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SOCIEDADE

Análise: o resultado do Censo é a chance para repensar o Brasil

Se não somos 213 milhões de brasileiros como se pensava, a nova realidade dará a chance de repensar o país. O problema é que o Brasil não costuma aproveitar as chances que surgem

A diferença de 10 milhões de habitantes entre o esperado e o constatado pelos recenseadores do IBGE também liga o sinal de alerta para o impacto negativo que deve ocorrer na economia no médio e no longo prazo -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
A diferença de 10 milhões de habitantes entre o esperado e o constatado pelos recenseadores do IBGE também liga o sinal de alerta para o impacto negativo que deve ocorrer na economia no médio e no longo prazo - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
postado em 30/06/2023 06:00

A divulgação dos resultados iniciais do Censo 2022 surpreende e nos faz pensar sobre o que o futuro nos reserva. Se o crescimento populacional abaixo do esperado pegou a todos de surpresa, por outro lado, temos a confirmação de um cenário que analistas alertavam há tempos e que se intensificou com a pandemia de covid-19: o processo de interiorização do país.

Quando se compara, por exemplo, as grandes cidades — que têm mais de 750 mil habitantes — com as médias, aquelas que têm acima de 100 mil moradores, as maiores cresceram duas vezes e meia menos. Além disso, um terço das capitais teve redução populacional em comparação com 2010: Salvador, Natal, Belém, Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Vitória e Fortaleza. Os fatores apontados são vários, mas os principais são a violência, o alto custo de vida e o processo de "desmetropolização", com as indústrias migrando para municípios menores.

A diferença de 10 milhões de habitantes entre o esperado e o constatado pelos recenseadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, também liga o sinal de alerta para o impacto negativo que deve ocorrer na economia no médio e no longo prazo. Sem o crescimento demográfico desejado, serão necessárias reformas estruturais que aumentem a produtividade do país. Caso contrário, nossa economia vai encolher naturalmente com os ajustes que os empresários farão na produção, afinal, somos menos do que imaginávamos. Lei da oferta e demanda.

Outro ponto é a pressão que existirá no sistema previdenciário nacional. Com as famílias cada vez menores, haverá menos gente para entrar e bancar o sistema de aposentadorias e pensões. É fato que a revisão das regras previdenciárias não é um tema prioritário para o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — o petista, inclusive, é um forte crítico do texto aprovado no Congresso no primeiro ano do governo Bolsonaro —, mas especialistas em contas públicas alertam que rediscutir o assunto será necessário e deverá ser feito muito em breve.

A diminuição do tamanho das famílias, por sua vez, pode ter um efeito positivo. Filhos, em menor número, geralmente significam educação e saúde de melhor qualidade, um bônus que normalmente eleva a renda do núcleo familiar. Ou seja, os desafios serão muitos. Se não somos 213 milhões de brasileiros como se pensava, a nova realidade dará a chance de repensar o país. O problema é que o Brasil não costuma aproveitar as chances que surgem. Mas ainda há tempo.

 

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