quando Trump anunciou um "bloqueio total e completo aos petroleiros sancionados que entram e saem da Venezuela". Também no sábado, outra embarcação de transporte de petróleo, o Centuries, tinha sido apreendido pelos EUA depois de carregar 1,8 milhão de barris em um porto da Venezuela.
Delcy Rodríguez, vice de Maduro, qualificou a interceptação do Centuries de "ato de pirataria internacional". "A República Bolivariana da Venezuela denuncia e rejeita o roubo e o sequestro de um petroleiro privado venezuelano, bem como o desaparecimento de sua tripulação, realizado pelos Estados Unidos em águas internacionais", afirmou, por meio de um comunicado. "O modelo colonialista que os EUA buscam impor por meio de tais práticas fracassará e será derrotado pelo povo venezuelano", acrescentou. O regime de Maduro prometeu levar o caso ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas e a outros organismos multilaterais.
Orlando Vieira-Blanco — ex-diplomata venezuelano, cientista político e colunista do jornal El Universal — disse ao Correio que as apreensões de petroleiros são "uma consequência de anos de sanções provocadas pela violação dos direitos humanos, de abusos do Estado, de abusos contra civis inocentes e de crimes internacionais — como contrabando, pirataria e lavagem de dinheiro". "São, também, uma resposta à evasão de sanções por meio de empresas de fachada, operações ou embarcações", observou.
Compensação
Ex-presidente da Palmaven, uma filial da estatal petrolífera PDVSA na área da responsabilidade social, Eddie Ramírez lembrou à reportagem que, inicialmente, Trump declarou que capturaria os navios sancionados que transportam petróleo da Venezuela para outros países. "Isso se justifica porque não se sabe o que mais esses navios piratas poderiam estar transportando e, além disso, provavelmente não possuem seguro, o que é um problema, caso sofram um acidente e causem um derramamento de petróleo. Agora, Trump acusa a Venezuela de expropriar várias empresas dos EUA e deseja uma compensação com petróleo dos navios capturados", explicou.
Por isso, Ramírez acredita que a intenção de Trump não é uma invasão ao território venezuelano, nem uma extração militar de Maduro. "Creio que o que preocupa os EUA, além do narcotráfico, é a presença de um regime inimigo que facilita a atuação da Rússia, da China, de Cuba e do Hezbollah", comentou o venezuelano, hoje exilado nos Estados Unidos.
Ligações com o Hezbollah
O Bella 1 alvo de sanções impostas pelo Departamento do Tesouro em 2004, por supostamente transportar carregamentos para o grupo fundamentalista xiita libanês Hezbollah e para a Força Quds, o batalhão de elite da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã.
EU ACHO...
"A apreensão dos petroleiros é consequência do maior saque republicano da história do país, e de uma ameaça real à estabilidade do hemisfério. É o resultado da destinação do petróleo dos venezuelanos aos bolsos de aliados anti-Ocidente e da corrupção. É um passo crucial para a reforma de uma ordem pública internacional, que não pode tolerar o abuso contínuo das águas internacionais."
Orlando Viera-Blanco, ex-diplomata venezuelano, cientista político e colunista do jornal El Universal
"Tenho confiança de que essa pressão provocará a reação da nossa Força Armada Nacional Bolivariana, a qual obrigará Nicolás Maduro a reconhecer a eleição de Edmundo González. Vale recordar que, apesar do pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Maduro não publicou as atas de votação, pela simples razão de que perdeu o pleito por ampla maioria."
Eddie Ramírez, ex-presidente da Palmaven, filial da estatal de petróleo PDVSA na área da responsabilidade social
