Capitalismo

Fome e desemprego

O capitalismo extrativo não considera os princípios humanitários que devem presidir a vida social justa e democrática

Taxa de desemprego ficou em 7,9% no primeiro trimestre deste ano -  (crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Taxa de desemprego ficou em 7,9% no primeiro trimestre deste ano - (crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

A fome mata milhões de pessoas ao redor do mundo, todos os anos. Desemprego e fome podem ser tidos como irmãs gêmeas em algumas regiões ou grandes cidades. As metrópoles e regiões com extensas áreas rurais podem não gerar alimentos ou gerar alimentos não nutritivos e escassos ou adequados nutrientes para seres humanos ou animais. Por isso, órgãos federais ou do Distrito Federal (DF) deveriam promover um adequado cardápio, útil para que os habitantes de Brasília ou da Área Metropolitana (Goiás) se alimentem bem para o correto desempenho de suas atividades ou no repouso da aposentadoria. Nesse caso, não é porque a pessoas deixou de trabalhar que deixará de se alimentar como recomenda a FAO, órgão da ONU para a alimentação.

Por questões alimentícias e do trabalho, serve observar o que referem dados da pesquisa Datafolha, realizada nos dias 27 e 28 de julho de 2023: “No trabalho precário estão 39,3 milhões de brasileiros, enquanto 33 milhões estão passando fome. O desemprego, a fome e a carestia estão entre as maiores preocupações para a maioria dos brasileiros que ganha até dois salários mínimos (R$2.424)”, conclui o Datafolha. Por isso, a precarização do trabalho e o reduzido salário mínimo podem levar a que muitos domicílios estejam fora dos padrões recomentados para uma vida digna para as famílias atingidas.

Todavia, o capitalismo extrativo não considera os princípios humanitários que devem presidir a vida social justa e democrática. Assim, temos milhares de trabalhadores que não conseguem gerar ganhos suficientes para manter sua família, pagar o aluguel e alimentos da chamada “cesta básica”, a qual não proporciona alimentação para um mês contínuo e, por isso passam a fazer parte dos milhares que compõem o elenco dos que passam fome. Não importa que essas pessoas possam fazer duas ou três refeições ao dia, se esses alimentos não possuírem as qualidades alimentícias vitais para quem os consome.

Em parte, é o que acontece de norte ao sul do Brasil. Em algumas regiões como o Sul e o Leste, é provável que se encontrem menos famintos porque as famílias têm o hábito de possuir uma horta, onde produzem verduras e legumes que são suficientes para as refeições diárias de milhares de pessoas, que saem da lista de famintos. A prática da horta familiar ajuda a reduzir o número de famintos e mantém a saúde de grande parte dos habitantes dessas regiões e de pequena porção de moradores das outras regiões, como da região Norte e Centro-Oeste. Nessas regiões, as hortas familiares não estão disseminadas entre seus habitantes por muitas razões, que não cabe aqui analisar.

No caso da boa alimentação, ela poderá fazer com que o braço do trabalhador e sua inteligência possam resultar em atividades executadas com maior eficiência, rapidez e ganhos para o empregador. Ganha o executor de atividades que requerem aperfeiçoamento das tarefas a serem feitas. Há ganhos para quem emprega, igualmente. Ambos se beneficiam com bons alimentos, acessíveis ao trabalhador, sobretudo se o que ele aufere ao fim do dia ou do mês o conduz à compra de alimentos nutritivos e não apenas para saciar sua fome. Nada deve obstaculizar boas práticas alimentícias ao longo das jornadas, beneficiando a força de trabalho. Então será sempre interessante que o empregador tenha em mente os ganhos que ele terá ao pagar de forma justa pelo trabalho executado por seus subalternos. A economia nacional também deverá lucrar pelo aumento do PIB, gerado com os ganhos do trabalhador, que faz aumentar o giro da economia regional e do país. Portanto, deverá ser objetivo do Executivo Federal estimular a boa remuneração do funcionalismo, estável ou terceirizado por parte das agências federais e órgãos congêneres.

Para que isso se efetive, toda a população, pessoa física ou jurídica, deve pagar os impostos que lhe cabe, evitando sonegação. Se houver sonegação, o governo federal não tem como organizar orçamento que seja compatível com o tamanho de suas obrigações. Obrigações essas que tocam a saúde pública, a segurança pública e os demais encargos que todos conhecem. A maioria das empresas e pessoas físicas, ao pagar impostos que lhe cabem, colabora com o ajustamento das finanças federais às receitas advindas do que cabe ao contribuinte pagar. Isso faz girar a economia e equilibrar ganhos obtidos com as receitas auferidas e despesas realizadas no âmbito de suas competências.

ALDO PAVIANI, Geógrafo e Professor Emérito da Universidade de Brasília (UnB)

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postado em 03/03/2024 06:00
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