Saúde

Março Azul: um farol de esperança contra o câncer de intestino

A mortalidade relacionada a essa doença é significativa, com 20.245 óbitos registrados em 2020, o que corresponde a 9,56 mortes por 100 mil habitantes

Através de mudanças comportamentais, é possível reduzir o risco de desenvolver a doença -  (crédito: Governo de São Paulo/divulgação)
Através de mudanças comportamentais, é possível reduzir o risco de desenvolver a doença - (crédito: Governo de São Paulo/divulgação)
Marcelo Averbach, Hélio Moreira Júnior, Herbeth Toledo, Sergio Pessoa - Opinião
postado em 29/02/2024 06:01

O câncer colorretal, popularmente conhecido por câncer de intestino, destaca-se como uma das maiores ameaças à saúde pública no Brasil, sendo responsável por 12% das mortes causadas por câncer. Esta estatística alarmante revela que cerca de 1 em cada 25 indivíduos será afetado por esta doença em algum momento de suas vidas, configurando-se como o segundo tipo de câncer mais prevalente entre homens e mulheres no país, superado apenas pelo câncer de próstata e de mama, respectivamente. Para o triênio de 2023 a 2025, estima-se que 45.630 novos casos de câncer colorretal sejam diagnosticados anualmente no Brasil, evidenciando um risco estimado de 21,10 casos por 100 mil habitantes.

A mortalidade relacionada a essa doença também é significativa, com 20.245 óbitos registrados em 2020, o que corresponde a 9,56 mortes por 100 mil habitantes. No entanto, existe uma luz no fim do túnel: a prevenção. Através de mudanças comportamentais, como a adoção de hábitos alimentares saudáveis, a prática regular de exercícios físicos, bem como a fuga do tabagismo e do consumo excessivo de álcool, é possível reduzir o risco de desenvolver a doença. Além disso, a realização de exames de triagem, como o teste de sangue oculto nas fezes e a colonoscopia, possibilita a detecção e o tratamento de lesões pré-malignas e tumores em estágio inicial, diminuindo a incidência e aumentando as chances de sucesso do tratamento.

Em um movimento global de conscientização, março foi designado como o Mês de Conscientização do Câncer Colorretal, iniciativa que teve início nos Estados Unidos em fevereiro de 2000, por declaração do então presidente Bill Clinton. Desde então, o Marco Azul tornou-se um período de mobilização mundial, no qual pacientes, sobreviventes, cuidadores e defensores se unem para promover a conscientização sobre a doença, utilizando o azul como símbolo dessa luta.

O Brasil foi o primeiro na América Latina a aderir a esse movimento, ainda em 2020, quando passou a realizar uma série de atividades voltadas à prevenção do câncer de intestino, incluindo a iluminação de monumentos importantes na cor azul e o envolvimento voluntário de personalidades influentes de diversas áreas. Essas iniciativas foram possíveis graças à colaboração entre três entidades médicas de renome: a Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED), a Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) e a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP). Juntas, elas têm promovido programas de triagem em diversas cidades, alcançando milhares de pessoas e contribuindo para a detecção precoce da doença.

Exemplos de sucesso incluem a triagem realizada na cidade de Piranhas, em Alagoas, onde 2.152 pacientes foram avaliados e 130 submetidos a colonoscopia, resultando na detecção de várias lesões pré-neoplásicas. A cidade de Belterra, no Pará, e o arquipélago de Cairu, na Bahia, também receberam ações de triagem, demonstrando taxas de detecção de adenoma de 33,85% e 35%, respectivamente. Esses resultados reforçam a eficácia das campanhas de prevenção e triagem na redução da incidência e mortalidade pela doença.

O próximo grande desafio é a campanha de triagem na histórica cidade de Óbidos, no Pará, marcada para março. Este projeto enfrenta desafios logísticos, dada a remota localização da cidade e as dificuldades de acesso, mas representa um passo importante na luta contra o câncer colorretal no Brasil.

O Março Azul brasileiro tem sido um exemplo eloquente de como a colaboração entre sociedades médicas, comunidades e governos pode promover mudanças na saúde pública. Ao chamar a atenção para a importância da prevenção e da detecção precoce desse tipo de câncer, a iniciativa não apenas salva vidas, mas também serve como um modelo de engajamento comunitário e responsabilidade social.

Afinal, a batalha contra o câncer de intestino no Brasil é árdua, mas não é intransponível. Com esforços contínuos de conscientização, prevenção e triagem, é possível vislumbrar um futuro em que a incidência e mortalidade por essa doença sejam significativamente reduzidas. E a campanha Março Azul é um farol de esperança nesse caminho, iluminando não apenas monumentos por todo o país, mas as possibilidades de uma vida mais saudável e livre do câncer colorretal para milhões de brasileiros. 

MARCELO AVERBACH

Coordenador da Campanha Nacional Março Azul

HÉLIO MOREIRA JÚNIOR

Presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia

HERBETH TOLEDO

Presidente da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva

SERGIO PESSOA

Presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia.

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