representatividade feminina

Artigo: O memoricídio feminino na literatura

Correio Braziliense
postado em 19/07/2022 06:00
 (crédito: Editoria de Arte/CB/D.A Press)
(crédito: Editoria de Arte/CB/D.A Press)

SAMIRA ALVES - Psicóloga, advogada e condutora do grupo de estudos Pensadoras Latino-Americanas na Rino Educação

Em diferentes áreas, a representatividade feminina é historicamente menor do que a masculina. Na literatura isso não seria diferente. Mas talvez a grande novidade nesse ponto é que, no ofício da escrita, as mulheres poderiam estar mais presentes se não fosse um fenômeno chamado memoricídio.

Esse assassinato ou apagamento das memórias, no caso das mulheres, faz com que a sociedade caia no mito de que a mulher produziu menos que homens por conta do papel que a sociedade impôs durante séculos, como o de donas de casa e esposas, impossibilitando-as de produzir conteúdo literário.

Como condutora do grupo de estudos Pensadoras Latino-Americanas, da Rino Educação, mediei o debate "Qual o lugar das mulheres na literatura?" A discussão foi enriquecida pelas pesquisadoras doutorandas em literatura brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Priscila Branco e Janda Montenegro, além de Carina Carvalho, mestre em estudos literários pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Na conversa, descobrimos que, mesmo com essas imposições de papéis sociais, a mulher nunca deixou de produzir literatura, podendo ter se igualado aos homens ou, talvez, até superado. No entanto, pela falta de registros da atuação feminina também nessa área, hoje temos a impressão de que elas produziram menos.

Ou seja, as mulheres escreveram e escrevem assim como os homens. O que acontece é que nem sempre elas chegam ao mercado editorial, seja pelo mau arquivamento, atividade também dominada por homens, ou até mesmo porque suas ideias são roubadas, como foi o caso de Karl Marx que utilizou pensamentos de uma de suas contemporâneas como se fossem dele.

Mas então, já que é sempre assim, o que podemos fazer? Bem, na mesma roda de conversa debatemos sobre a importância de dois pontos que ajudam a reduzir esse impacto negativo: a ocupação de mulheres em cargos de liderança nas empresas e o incentivo à pesquisa.

O aumento do nome de mulheres nas lombadas dos livros passou a ser notado entre os séculos 20 e 21. Isso se deu graças à presença feminina na liderança das editoras. O fato de ter mulheres ocupando cargos de gestão nessas empresas fez que aumentasse o acesso feminino, ainda que privilegiado, às estantes das bibliotecas.

E quanto à pesquisa, ao passo que aprendemos com o passado, encontramos diversas obras e feitos de mulheres que não estavam nos registros. Temos aí também a importância do adequado arquivamento. O ideal é que tenha o mínimo de viés inconsciente sobre essa tarefa de forma que evite o memoricídio feminino que acontece ao longo da história. Com mais mulheres pesquisando hoje, além de suas obras serem registros femininos, ainda recuperam aqueles que se perderam pelo caminho.

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