O governo, comandado pelo Centrão, não tem limites. Na ânsia de garantir o segundo mandato ao presidente Jair Bolsonaro, humilhou, mais uma vez, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e incentivou um de seus aliados a apresentar, na Câmara dos Deputados, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que autoriza a desoneração dos combustíveis e deve resultar em perdas de R$ 54 bilhões aos cofres públicos. Como tudo no Legislativo chega de um tamanho e pode sair maior do que entrou, há uma proposta semelhante no Senado que amplia a fatura para R$ 100 bilhões. Não por acaso, esse projeto está sendo chamado por auxiliares de Guedes de "PEC Kamicaze", tamanho o estrago que pode fazer no quadro fiscal.
A PEC original foi elaborada na Casa Civil, com o aval do ministro Ciro Nogueira, um dos caciques do Centrão. Tudo com o apoio de Bolsonaro, que havia sido alertado por Guedes de que a medida, se aprovada, será um tiro no pé do governo, por tirar impostos de um setor altamente poluente, que, na verdade, deveria ser sobretaxado. O presidente, porém, foi convencido pelo Centrão de que, se quiser a reeleição, deve atacar um de seus pontos mais frágeis, a alta dos preços da gasolina e do diesel. Tais produtos afetam diretamente a classe média e os caminhoneiros, esses, da base de sustentação do Planalto.
Com seu uniforme populista, Bolsonaro está pouco se importando para os riscos fiscais que criará se a porteira for aberta pelo Senado, que, além dos combustíveis, prevê isenção de impostos sobre energia elétrica, cria um auxílio diesel para caminhoneiros, dá subsídios para famílias de baixa renda comprarem gás de cozinha e garante repasse de recursos federais para cobrir passagens de idosos em transportes urbanos. Se todas essas benesses receberem o aval de deputados e senadores, o desastre será grande e minará qualquer possibilidade de ganho dos consumidores. A razão é simples, sem credibilidade fiscal, o dólar disparará e obrigará a Petrobras a reajustar o valor da gasolina e do diesel. Não há almoço grátis.
Por isso, todos os alertas dos técnicos da equipe econômica que ainda têm bom senso. Eles afirmam, ainda, que a inflação se encontra em um patamar muito elevado. Na melhor das hipóteses, só ficará abaixo de dois dígitos a partir de maio. A carestia está tão resistente que o Banco Central subiu, pela oitava vez seguida, a taxa básica de juros (Selic), agora, em 10,75% ao ano. Avisou, ainda, que, diante das incertezas fiscais e da resistência dos preços, continuará com o aperto monetário, mesmo que isso empurre o país para a recessão. Fala-se em juros acima de 12% ao ano. Selic maior significa crédito mais caro, menos consumo, produção menor e desemprego.
A irresponsabilidade daqueles que defendem arroubos populistas mostra o quanto o Brasil está dominado pelo atraso. Foca-se apenas o curto prazo, independentemente dos estragos duradouros de medidas como a PEC dos Combustíveis. Devido a estripulias dos governos de plantão, na última década, o crescimento médio do país foi inferior a 1% anual. O resultado foi a destruição de empregos, a volta do país ao mapa da fome e o retorno da desconfiança.
Quando aqueles que recebem a missão das urnas de colocar a nação no rumo da prosperidade vão tomar juízo? Não é possível que continuem enganando a população com promessas vazias. Felizmente, as eleições estão a caminho. Uma oportunidade e tanto para o país se livrar daqueles que lhe fazem tão mal.
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