Opinião

Pantomima do governo contra os garimpeiros

Circe Cunha
postado em 26/11/2021 06:00

Quando se diz que o mundo tem os olhos postos sobre o que acontece agora na Região Amazônica, é porque trata-se de fato corroborado pelas lentes dos inúmeros satélites espaciais que cruzam essa região a todo momento. Não adianta, pois, o governo e seus apoiadores fazerem discursos de que os países desenvolvidos só estão interessados nas riquezas minerais e em outras preciosidades que se escondem nessa imensa área.

Não é com discursos diversionistas, políticos e ideológicos que a realidade daquela região será alterada. Insuflar a sociedade e, sobretudo, o mundo civilizado, fazendo-os acreditar que o atual governo vem adotando prontamente todas as medidas necessárias para conter o avanço impiedoso da destruição, é uma tática que não mais funciona. Ainda mais quando a credibilidade nesses assuntos se encontra, perante o mundo, mais por baixo do que tapete de porão.

De fato, a ação só vem quando a situação adquire proporções alarmantes, não restando outras alternativas que não sejam aquelas de intervenção. Afirmar, ainda, como fazia o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, uma espécie de despachante a serviço dos madeireiros, que o que ocorre hoje na Amazônia não pode ser enquadrado como crime ambiental, mas é, antes de tudo, decorrente de uma questão social, não condiz com os fatos e dá ao problema uma falsa feição dentro do nosso contexto histórico do coitadismo.

Tal afirmação é não só uma falácia para acobertar crimes, como não serve para resolver um problema provocado pela falta de comprometimento com o meio ambiente. A razão é simples: sem a preservação imediata do meio ambiente naquela região, as condições que são ruins para todos que lá vivem vão alcançar um patamar em que será praticamente impossível habitar aquela área.

O esgotamento dos recursos naturais da região decretará também o fim do estabelecimento da presença humana naquelas paragens, contribuindo para tornar o planeta mais próximo de uma catástrofe climática, com a desertificação irreversível do Centro-Oeste brasileiro, entre outros males.

São crimes cujas consequências nefastas afetarão, profundamente, essa geração que engloba a elite do governo e também as futuras. Essa é a razão fundamental que faz com que o poder público não atue a contento, uma vez que os efeitos danosos dessa improbidade se farão sentir quando todos tiverem dado adeus a esse plano existencial.

O descaso pode ser, mais uma vez, conferido agora com a suposta descoberta de ouro no leito do Rio Madeira. Centenas de embarcações, com potentes sugadores, vêm varrendo o solo desse importante curso d'água, destruindo a fauna e a flora do Madeira. Uma situação degradante que chama a atenção do mundo para mais um pesadelo criminoso. O governo sabia o que ocorria, mas não agiu, na expectativa de que essa atrocidade passasse sem chamar a atenção do mundo e dos brasileiros. Agora, e contra a sua vontade, terá de agir ou fingir pelo menos que está tomando alguma medida, numa pantomima contra os garimpeiros amigos.

 

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