PANDEMIA

Artigo: "É preciso dar um basta no 'liberou geral'"

"Ninguém aguenta mais lockdown, mas rodas de samba, festas clandestinas, bares lotados estão por aí. Ocorrem tanto em clubes às margens do Lago Paranoá quanto em cidades mais afastadas da área central da capital do país, mas nada é feito para combater na origem"

Roberto Fonseca
postado em 21/05/2021 06:00
 (crédito: Baptiste MG/Unsplash)
(crédito: Baptiste MG/Unsplash)

Há exatos três anos, uma categoria começava a parar o Brasil. Naquele 21 de maio de 2018, teve início a greve dos caminhoneiros. Durante 10 dias, o país conviveu com dificuldades de abastecimento em diversas capitais. Escassez e alta da gasolina foram os problemas mais comuns, mas os transtornos ocorreram aos montes, como suspensão de aulas, restrição na circulação do transporte coletivo e cancelamento de voos.

Agora, com o preço dos combustíveis nas alturas, o governo lança um pacote de incentivos aos caminhoneiros para conter ameaças de greve. Batizado de Gigantes do Asfalto, o programa prevê ações para melhoria da infraestrutura rodoviária, regulação e serviços de apoio, financiamento específico para os trabalhadores e ações para melhoria da qualidade de vida. Nada mais justo. O grande problema é que o Estado brasileiro é reativo, e muito pouco proativo. Em vez de se antecipar aos problemas, reage-se a eles. Se não fosse a ameaça de bloqueios das estradas, o Gigantes do Asfalto seria lançado? Difícil, não é?

Assim, sendo majoritariamente reativo, tudo fica mais complicado. Veja, por exemplo, a situação atual da pandemia. Estamos no meio da mais grave crise sanitária dos últimos 100 anos, e o país não tem um planejamento efetivo para sair dela. Aposta-se tudo na vacinação, que avança a passos lentos, mas corre-se o risco de sermos tragados por mais uma grande onda de infecções por covid-19. A cepa indiana é a nova ameaça, alertam epidemiologistas, porque apresenta alterações na proteína spike, com maior resistência e maior transmissibilidade do vírus. E o que tem sido feito para contê-la?

E toda essa ameaça nos assombra com a média móvel de casos e mortes em um patamar muito alto, praticamente o dobro do pico registrado em 2020. Como a testagem é muito baixa no Brasil e não existe rastreio do vírus, ficamos à mercê dos indicadores de internações e taxa de ocupações de UTI. Na prática, tem funcionado assim no Brasil: se aumenta, fecha tudo. E não pode ser só dessa forma.

Ninguém aguenta mais lockdown. É fato. Mas é preciso, sim, dar um basta no clima de “liberou geral” que volta a tomar conta de uma parcela expressiva da população. Rodas de samba, festas clandestinas, bares lotados estão por aí. Ocorrem tanto em clubes às margens do Lago Paranoá quanto em cidades mais afastadas da área central da capital do país, mas nada é feito para combater na origem. Por isso, fica o alerta: é preciso mais do que ser reativo para conter a pandemia. Isso está claro.

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