
Poucas emoções são tão genuínas quanto aquelas proporcionadas pelo esporte. Quando celebramos a vitória de um atleta, vibramos com ele e por ele. Por todo o seu esforço, que normalmente é longo e continuado. Pela resiliência de uma vida, lutando por patrocínio, por melhores condições de treino, pela necessidade de ultrapassar seus próprios limites. Sobretudo, por não desistir diante de lesões, derrotas e outras adversidades. Atletas são, em si, provas de resistência. E isso se transfere para nós.
- Leia também: Negro pode! Negro é pop!
Caio Bonfim, o nosso atleta de ouro do atletismo, conquistou o pódio mais alto nos 20km de marcha atlética no Mundial de Atletismo de Tóquio, no Japão, na última sexta-feira. Antes, já havia ficado com a prata nos 35km. E, no ano passado, chegou na segunda colocação dos Jogos Olímpicos de Paris. Não é pouca coisa, amigos.
A vitória de Caio não é só dele. É dos pais, que o treinaram, e de toda a família, que o apoia. É de Sobradinho, onde vive e treina. É de Brasília e do Brasil. É do esporte. Sinto uma alegria enorme em acompanhar sua trajetória durante tantos anos pelas páginas do Correio.
Caio e seus pais, a ex-marchadora Gianetti Sena Bonfim e o técnico João Bonfim, estiveram na Redação do jornal há um mês, dias antes do embarque para a conquista da medalha de ouro no Japão. Ali, depois da entrevista a Marcos Paulo Lima, conheci mais de perto a história da família Bonfim, a começar pela luta contra o preconceito. Mais do que alegria, senti orgulho. O esporte nos dá essa satisfação pelo outro, pelo espetáculo, pela torcida e por toda a emoção que carrega.
Sou uma devota do esporte. Há alguns dias — e quem me conhece e me segue no Instagram sabe disso — sou agraciada pela alegria de ver meu time do coração, o Santa Cruz Futebol Clube, subir à Série C. Aqui mesmo, neste espaço, já rendi graças e até flertei com o rompimento definitivo com o Santa, por absoluto desespero. Mas me refiz e recoloquei meu time no pódio do coração.
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
Li com êxtase a matéria editada por Marcos Paulo Lima, relatando o jogo épico do Santinha contra o América (RN), em Natal. Marcão, que já revelou que se Flamengo acabasse hoje, torceria pelo Santa Cruz, comemorou aquele título tanto quanto eu. O Santinha provoca essas reações. Como explicar o amor que lota estádios mesmo nas piores fases do time? Como diriam o multi-instrumentista Jackson do Pandeiro e educador Paulo Freire, só para citar dois torcedores ilustres, a paixão pelo time da povão transcende a tudo.
Por que torcemos? Porque de alguma forma somos nós ali. Quando me perguntam de onde vem esse amor ou, se preferirem, a irritante perseverança, eu digo que vem do Colosso do Arruda, das idas com meu irmão amado Renato ao estádio José do Rego Maciel desde os 10 anos. Ali assisti aos maiores clássicos do futebol brasileiro nas décadas de 1970 e 1980. O Santa Cruz contém minhas memórias de infância: a charanga tocando o hino mais lindo que já ouvi; todos os palavrões do mundo que aprendi, o cachorro-quente "comeu, morreu", até o aperto nos dois ônibus na volta pra casa depois dos jogos.
- Leia também: A guerra está mais próxima
O Santa Cruz me ensina que desistir não é uma opção. O Caio me ensina que desistir não é uma opção. Os atletas nos ensinam isso todos os dias. E, ainda que algumas batalhas sejam perdidas, é preciso ter algo dentro da gente que diga constantemente para seguir em frente. O esporte faz isso por mim.
Saiba Mais
Opinião
Opinião
Opinião
Opinião
Opinião