ARTIGO

O jeito diferente de torcer

Na Copa do Mundo de Clubes, em vez de se unirem por uma seleção, a mobilização é por um compatriota inscrito. O apoio escapa do CNPJ e se concentra no CPF

A Copa do Mundo de Clubes conseguiu atingir até o coração de quem não teve time para torcer aqui nos Estados Unidos, onde cubro a primeira edição do bem-sucedido torneio lançado pelo presidente da Fifa, Gianni Infantino. Em vez de se unirem por uma seleção, como daqui a menos de um ano em 2026, a mobilização é por um compatriota inscrito. O apoio escapa do “CNPJ” e se concentra no CPF.

A paixão dos equatorianos residentes nos EUA, por exemplo, é emocionante. Eles lamentam a ausência na decisão do zagueiro Willian Pacho do Paris Saint-Germain. Expulso contra o Bayern de Munique nas quartas de final, ele foi punido pela Fifa com dois jogos de suspensão e não enfrentará o compatriota Moisés Caicedo na final de amanhã contra o Chelsea, às 16h, no MetLife Stadium, em New Jersey. 

Os equatorianos e torcedores de outros países chegam pelo menos quatro horas antes do apito final, pagam pelo estacionamento, param o veículo, abrem o carro e iniciam o churrasco pré-jogo no estilo deles, vestidos como se a Seleção do Equador fosse acessar o gramado. É a tal da sensação de pertencimento.

Fui ao hotel onde o Chelsea está hospedado e lá encontrei uma família equatoriana debruçada na grade de segurança. O casal e os dois filhos queriam muito ver, tocar, interagir com o volante Moisés Caicedo, um dos grandes nomes da campanha da equipe londrina na competição.

Henri, o chefe da família, falou com a esposa do jogador, entendeu o protocolo, mas não arrastou os pés da frente da concentração. Esperava pelo menos um aceno. “Se não acontecer, nós entenderemos perfeitamente. O importante é saber a importância dele (Caicedo) para o nosso povo e o quanto ele nos representa”, disse.

Encontrei na passagem pelo hotel do Paris Saint-Germain um torcedor com a bandeira da Geórgia, uma das ex-república da extinta União Soviética. Mais uma prova de pertencimento. O fã incondicional esperava pela passagem do meia-atacante Khvicha Kvaratskhelia. Ele soletrou.

A Copa do Mundo e Clubes reorganizou a maneira de torcer e os fãs entenderam. Ao contrário da Geórgia, o Equador tem tradição no futebol da América do Sul. A LDU tem uma Libertadores no currículo. Barcelona de Guayaquil e Independiente del Valle foram vices. A Geórgia está longe de ostentar time de ponta na Conference League, a terceira divisão entre os torneios continentais do Velho Mundo, atrás da Europa League e da Champions League.

Quarto colocado na Copa de 2022 e um dos anfitriões em 2030, Marrocos emplacou o Wydad Casablanca na fase de grupos, mas nos arredores dos estádios há uma multiplicação de camisas com o nome do lateral-direito Achraf Hakimi às costas. É a representação do país em campo no torneio — o orgulho marroquino.


 

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