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Eleições municipais: qual a narrativa mais eficaz?

Só há algo em comum a todos os grupos de candidatos: a construção da narrativa adequada é decisiva para a conquista do voto. Como no dito popular, cada macaco no seu galho.

Urna eletrônica -  (crédito: Ed Alves/ CB/ D.A Press)
Urna eletrônica - (crédito: Ed Alves/ CB/ D.A Press)

Um dos grandes desafios de quem vai se candidatar em uma eleição é conseguir deixar claro seu posicionamento, explicitando seu lado na disputa e evitando ficar em cima do muro. Isso não é de hoje, mas ficou ainda mais acentuado em razão da polarização iniciada em 2013 e potencializada pelas redes sociais. Essa premissa vale para São Paulo, maior cidade do país em número de eleitores, e para Borá (SP), a menor, com 1.050 eleitores.

No pleito de outubro a natureza dessa situação não será diferente, mas as formas de sua manifestação guardam nuances alinhadas a características dos municípios, como tamanho do eleitorado e região de localização, entre outras.

Na disputa pelas prefeituras nas capitais e cidades com mais de 200 mil eleitores, o posicionamento será fortemente influenciado por temas relacionados à conjuntura nacional, mas mesmo nesses locais tal influência tende a ser menor na eleição para as câmaras municipais. Em quase todos os municípios, as candidaturas à vereança podem ser divididas em grupos, como exposto a seguir.

O primeiro grupo é formado por candidaturas que, durante a campanha e em seguida, no exercício do mandato, procuram agir como porta-vozes de demandas da população junto ao Poder Executivo, atuando de maneira semelhante a um despachante. Aqui se faz presente a ampla maioria dos mais de 58 mil vereadores dos 5.569 municípios. Por isso, é muito comum vermos edis que, entra governo, sai governo, sempre são governistas, independentemente da linha política e ideológica. Porém, é importante ressaltar que não se trata de uma ação ilegítima, ainda que limitadora do debate programático.

O segundo grupo é composto por quem mantém fidelidade histórica com seu agrupamento político. Qualquer que seja a disputa, essas candidaturas apresentam-se para o eleitorado procurando realçar essa característica como principal elemento para a conquista do voto. São encontrados em todos os municípios, mas a maior incidência é naqueles 5.090 que têm até 50 mil eleitores.

No terceiro grupo, identificamos quem opta por fazer sua campanha procurando valorizar a defesa de ideias e propostas programáticas. São as chamadas candidaturas de opinião que, apesar de cada vez mais raras no cenário político, ainda se fazem presentes, principalmente nos 479 municípios com mais de 50 mil eleitores. Nesse contingente, a fidelidade política tem também um peso importante. 

Só há algo em comum a todos os grupos: a construção da narrativa adequada é decisiva para a conquista do voto. Como no dito popular, cada macaco no seu galho.

Dessa forma, uma candidatura tipo despachante precisa fortalecer tal comportamento, reforçando e ampliando seus vínculos com as comunidades nos bairros e distritos em que atua, além de demonstrar a capacidade de ser reconhecido como elemento de ligação com o Poder Executivo para viabilizar o atendimento das demandas daquelas localidades.

Já as candidaturas que integram o segundo grupo precisam centrar sua narrativa na valorização do agrupamento político a que pertencem, buscando atrair para si os votos da parcela do eleitorado que se identifica com os posicionamentos ali expressos. Em outras palavras, precisa deixar claro que é quem melhor representa aquele agrupamento.

Sem dúvida, o maior desafio é para quem faz parte do terceiro grupo. Em uma conjuntura de ceticismo crescente com a política e os políticos, buscar o voto a partir de ideias e propostas não é trivial. Para tanto, a narrativa deve ser construída a partir da identificação das principais dores sentidas pela população de sua cidade, procurando apresentar soluções que possam ser apoiadas por eleitores residentes nos diversos bairros de maneira transversal.

Por fim, não podemos esquecer que fatores extraordinários podem influenciar na disputa nacionalmente. Por exemplo, em 1988 os trabalhadores da CSN entraram em greve, ocupando a empresa. Tropas do Exército tomaram a cidade de Volta Redonda e resolveram invadir a usina para forçar a saída dos grevistas, resultando no assassinato de três trabalhadores, causando uma comoção em todo o país. Esse fato, seis dias antes das eleições municipais, influenciou diretamente na vitória de Luiza Erundina, então candidata do PT, para a prefeitura da cidade de São Paulo.

No presente, estamos convivendo com as enchentes no Rio Grande do Sul que repercutiram nacionalmente, tanto pela mobilização de solidariedade quanto pela disputa nas redes sociais. A menos de seis meses das eleições, será que irão influenciar politicamente na disputa nos 5.569 municípios?

*ORLANDO THOMÉ CORDEIRO, Consultor em estratégia

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postado em 24/05/2024 06:00
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