
A sabedoria popular é clara: quem tem amigo, tem tudo. Mais do que certo. Há quem diga que sou exagerada quando digo que tenho amigos em todos os continentes — e é verdade. Eles estão por lá. Não preciso falar toda hora nem encontrar sempre, mas se eu procurar, estarão a postos. Digo isso nas situações mais improváveis. Acho que essa coisa de formar uma grande rede vem da minha família, meus pais vieram do interior, nas cidades pequenas todo mundo se conhece e, de um jeito ou de outro, se ajuda. Mesmo nascida em Brasília, "herdei" isso.
Sou igual ao humorista Paulo Vieira, segundo ele, com três pessoas, há festa, aí já reúno os amigos dos amigos, organizo uma comida boa, bebida de qualidade e peço para quem entende correr atrás da música. Também, para isso, a gente tem amigos. Assim, rapidinho, está tudo pronto e a felicidade instaurada, porque a vida é para ser celebrada. Nem precisa de motivo, basta viver. Não à toa, Fernando Pessoa eternizou: "Tudo vale a pena, se a alma não é pequena".
Para os amigos, tudo, os outros, bem, esses terão o que merece. O que eu mais gosto de ouvir são os espantos: "Mas ela é sua amiga? Tão diferente de você" ou "É mesmo seu amigo, tem certeza?". Adoro. Sabe por quê? Porque amigo de verdade é aquele que tem os mesmos princípios e valores que você, não precisa necessariamente pensar ou votar como você. Por sinal, esse deve ser o menor dos problemas.
Há alguns anos, estava fazendo um tratamento médico e o dinheiro acabou. Simplesmente evaporou, de repente minha amiga Tânia foi lá e disse: "Tenho milhas, vamos providenciar a passagem para São Paulo para você ir ao médico". Incrível. De uma outra vez, tive um problema qualquer e a Aninha, do alto de seu 1,50m de altura, veio me socorrer. Assim aconteceu com o Carlinhos, a Luiza, a Graça, a Paloma, o Paulo, o Leonardo, o Alexandre, o João, o Carlos...São tantos, que seria injusto deixar de citar alguém.
Justiça seja feita, também estou a postos para estender a mão para quem quer que seja. Não meço esforços para os amigos. Definitivamente, aquela história de que "parentes são os amigos da gente" faz muito sentido. É um amigo aqui que pede para revisar um texto, outro precisa da sua ajuda para dar uma forcinha em casa, um terceiro que surge e necessita urgente de apoio numa área que você tenha conhecimento.
Recentemente, reencontrei minha amiga Isabela, grande musicista. Não nos víamos há mais de quatro décadas, a pizza e os refrigerantes foram insuficientes para colocar tanto anos em dia num só jantar. O melhor dessa noite foi a sensação: parecia que o tempo não tinha passado, as afinidades e os afetos estavam ali guardadinhos e afloraram. Ela, agora, mãe de filhas adultas, mas com brilho nos olhos, exatamente como eu, quando fala do trabalho que faz e dos projetos que tem. É a confirmação de que amigo é aquele que você não precisa estar em contato, mas quando encontra, tem assunto e o tempo para — ou será que volta?
Opinião
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