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Artigo: As notícias da pólio demandam urgência, não pânico

opiniao 3101 -  (crédito: kleber sales)
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MARCELO HAICK
postado em 31/01/2023 06:00

MARCELO HAICK -Curador da Fundação Rotária e consultor nacional de Advocacia para a Pólio do Rotary International

Quando falamos de assuntos de saúde pública, é tentador concluir ela, de modo global, está em crise. Mas a verdade é muito mais interessante e, de muitas formas importantes, bastante esperançosa.

A pólio é um grande exemplo. As notícias recentes da transmissão da pólio em Israel, no Reino Unido e também no estado de Nova York, destacam a importância da vacinação como a única forma de proteção contra a poliomielite e o trabalho que precisa ser feito para estimular a aplicação das vacinas. Isso é especialmente importante em comunidades onde precisamos combater a desinformação sobre o assunto.

Assim, precisamos começar a trabalhar efetivamente para mobilizar todo o corpo técnico disponível para que essa desinformação seja esclarecida o mais eficientemente possível. Precisamos atuar junto com universidades, sociedades médicas, imprensa e influenciadores, além das lideranças comunitárias. No Brasil, nós estamos observando uma queda gradual nas taxas de vacinação nos últimos cinco anos. Existem vários fatores que influenciam essa queda, incluindo a baixa percepção da população sobre o risco da pólio, pois muitas pessoas jovens não conviveram com a doença. Por isso, é extremamente necessário que a saúde pública elimine a pólio em todo o mundo o mais rápido possível. E hoje estamos mais próximos que nunca de erradicar a doença.

Caminhamos em direção a zerar os casos de pólio causados pelo vírus selvagem, o qual permanece endêmico em apenas dois países: o Afeganistão e o Paquistão. Atualmente, o mundo tem a oportunidade única de parar a transmissão do vírus para sempre. E a hora é agora, porque, enquanto a pólio existir em qualquer lugar, é uma ameaça em todos os lugares.

O Rotary, uma organização humanitária global com mais de 1,4 milhão de associados, tem estado no centro dos esforços globais para erradicar a pólio por mais de três décadas e se tornou um parceiro fundador da Iniciativa Global de Erradicação da Pólio (Gpei, na sigla em inglês) em 1988. A Gpei é uma parceria público-privada liderada por governos nacionais com importantes parceiros.

Todo ano, por meio da nossa parceria com a Fundação Bill & Melinda Gates, o Rotary destina US$ 150 milhões para o esforço global de erradicação da pólio. Nós já contribuímos com mais de US$ 2,6 bilhões e incontáveis horas de voluntariado para eliminar essa doença.

Este é o momento para todos os envolvidos reforçarem seu compromisso com a erradicação da poliomielite, apoiando totalmente a estratégia 2022-26 da Gpei. Esse esforço foca em adotar uma postura de emergência, ao mesmo tempo em que gera mais responsabilidade e senso de propriedade de governos nacionais para erradicar poliovírus selvagem e eliminar os surtos da variante do vírus.

Em nosso país, trabalhamos há mais de oito anos no relacionamento do Rotary com o Ministério da Saúde e com a Organização Pan-Americana de Saúde. Como associados do Rotary, também mantemos relacionamento com as secretarias estaduais e municipais de saúde.

Na esfera federal, o Rotary faz parte de uma comissão nacional de erradicação da pólio, além de atuar junto ao Programa Nacional de Imunizações (PNI). Com isso, nossa organização acompanha o trabalho feito no combate à paralisia infantil e ajuda a fortalecer o programa, contribuindo com a continuidade dos esforços de vacinação.

Com nossos parceiros da Gpei, nós engajamos comunidades em todo o mundo para encorajar altas taxas de vacinação, imunizando mais de 400 milhões de crianças anualmente. Graças ao nosso trabalho conjunto, o mundo está prestes a erradicar o segundo vírus da história. E, enquanto nos aproximamos da erradicação, também melhoramos nossa capacidade de evitar a transmissão de formas variantes da pólio.

Foi desenvolvida uma nova vacina oral contra a poliomielite tipo 2 (nOPV2), a qual é mais estável geneticamente e está sendo entregue para uma lista crescente de países para interromper os surtos da variante não selvagem do poliovírus de forma mais efetiva. Tudo isso é razão suficiente para o otimismo, não o desespero. A Gpei está confiante de que podemos alcançar um mundo em que nenhuma criança ou adulto fique paralítico por causa da pólio novamente

Nós podemos e devemos alcançar essa enorme — e necessária — conquista humana. Ao fazer isso, também vamos demonstrar que a ciência e a saúde pública não estão em decadência, mas apenas precisam do nosso apoio mais do que nunca.

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