Futebol

Ídolos de barro e a hipocrisia

O pecado de Gagibol é considerado imperdoável no Flamengo, mas a torcida não achou traição Vidal usar manto rubro-negro no Barça e na Inter. Abel Ferreira dá lições de moral, mas foge da transparência

Abel Ferreira e Gabriel Barbosa: ídolos de barro do Palmeiras e do Flamengo não estão mais acima de qualquer suspeita -  (crédito: Reproduçào/Premiere)
Abel Ferreira e Gabriel Barbosa: ídolos de barro do Palmeiras e do Flamengo não estão mais acima de qualquer suspeita - (crédito: Reproduçào/Premiere)

O esporte ensina a apreciar ídolos com moderação. Embora as estátuas criadas pela paixão humana por um personagem do futebol tenham cabeça de ouro, peito e braços de prata, e ventre e quadris de bronze, as pernas e os pés das divindades do time do coração são de ferro e barro. Como no sonho do rei da Babilônia Nabucodonosor II interpretado por Daniel no livro do profeta no Antigo Testamento da Bíblia, basta uma pedra tocar o ponto fraco para que os semideuses e impérios virem pó e sejam levados pelo vento sem deixar vestígios.

Gabriel Barbosa é o maior ídolo do Flamengo no século 21. Fez os três gols dos últimos dois títulos na Libertadores, em 2019 e em 2022. Balançou a rede até quando o time perdeu a final para o Palmeiras em 2021. As 15 taças conquistadas desde 2019 se confundem com a relação de seis anos do atacante com o clube. Isso não o torna imaculado.

Parte da torcida do Flamengo descobriu da pior maneira um ídolo de barro. O manto é sagrado para a "nação" de 40 milhões de devotos. O vazamento da imagem de Gabigol vestindo a camisa do Corinthians em casa num dia de folga é tratado como pecado Imperdoável.

Mas e a hipocrisia, onde fica? Em 2019, Arturo Vidal disputava a Copa América no Brasil pela seleção do Chile. Alguém presenteou o meia com uma camisa do Flamengo. O então jogador do Barcelona vestiu o manto depois da derrota para o Uruguai, no Maracanã, e piscou para a torcida pela primeira vez. Seguiu para a Internazionale e usou o uniforme durante treinos domésticos em uma academia na Itália. À época, houve quem achasse engraçadinho — e nada antiético. No fim das contas, Vidal trocou o clube de Milão pelo carioca e foi recebido com festa no Ninho.

O Palmeiras também descobriu um ídolo de barro. O técnico Abel Ferreira coleciona 10 títulos em três anos, seis meses e 21 dias no cargo. O sucesso fez dele praticamente o líder de uma seita alviverde. Se Abel falou tá falado. Ele sempre tem um plano. No fim do ano passado, havia a possibilidade de o português deixar o clube. O furo publicado no jornal Sport pelo correspondente do diário catalão no Brasil Joaquim Piera indicava oferta irrecusável do Al-Sadd do Catar. O lusitano se tornaria o técnico mais bem pago do planeta.

Abel Ferreira dá lições de moral a cada entrevista coletiva, mas teve o pé de barro acertado em cheio pelo Al-Sadd. O time do Catar o acionou na Fifa alegando descumprimento de pré-contrato firmado no fim do ano passado. O clube cobra multa de 5 milhões de euros (R$ 27,76 milhões na cotação atual).

Depois de mentiras sinceras, o ídolo de barro Gabriel Barbosa admitiu ter vestido a camisa do Corinthians e vive tempos de purgatório no Flamengo. O ídolo de barro Abel Ferreira se esquiva. Jura amor ao Palmeiras e não explica se assinou ou não. Por essas e outras, se você tem um ídolo no futebol, aprecie com moderação e não seja hipócrita.

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postado em 25/05/2024 06:00
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