Futebol

A lição de Leila Pereira

Leila Pereira tem defeitos, mas neste episódio foi perfeita. Brigou pelo cumprimento da palavra

Leila Pereira foi reeleita como presidente do Palmeiras -  (crédito: Divulgação/Palmeiras)
Leila Pereira foi reeleita como presidente do Palmeiras - (crédito: Divulgação/Palmeiras)

Longe de mim fazer campanha pela beatificação de Leila Pereira. Não estamos falando da Madre Teresa de Calcutá nem da Irmã Dulce, mas da gestora do Palmeiras, uma mulher com imperfeições — e muitas perfeições — no papel de gestora de um dos clubes mais populares e vitoriosos do país. Em um ambiente misógino como o futebol, ela é a única voz feminina entre os 20 presidentes de clubes da Série A do Campeonato Brasileiro. Tem agido com firmeza para se diferenciar de cartolas viciados pelo sistema e marcado posição.

A última prova do empoderamento de Leila Pereira é a transferência do atacante Rony, um dos ídolos recentes do Palmeiras, para o Atlético-MG. Nesta semana, ela cobrou do atacante de 29 anos, colecionadorde 11 títulos com a camisa alviverde, um artigo raríssimo na sociedade: palavra.

O Palmeiras e Rony ensaiavam o fim docasamento de cinco temporadas. O clube e o jogador tinham várias ofertas na tentativa de uma separação sem sequelas, boa para ambas as partes. Leila Pereira gostou daproposta dos donos da SAF do Atlético-MG. Rony também. No meio do caminho, o Vasco tentou atravessar o negócio. Apresentou salário superior ao combinado pelo Galo.

Vacinada pela primeira negociação de Dudu com o Cruzeiro no ano passado, quando o meia-atacante tinha tudo acertado para se apresentar ao time mineiro, refugou, causou mobilização das torcidas organizados e deixou a presidente irritada ao não cumprir a parte dele na transferência, Leila Pereira recusou-se a reproduzir padrões de comportamento dos cartolas paizões. Não passou a mão na cabeça e exigiu de Rony um comportamento profissional, palavra de homem, não de menino nem de moleque.

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No início deste ano, o clube paulista havia aceitado a oferta do Fluminense. Rony e o estafe dele não quiseram ir. Na noite da última terça-feira, procuraram a diretoria para apresentar o convite do Atlético-MG.O Palmeiras concordou, bateu o martelo com o Atlético-MG e tomou um susto no dia seguinte.

“De repente, de forma surpreendente, ficamos sabendo pela imprensa que o atleta estaria acertado com o Vasco. Isso não tem cabimento! O Palmeiras é um clube sério, que cumpre com os seus compromissos”, disparou a empresária e presidente Leila Pereira.

“A situação é bem simples: ou o Rony e o Hércules (empresário) honram o compromisso que assumiram com o Atlético-MG ou o jogador cumprirá o contrato conosco até dezembro de 2026”, sentenciou. Enquadrado pela dirigente, Rony arrumou as malas para Vespasiano, rumo à Cidade do Galo.

Leila Pereira tem defeitos, mas neste episódio foi perfeita. Brigou pelo cumprimento da palavra. Há quem não valorize mais esse atributo. Vivemos a era do “que ele diz não se escreve”. O resultado disso é uma sociedade doente não somente o futebol, mas em todos os segmentos. De repente, Leila Pereira se viu lidando com um menino — e não um jogador profissional de 29 de idade.

Palavra se cumpre. Em 2011, Ronaldinho Gaúcho tinha acerto encaminhado com o Grêmio. A diretoria tricolor preparou a festa e o jogador se apresentou no Flamengo. O “menino” Ney agiu como homem Ney ao cumprir a promessa feita em 2013 de que voltaria ao Santos. Que outros jogadores e cartolas aprendam com Leila Pereira.

Marcos Paulo Lima
MP
postado em 15/02/2025 06:00
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