
Por Clara Roriz* — Imagine a angústia de precisar de um absorvente e não ter. Ou a sensação de vasculhar a bolsa na esperança de encontrar um — um momento de vulnerabilidade que não escolhe classe social, podendo afetar qualquer pessoa que menstrua. Nesse cenário, expandir o debate sobre dignidade menstrual sob a ótica da igualdade e consciência coletiva é essencial.
Dignidade menstrual vai além do simples acesso a um item básico de higiene; trata-se de criar ambientes seguros e acolhedores para quem menstrua, independentemente da condição socioeconômica. Esse conceito civilizatório envolve educação e reconhecimento do impacto social da menstruação, propondo um pacto social contra preconceitos. A necessidade é universal, e a dignidade, um direito de todos.
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Nesse contexto, o Distrito Federal se destaca ao promover a parceria social com o projeto Absorva o Bem, lançado em maio. Com a instalação de Pontos Solidários, onde quem precisa pode pegar um absorvente e quem quiser pode doar, essa iniciativa é um convite à empatia e à responsabilidade coletiva na construção de espaços mais humanizados. Esse projeto se torna um marco na luta pela dignidade menstrual, reconhecendo que o acesso a cuidados menstruais é uma questão de saúde pública.
Falar de dignidade menstrual é também falar de educação e pertencimento. É fundamental que escolas e locais de trabalho estejam preparados para acolher as necessidades de quem menstrua, sem julgamentos. Ações de sensibilização e inclusão da saúde menstrual nos debates públicos são primordiais para transformar essa questão em um assunto de acolhimento e respeito.
As políticas públicas voltadas para a dignidade menstrual são fundamentais na luta contra a desigualdade. Quando as pessoas não têm acesso a produtos de higiene ou informações sobre seus ciclos, sua vida é prejudicada em diversas áreas — na escola, no trabalho e na vida social. É crucial que governantes e a sociedade civil unam esforços para tratar esse tema com seriedade.
O impacto dessa mudança cultural é profundo e benéfico para todos. Criar ambientes seguros para quem menstrua não apenas previne constrangimentos, mas fortalece a igualdade de oportunidades, incentivando a permanência de meninas e mulheres em espaços educacionais e profissionais. A dignidade menstrual transcende a pobreza e entra no campo dos direitos humanos.
Promover essa dignidade nas políticas públicas e na cultura é vital. Incluir conteúdos sobre saúde menstrual nas escolas educa e desconstrói mitos, promovendo respeito e igualdade. Se essa educação for promovida desde cedo, jovens de todos os gêneros crescerão em ambientes inclusivos.
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O projeto Absorva o Bem materializa essa compreensão, dialogando com a tradição de pactos sociais bem-sucedidos no DF, como o respeito à faixa de pedestres. Assim como aprendemos a parar para garantir a segurança do outro, podemos cultivar um ambiente respeitoso e acolhedor para quem menstrua.
Esse compromisso não se resume à distribuição de absorventes; envolve transformar mentalidades e educar sobre igualdade. O desafio exige a participação de todos: familiares, educadores e a comunidade.
A dignidade menstrual é uma questão de humanidade que requer engajamento social. O bem-estar menstrual deve ser prioridade, garantindo que ninguém no DF ou no Brasil sofra angústias que podem ser facilmente evitadas.
Construir uma cultura de dignidade menstrual demanda esforço contínuo. Precisamos revisar políticas e práticas, ouvir quem menstrua e adaptar abordagens. As iniciativas sociais e governamentais devem incluir todas as vozes.
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Quando falamos de direitos humanos, falamos do direito ao respeito e à dignidade. A dignidade menstrual não é apenas uma necessidade individual, mas um reflexo do nosso compromisso, enquanto sociedade, em assegurar que todos possam viver com dignidade, livres de estigmas e preconceitos. Que o projeto Absorva o Bem inspire ações em todo o Brasil e que, juntos, avancemos em um pacto social pela dignidade menstrual.
Um passo em direção a uma sociedade mais justa, onde todos possam viver sua menstruação livres de medo e constrangimento.
* Secretária de Atendimento à Comunidade do GDF
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