Há quase quatro anos, vivenciamos um Brasil conturbado. Todos os dias, ocorriam conflitos, forjados em inverdades e delírios, que colocavam os poderes em confrontos. A representatividade da sociedade civil foi limada na primeira semana de janeiro de 2019. Os conselhos, com participação popular para a concepção de políticas públicas, foram extintos. As portas se fecharam à sociedade civil e aos setores organizados da população. A interlocução direta com os brasileiros se tornou lembrança do passado — quando havia, de fato, democracia e os cidadãos podiam participar da formulação de políticas públicas. Esse tempo acabou.
O poder público se colocou de costas às necessidades dos brasileiros. Avanços e conquistas foram solapados. O país entrou em rota de retrocessos. Direitos humanos, cultura, reconhecimento dos povos originários (indígenas) e tradicionais (quilombolas), diversidade étnica-racial, pluralidade cultural e religiosa, entre outras diferenças que dão singularidade ao Brasil, foram ignorados e, quando não, desrespeitados.
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Em 2020, a pandemia do novo coronavírus colocou à prova a empatia governamental ante o sofrimento das pessoas. Enquanto os países desenvolvidos recomendavam à população o isolamento social, o uso de máscara e outras medidas preventivas, no Brasil, a ordem era desafiar o vírus, manter a rotina antes da crise, sob a falsa ideia de que, dessa forma, haveria uma imunidade de rebanho. Foi preciso haver a pressão política de uma comissão parlamentar de inquérito, no Senado Federal, para abrir caminho à chegada da vacina. Mas milhares de brasileiros haviam sucumbido à doença.
Vivenciamos um cenário de famintos (33,1 milhões), desempregados, em meio à mais grave crise sanitária dos últimos 100 anos. Aproveitando-se do quadro de horror, o poder público direcionou política ambiental aos interesses dos predadores do patrimônio natural do país. Arregaçou as porteiras para desmatadores, garimpeiros e incendiários que quisessem dilapidar a maior floresta tropical do planeta, na Região Amazônica, e dizimar as populações originárias e tradicionais.
Não há como deixar de refletir sobre esses fatos que chocaram e deixaram marcas em grande parte da sociedade. Chegamos à reta final das eleições para presidente da República. A polarização — o "nós contra eles'' e o "bem contra o mal" — estendeu o pleito para o segundo turno. Os rumos do país não estão nas mãos dos candidatos, mas na escolha que faremos, por meio do nosso voto, sem violência ou agressões, mas com lucidez.
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