Se a vida dos brasileiros estava difícil antes da pandemia do novo coronavírus, tudo ficou pior a partir da maior crise sanitária mundial dos últimos 100 anos. Até o ano passado, 10,8% da população estava abaixo da linha da pobreza. Com a pandemia e os altos e baixos das medidas sociais compensatórias (os auxílios emergencial e Brasil), mais 7,2 milhões engrossaram esse segmento, que, hoje, soma 23 milhões de pessoas — o mais alto nível da série histórica — com renda mensal de até R$ 210, segundo estudo do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas — bem abaixo dos R$ 1.212 fixado para o salário mínimo.
Em contrapartida, a inflação acumulada nos últimos 12 meses chegou a 11,73% (maio 2022). Para conter a fúria desse dragão, que corrói os salários, diminui o poder de compra dos trabalhadores e impõe mais dificuldades aos que se encontram em situação de penúria, o Banco Central (BC) aumentou a taxa básica de juros, na quarta-feira, de 12,75% para 13,25% ao ano. A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) coloca o Brasil no topo do ranking mundial dos países com os juros reais mais elevados.
Ontem, a Petrobras anunciou novo reajuste nos preços dos combustíveis. Para as distribuidoras, o preço médio do litro da gasolina passará de R$ 3,86 para R$ 4,06 (alta de 5,18%), e do diesel, de R$ 4,91 para R$ 5,61 (aumento de 14,26%). Os produtos chegarão mais caros aos postos de combustíveis, que repassará aos consumidores a partir de hoje.
A decisão da estatal impactará o valor dos alimentos, do transporte público, enfim, todos os setores produtivos da economia. Quem é pobre tem a sua realidade piorada, e a classe média fica com os rendimentos mais desidratados. Os empresários dos setores produtivos se veem obrigados a engavetar quaisquer projetos de expansão, pois o custo do dinheiro, via financiamentos bancários, torna proibitivos novos investimentos. Estabelece-se, portanto, um círculo pernicioso ao crescimento econômico. Aos brasileiros que estão em situação de vulnerabilidade socioeconômica, não há porta de saída para as dificuldades que enfrentam.
Há poucos dias, estudo da Oxfam revelou que 33,1 milhões de brasileiros passam fome diariamente e outros 125,7 milhões padecem de insegurança alimentar — ou seja, acordam sem saber se terão algo para comer durante o dia. Embora o desemprego tenha recuado 10,5% no trimestre encerrado em abril, ainda falta trabalho para mais de 11,4 milhões de brasileiros. O avanço, porém, veio acompanhado da redução de 7,9% nos rendimentos, que ficou, em média, em R$ 2.569 contra R$ 2.790 em relação a igual período do ano passado.
A conjuntura exige da equipe econômica do governo iniciativas que travem o avanço da inflação, ao mesmo tempo em que impõe o fortalecimento de medidas compensatórias, a fim de evitar o alastramento da fome e da indigência de larga parcela da sociedade.
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