Bahia

Artigo: Nós, os barreirenses (2)

Irlam Rocha Lima
postado em 14/06/2022 06:00
 (crédito: Reprodução/Facebook)
(crédito: Reprodução/Facebook)

A crônica, publicada neste espaço, em 24 de maio, intitulada Nós, os barreirenses, repercutiu entre os conterrâneos radicados em Brasília, os de fora dos limites do Distrito Federal e, principalmente, os que moram em Barreiras. Vários chegaram a achar que o texto poderia ter se estendido, falando de outros aspectos, lugares, eventos e personagens que fazem parte da história da cidade — chamada orgulhosamente de capital do Oeste Baiano.

Isso me levou a escrever, digamos, a segunda parte do artigo. Para tanto não me ative apenas à memória. Fiz conexão com um contemporâneo Manoel Benevides Filho, mais conhecido por Bené Setenta, barreirense-raiz, embora seja há muito tempo morador da capital. Aqui, criou o grupo teatral Grutta, que encenou peças como Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri. De Bené, obtive informações que contribuíram para levar ao leitor, reminiscências, dos períodos da infância e de parte da adolescência — tão caras para mim.

Vou começar pela comunicação. Em nossa cidade, as pessoas eram ligadas no serviço de autofalante: Haviam dois. Um era o do Cine Roma, que entrava no ar às 17h, tendo como prefixo In the mood, um standard do jazz, gravado pela orquestra de Glenn Miller. O outro, o do Dragão Social, que a partir das 20h, tocava sucessos de artistas da Rádio Nacional. Embora fosse apenas um modesto serviço de autofalante, entrou para o nosso imaginário de forma grandiloquente, como Rádio Educadora de Barreiras (REB). Para tanto, contribuiu o programa de auditório, com a participação de Conceição Silva. Delzuite Gomes, Eudóxia Rocha, Iaci Jacarandá, Ieta Dias e Vilaní, que interpretavam músicas de sucesso gravadas por Nora Ney, Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Marlene e Emilinha Borba,— estrelas da Nacional. A emissora transmitia jogos do Campeonato Carioca, pela voz de Jorge Cury, que ouvíamos com absoluta atenção — principalmente os do Flamengo.

Por falar em futebol, o Corintians, criado por Geraldão — hoje, nome do estádio local — , nos enchia de alegria aos domingos, após as vitórias do time que teve Titinho, Ney Melo, Zé Domingos, Walmirzinho, Herondino, Zé de Hermes e os irmãos Moraes entre os craques. Tempos depois, Zé de Hermes se tornou agitador cultural, encarnando inclusive o personagem do Pierrot, durante o carnaval, desfilando no Bloco das Mulheres Casadas, criado por Magali Gualberto. O Sá Mãe foi outro bloco famoso. Tempos depois, com o advento da axé music, a produtora Ki-Marrei, de Guga Lima, passou a comandar a folia.

Guardo boas lembranças, igualmente, das novenas de São João na igreja-matriz (cujas badaladas do sino eram feitas pelo saudoso Nezinho); e da celebração do Natal, na Igreja Batista, quando ao lado o meu irmão, Darlam, das minhas irmãs, Deyse e Evilene, e dos irmãos Johnson e Aníbal Barbosa Filho, entre outros, participava do coro, cantando hinos e canções natalinas. Recordo-me também das missas dominicais da Igreja de Santa Terezinha, na Rua Silva Jardim, próxima à casa da minha família. Destaco, por razões diversas, outras vias: Rua das Palmeiras, Rua do Humaitá, Rua de Todos os Santos e Rua da Umburana, além da Praça Duque de Caxias, onde ficavam o Paço Municipal (prefeitura) e o coreto, palco para apresentações da filarmônica, que chamávamos de Furiosa; e dos recitais de Joaquim Neto, que teatralmente costumava interpretar Esmeralda, bolero bastante popular na época.

Não posso deixar de me referir, igualmente, a lugares como o cais, ponto de encontro para intermináveis bate-papos, principalmente nas tardes de domingos; Bar Paraibano, misto de sorveteria e salão de sinuca; Big Bar, outra sorveteria com salão de festa em anexo; Barbearia do Kolinos, onde costumava ler o jornal Última Hora, trazido do Rio de Janeiro por aviões da Panair, que faziam escala em Barreiras, antes de seguir para Belém. São inesquecíveis, também, as figuras folclóricas e marcantes de Badu, Fulô, João Gasolina, Joaquim Galinha Cega, Suringa, Antoninha, Maria Borcão, Pegué e Nicanor do Boa — cada um com sua história —, pelas quais tinha grande simpatia. Por essas e outras, Barreiras ficará guardada para sempre, de forma indelével, na minha memória afetiva.

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