
Antes mesmo da posse de Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos, o governo brasileiro trabalhava com um alto percentual de certeza de que, em poucos dias na Casa Branca, ele deflagraria uma guerra comercial global de grandes proporções. Não havia qualquer dúvida, da parte de diplomatas e assessores dos ministérios e agências ligadas ao comércio exterior brasileiro, de que a China seria alvo na primeira onda e que seríamos atingidos na segunda ou terceira fase de taxações. A tarifação de 25% ao aço e ao alumínio que os norte-americanos importam assusta pelo percentual, e não pelo gesto em si.
De todos os países que entraram na alça de mira do protecionismo de Trump, a China, inegavelmente, é o mais bem preparado para retaliar com força e, lá na frente, buscar um acordo que lhe seja interessante. Os demais, como Canadá, Brasil e México — os três maiores exportadores de aço, aço semiacabado, laminados, alumínio, sucata de alumínio e liga de alumínio —, terão de negociar intensamente e estar preparados para aumentar a cota de venda para outros países, a fim de não amargar prejuízos. Essa guinada no transatlântico comercial, porém, é lenta, e o horizonte a médio prazo para a indústria brasileira do setor é de preocupação.
Isso porque, apesar do Brics e do acordo Mercosul-União Europeia, não é simples propor a um país que compre mais do que ele está disposto a consumir — ainda mais aos chineses, cujos séculos de transações comerciais fazem deles negociadores hábeis. Além disso, há um xadrez geopolítico que deve ser manobrado sem precipitações. Intensificar ainda mais o fluxo comercial entre Brasil e China nos colocaria na pauta do palavrório ameaçador de Trump. Algo que, definitivamente, não é interessante.
O que vem aí, a partir da taxação que será imposta pelos EUA, já se sabe: muita conversa para baixar a tensão, que inclui a busca de um regime progressivo de tarifação, que empurre para longe o percentual máximo, a fim de que jamais seja alcançado. Em paralelo, o Brasil buscará alternativas para desafogar o prejuízo, que começa a ser calculado — e inclui desemprego e redução da produção.
No sentido oposto, a indústria norte-americana — como a de semicondutores e a de refino de petróleo —, que tem no Brasil um mercado forte e seguro, teme a perda de espaço para os chineses, sempre dispostos a ocupá-lo. Haverá pressão de parte do empresariado dos EUA para que a participação do Império do Meio na nossa produção de base continue nas atuais proporções. Isso é um ponto a nosso favor nas tratativas sobre o aço e o alumínio.
Mas, por ora, o que se deve evitar, por ser contraproducente, é bravatas contra as ameaças da Casa Branca. Expressões como "se Trump nos taxar, taxamos de volta" animam a claque, só que não trazem solução e alimentam maus-humores. O pragmatismo, portanto, é recomendável.