ELEIÇÕES 2022

Análise: artistas devem falar de política? Claro, não tente calá-los

Se a opinião de um artista não agrada, respeite. Ninguém é obrigado a pensar da mesma forma que a gente — muito menos ter um gosto musical só por conta disso

Roberto Fonseca
postado em 01/04/2022 06:00
 (crédito: Reprodução )
(crédito: Reprodução )

Em uma semana que chega ao fim repleta de novidades na disputa pelo Palácio do Planalto, com a desistência do ex-juiz Sergio Moro e as discussões sobre o cabeça da chapa tucana, há um fato que mobilizou aliados e simpatizantes de Jair Bolsonaro: a ação movida no TSE pelo partido do presidente contra manifestações políticas no Festival Lollapalloza, realizado no último fim de semana em São Paulo. E a avaliação é de que o processo trouxe mais danos do que benefícios à candidatura pela reeleição.

Dados da Consultoria Bites, por exemplo, mostram que a política ofuscou a parte musical do festival. Praticamente 40% das postagens no Twitter em relação ao Lolla faziam menção a Bolsonaro, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou à decisão do TSE por causa da censura imposta aos artistas. Então, fica um questionamento importante: se não fosse a ação do PL, o gesto da cantora Pablo Vittar de erguer uma bandeira com a imagem de Lula, provável candidato petista à Presidência da República, a repercussão política seria parecida? Tenho certeza que não.

Logo, o Lolla vai deixar uma lição a políticos e simpatizantes. Tentar censurar uma manifestação artística será sempre um erro, se estiver dentro das normas sociais e legais. Era o caso. A decisão do ministro Raul Araújo, do TSE, repercutiu bastante dentro do meio jurídico. Muitos juristas viram a medida como um precedente perigoso, principalmente por que ataca a liberdade artística garantida na Constituição e que propaganda eleitoral não deve ser confundida com manifestação de opinião.

Então, se a opinião de um artista não agrada, respeite. Ninguém é obrigado a pensar da mesma forma que a gente — muito menos ter um gosto musical só por conta disso. Como escrevi neste espaço há três semanas, a participação política de atores e cantores faz muito bem para a democracia. Eles são uma peça importante no tabuleiro por terem interlocução direta com a sociedade, e serem capazes de tirar da inércia uma parcela da população que só se preocupa com o futuro da nação a cada quatro anos.

Todos vão a um show de rock, sertanejo, rap, axé, MPB, entre tantos ritmos musicais, para curtir o som do artista. E manifestações de opinião fazem parte da regra do jogo. É quando recados são dados. Liberdade de expressão é uma das marcas da pluralidade de um país. Discorde, mas com argumentos. Não tente calar, muito menos xingar ou agredir. A sociedade agradece. Pode ter certeza.

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