Seja sincero. Você quebraria o porquinho e investiria o rico dinheirinho na compra dos direitos internacionais de transmissão de algum produto do futebol brasileiro? A estética dos nossos campeonatos simplesmente não ajuda.
O Brasileirão começou na lama. Lamentável o estado do gramado do Estádio Heriberto Hulse, em Santa Catarina, no empate por 1 x 1 entre Criciúma e Juventude. Recém-promovidos, os dois clubes não mereciam. Por sinal, onde estão os guardiões do padrão Fifa nos campos de elite? Na gestão anterior da CBF, havia a Comissão Nacional de Inspeção de Estádios (CNIE).
O braço da Diretoria de Competições atribuía notas aos pisos das arenas. Em 2020, o Mané Garrincha, por exemplo, recebeu menção 6,1. Brasília perdeu o direito de receber o jogo do Brasil nas Eliminatórias para o Morumbi — avaliado com 9,5. A casa do São Paulo quase gabaritou. Havia um balizador. Imagino qual seria a nota do Serra Dourada, em Goiânia.
Testemunhamos cenas de várzea antes, durante e depois da partida em um gramado impraticável para as estreias do Atlético-GO e do Flamengo no principal campeonato do país. Pensa na cena: um lorde inglês apaixonado por futebol liga a tevê ou algum dispositivo, às 8pm no horário de Greenwich para assistir a um jogo da nossa Série A na night de domingo (16h em Brasília).
De repente, o lorde inglês se depara com um esforçado trabalhador socando manualmente o gramado para tampar uma cratera aberta no campo. O assinante habituado com o padrão de excelência da Premier League, o Campeonato Inglês, certamente daria aquela bocejada e diria: “What is that? I think it’s better to sleep”.
Sim, alguns jogos do Brasileirão dão mais sono do que o buraco, mas, insisto, o pior é a estética. Os dois clubes mais ricos da América do Sul duelarão amanhã, no Allianz Parque, em São Paulo. O jogo mais esperado, logo na terceira rodada, opõe o anfitrião Palmeiras e o Flamengo.
Em vez da beleza da torcida, o assinante internacional verá no cenário um palco montado atrás de uma das traves para os shows da banda Soweto. A capacidade de público está reduzida em 30%. Isso também aconteceu no ano passado, no Estádio Nilton Santos.
A histórica vitória do Palmeiras por 4 x 3 contra o Botafogo tinha um palco coberto por plástico atrás do gol no qual o artista alviverde Endrick comandou a virada. Há a estética do estádio vazio. Cadeiras desocupadas no empate entre Fluminense e Red Bull Bragantino, no Rio.
Como explicar ao lord inglês que o atual campeão da Libertadores levou 16.431 torcedores ao Maracanã? Tem a estética da arbitragem. Trapalhadas do VAR. Falta de sistema de som no estádio para a torcida ouvir a explicações do juiz. A estética do calendário, com debandada de pelo menos 20 jogadores de ponta para a Copa América por até nove rodadas da Série A.
Respeito à várzea! Há mais beleza no futebol raiz do seu bairro do que no maltratado Brasileirão.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br