
ANDREA FELIPPE CABELLO, mestre e doutora em economia pela Universidade de Brasilia e professora de economia na UnB, e GUILHERME VIANA, graduado em estatística, é mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) e doutorando em pós-graduação em economia (PPGECO) pela UnB
O mercado formal do Distrito Federal e dos municípios da Periferia Metropolitana de Brasília (PMB), formada por municípios goianos lindeiros ao DF, apresenta grandes diferenças associadas às suas estruturas produtivas. Enquanto o DF tem sua economia composta majoritariamente por serviços, os municípios de seu entorno têm economias voltadas a atividades primárias, como agropecuária, comércio e pequenas indústrias. Essas diferenças afetam as oportunidades à disposição dos jovens, entre 18 e 29 anos, que se inserem no mercado de trabalho formal, foco da última pesquisa do Observatório de Políticas Públicas do Distrito Federal (ObservaDF ).
Três principais questões nos chamaram especialmente a atenção, que apontam para diferenças estruturais entre o mercado formal do DF e o da PMB. A primeira diz respeito ao número de horas que os jovens trabalham. A segunda relaciona-se com as oportunidades existentes na PMB para o trabalho feminino. E a terceira refere-se à empregabilidade de jovens pretos, pardos e indígenas no DF.
Tanto no DF quanto na PMB, prevalece a jornada de 41 a 44 horas entre os jovens empregados no mercado formal, independentemente da escolaridade do jovem. Entretanto, quando se consideram as jornadas com menos horas, elas são mais comuns no DF do que na PMB, e entre jovens com níveis de escolaridade maior. Ou seja, à medida que o nível de escolaridade do jovem trabalhador aumenta, o número de horas contratadas tende a reduzir. Jovens que interrompem os estudos para trabalhar tendem a ser inseridos em ocupações precárias e de baixa remuneração, configurando uma armadilha de pobreza intergeracional: sem qualificação adequada, dificilmente alcançarão melhores oportunidades profissionais, perpetuando condições socioeconômicas desfavoráveis para si e suas famílias.
No DF, o total de trabalhadores jovens no mercado formal é dividido de forma mais equilibrada entre homens e mulheres: 53,7% são homens e 46,3% são mulheres. Já na PMB, 60,1% são homens, e 39,9%, mulheres, sugerindo que os empregos disponíveis para os jovens na PMB são predominantemente masculinos. Além disso, no DF, o salário dos homens é 4% maior que o das mulheres, enquanto na PMB é 12% maior, reforçando essa percepção. Essa falta de oportunidade pode estar relacionada com o padrão produtivo da PMB. De qualquer forma, isso é preocupante, pois indica que as mulheres dessas localidades são obrigadas a buscar empregos longe de suas residências.
Também nos chamou a atenção questões relacionadas ao emprego de trabalhadores jovens PPI (pretos, pardos e indígenas) e não PPI (os que não se encaixam em uma dessas categorias, logo, em sua maioria, brancos). No DF, o salário dos identificados como não PPI é 29% maior que o salário dos identificados como PPI, enquanto na PMB é 7% maior. Aqui não nos parece ser algo ligado a um problema de estrutura produtiva e sim algo mais grave, associado possivelmente a questões de discriminação que merecem estudos mais aprofundados para investigar sua real natureza.
Além de estudos para aprofundar essas questões, chamamos a atenção para a necessidade de discussão de políticas que poderiam amenizar os padrões de desigualdade observados, notadamente programas de assistência estudantil e/ou de transferência de renda voltados para a permanência de estudantes entre o final do ensino fundamental e o início do ensino superior. O pé-de-meia, programa federal, busca preencher essa lacuna, atendendo a estudantes cadastrados no CadÚnico ou provenientes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), mas o programa é recente e a discussão em torno disso é bastante incipiente — dado o potencial transformador de uma política dessas, chamamos a atenção para sua relevância e urgência de debate. Para mais detalhes, convidamos acessar o link com o relatório de pesquisa completo: https://observadf.unb.br/wp-content/uploads/2025/04/ObservaDF-Abril-2025-1.pdf.